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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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Crise valoriza ações na Bolsa de Bagdá e aquece mercado imobiliário

KIM SENGUPTA
DO "THE INDEPENDENT", EM BAGDÁ

Com uma guerra iminente e uma infra-estrutura industrial quebrada por anos de sanções, o mercado financeiro de Bagdá deveria estar paralisado há muito tempo. Mas as ações negociadas na Bolsa de Valores da capital iraquiana não param de subir, e o mercado imobiliário está superaquecido.
Nos últimos seis meses, o índice que mede a variação das ações na Bolsa de Valores de Bagdá subiu 58%, colocando o mercado do Iraque como um dos mais lucrativos do mundo. No mesmo período, as ações na Bolsa de Valores de Nova York tiveram uma queda média de 10%. Já as negociadas em Londres se desvalorizaram cerca de 16%.
E não são apenas as ações que estão em alta. Os mísseis Tomahawk e os bombardeiros B-52 podem estar a apenas alguns dias de distância, porém a capital iraquiana e as cidades de Basra e Mosul se tornaram pontos atraentes para o mercado imobiliário. O preço de um terreno em Bagdá subiu 20% nos últimos quatro meses, e, em alguns locais, o metro quadrado chega a US$ 270.
Mas não é apesar da crise, mas por causa dela, que esse boom está ocorrendo. Há uma crença entre investidores de que após os futuros acontecimentos, as coisas irão melhorar no Iraque. Ninguém dirá publicamente que a queda do ditador Saddam Hussein levará ao fim do embargo econômico contra o país, de mais de uma década, ao retorno dos lucros com o petróleo e a retomada de investimentos estrangeiros no Iraque.
Os negociantes preferem dizer que, com as inspeções da ONU, o "problema" acabará e os investimentos internacionais voltarão, trazendo desde organizações assistenciais a executivos, que precisarão de lugar para se instalarem.
A Bolsa de Valores, inaugurada há dez anos, não tem computadores, e as paredes cinzentas do local estão descascando.
O diretor da Bolsa, Abbas Fadhil, diz que "o mercado é novo e o volume de negócios é pequeno. Buscamos melhorar todo o tempo". Ele prefere não atribuir a uma possível "mudança de regime" a boa situação das ações.
"O governo tem sido bom para nós", diz. Porém o cenário positivo está longe de ser universal no Iraque. Alguns setores estão sofrendo com a iminência do conflito. Khalid Ali Qutub, que nunca ouviu falar da Bolsa de Valores, está quase fechando a sua pequena loja, pois, "graças à guerra", teme perder tudo.


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