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ANÁLISE
Ameaça não é a mesma para França e EUA
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
Os EUA e a França, principais
representantes dos grupos a favor
e contra a guerra, têm visões divergentes sobre a ameaça representada por Saddam Hussein e
como lidar com ela, o que torna
improvável um acordo efetivo no
Conselho de Segurança da ONU.
A França não considera o Iraque, após a Guerra do Golfo
(1991), uma real ameaça ao mundo e prefere contê-lo a arriscar
uma guerra que poderia causar
ainda mais problemas. Os EUA,
sob o governo George W. Bush e
após o 11 de setembro, estão decididos a colocar um ponto final na
novela entre a ONU e o Iraque.
Embora falem em desarmamento, querem o fim do regime.
A visão de que haveria um fosso
entre os dois países é compartilhada por dois especialistas em relações internacionais e questões
de segurança ouvidos pela Folha.
"Os EUA acham que o problema do Iraque deve ser resolvido
de uma vez por todas. A França
não vê solução definitiva e acha
que é preciso lidar com ele", diz
Jeremy Shapiro, do centro franco-americano do Instituto Brookings
(Washington).
"Os franceses não vêem o Iraque como uma real ameaça desde
1991. Gostariam de ver Saddam
desarmado ou fora do poder, mas
não estão tão preocupados quanto os americanos", afirma Alex
Macleod, da Universidade de
Québec (Canadá).
Segundo os entrevistados, a
França teme que a guerra estimule o terrorismo, aumente a instabilidade no Oriente Médio e aprofunde o conflito israelo-palestino.
E comparte esses temores com a
maioria dos cidadãos europeus.
"Para os franceses, a contenção
do Iraque está funcionando, com
avanços e recuos, e se hoje o Iraque representa uma ameaça menor do que em 1991 por que ir à
guerra?", diz Shapiro.
Mas ambos concordam haver
contradição entre a defesa veemente das inspeções pela França
agora e a maneira como o país se
comportou nos anos 90, quando
defendeu a flexibilização das sanções econômicas a Bagdá apesar
da falta de colaboração do Iraque.
"A França percebeu que não pode agir como se não houvesse real
ameaça porque nunca entraria
em acordo com os EUA. Concordou que as inspeções não foram
suficientes e estão defendendo
sua continuação", diz Macleod.
"EUA e França foram hipócritas
e incoerentes em relação ao Iraque [nos anos 80 e 90]. Mas o que
importa agora são as implicações
de uma guerra", diz Shapiro.
Os dois criticam, no entanto, a
França por não apresentar uma
alternativa que vá além do prosseguimento das inspeções. E como
os EUA estão decididos a acabar
com a novela iraquiana, não vêem
saída para o impasse na ONU.
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