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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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ANÁLISE

Ameaça não é a mesma para França e EUA

OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO

Os EUA e a França, principais representantes dos grupos a favor e contra a guerra, têm visões divergentes sobre a ameaça representada por Saddam Hussein e como lidar com ela, o que torna improvável um acordo efetivo no Conselho de Segurança da ONU.
A França não considera o Iraque, após a Guerra do Golfo (1991), uma real ameaça ao mundo e prefere contê-lo a arriscar uma guerra que poderia causar ainda mais problemas. Os EUA, sob o governo George W. Bush e após o 11 de setembro, estão decididos a colocar um ponto final na novela entre a ONU e o Iraque. Embora falem em desarmamento, querem o fim do regime.
A visão de que haveria um fosso entre os dois países é compartilhada por dois especialistas em relações internacionais e questões de segurança ouvidos pela Folha.
"Os EUA acham que o problema do Iraque deve ser resolvido de uma vez por todas. A França não vê solução definitiva e acha que é preciso lidar com ele", diz Jeremy Shapiro, do centro franco-americano do Instituto Brookings (Washington).
"Os franceses não vêem o Iraque como uma real ameaça desde 1991. Gostariam de ver Saddam desarmado ou fora do poder, mas não estão tão preocupados quanto os americanos", afirma Alex Macleod, da Universidade de Québec (Canadá).
Segundo os entrevistados, a França teme que a guerra estimule o terrorismo, aumente a instabilidade no Oriente Médio e aprofunde o conflito israelo-palestino. E comparte esses temores com a maioria dos cidadãos europeus.
"Para os franceses, a contenção do Iraque está funcionando, com avanços e recuos, e se hoje o Iraque representa uma ameaça menor do que em 1991 por que ir à guerra?", diz Shapiro.
Mas ambos concordam haver contradição entre a defesa veemente das inspeções pela França agora e a maneira como o país se comportou nos anos 90, quando defendeu a flexibilização das sanções econômicas a Bagdá apesar da falta de colaboração do Iraque.
"A França percebeu que não pode agir como se não houvesse real ameaça porque nunca entraria em acordo com os EUA. Concordou que as inspeções não foram suficientes e estão defendendo sua continuação", diz Macleod.
"EUA e França foram hipócritas e incoerentes em relação ao Iraque [nos anos 80 e 90]. Mas o que importa agora são as implicações de uma guerra", diz Shapiro.
Os dois criticam, no entanto, a França por não apresentar uma alternativa que vá além do prosseguimento das inspeções. E como os EUA estão decididos a acabar com a novela iraquiana, não vêem saída para o impasse na ONU.


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