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GUERRA SEM LIMITES
Segundo tribunal, Constituição não se aplica a estrangeiros fora de solo americano
EUA negam direitos a presos em Guantánamo
DA REDAÇÃO
Cidadãos kuaitianos, australianos e britânicos presos no Afeganistão em 2001 e detidos na base militar americana de Guantánamo (Cuba) não podem usar tribunais dos EUA para contestar a legalidade e as condições de seu
confinamento, decidiu anteontem um tribunal federal de apelações em Washington.
Segundo a decisão unânime, tomada por um conselho de três juízes e criticada por grupos de defesa dos direitos humanos, tribunais americanos não têm jurisdição para julgar processos de 12
kuaitianos, dois britânicos e dois
australianos, que estão sendo
mantidos presos sem acesso a advogados ou a suas famílias.
Os 16 estão entre os cerca de 600
integrantes do grupo extremista
islâmico Taleban e da rede terrorista Al Qaeda em Guantánamo.
Eles foram capturados durante a
campanha militar dos EUA no
Afeganistão depois dos atentados
de 11 de setembro de 2001.
"Eles não podem pedir sua libertação com base em violações à
Constituição dos EUA ou a tratados ou à lei federal; os tribunais
não estão abertos para eles", disse
o juiz A. Raymond, da Corte
Americana de Apelações para o
Distrito de Columbia.
Randolph afirmou na sentença
que nenhum tribunal americano
tem jurisdição para conceder habeas corpus aos detentos, mesmo
que eles não tivessem sido declarados inimigos dos EUA. "Não
vemos por que, ou como, o habeas corpus poderia estar disponível a estrangeiros fora dos EUA
quando proteções constitucionais
básicas não estão", escreveu.
O tribunal manteve uma sentença que afirmava que os processos não podiam ser julgados pois
o habeas corpus não estava disponível a estrangeiros presos fora do
território americano.
Os advogados dos detentos podem apelar à Suprema Corte dos
EUA nos próximos meses. Eles
alegam que a Constituição americana e leis internacionais proíbem
a detenção por tempo indefinido.
A sentença foi em grande parte
apoiada em uma decisão da Suprema Corte de 1950, segundo a
qual tribunais americanos não tinham jurisdição para avaliar processos movidos por prisioneiros
alemães presos durante a Segunda Guerra enquanto combatiam
com forças japonesas na China.
A decisão foi uma vitória para o
Departamento da Justiça dos
EUA, que afirma que os detentos
em Guantánamo não têm direitos
sob o sistema americano.
O secretário da Justiça americano, John Ashcroft, classificou a
detenção como "uma vitória importante na guerra ao terrorismo"
e acrescentou: "Em tempos de
guerra, o presidente precisa ser
capaz de proteger nosso país de
inimigos que querem prejudicar
americanos inocentes".
Washington afirma que as Convenções de Genebra, que regulam
o tratamento de prisioneiros de
guerra, não se aplicam aos detentos em Guantánamo, pois eles não
são soldados regulares.
Mas a decisão foi criticada por
diversos grupos de defesa dos direitos humanos. "Manter pessoas
detidas sem acusação e sem acesso a aconselhamento legal arrisca
criar um "gulag americano" para
os detidos durante a guerra ao terrorismo", afirmou a Anistia Internacional.
Param Cumaraswamy, um investigador especial de questões
judiciais para a Comissão da
ONU para os Direitos Humanos,
afirmou que a decisão implica que
Estados podem se negar a cumprir os direitos de suspeitos contanto que eles estejam detidos em
algum outro país.
"A detenção sem julgamento
ofende o primeiro princípio do
Estado de Direito. As implicações
dessa decisão são amplas e podem gerar um precedente perigoso", afirmou Cumaraswamy.
Com agências internacionais
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