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ECOS DO PASSADO
Alvos são "revolução laranja" na Ucrânia e "ingerência" dos EUA
Kremlin apóia grupo jovem "para defender a Rússia"
ANDREW OSBORN
DO "INDEPENDENT", EM MOSCOU
Uma nova e misteriosa organização de jovens que tem o apoio
do Kremlin e o título provisório
de Um de Nós foi criada para assegurar que a Rússia não caia vítima de uma "revolução de veludo"
ao estilo da que ocorreu na Ucrânia em dezembro do ano passado.
O grupo, conhecido como Nashi, está sendo anunciado como
vanguarda de um novo partido
político que pode ocupar o espaço
do Partido Rússia Unida, cuja utilidade como veículo do establishment vem sendo colocada em
questão.
O Nashi vai bater de frente com
uma aliança de grupos de jovens
anti-Kremlin. A idéia é que "atinja a maturidade" bem antes das
eleições presidenciais cruciais de
2008. Seus líderes, cujas identidades permanecem envoltas em segredo, teriam como objetivo "colocar 300 mil pessoas nas ruas para defender a Rússia" das ameaças da "governança externa", "revolução laranja" e "ingerência
americana".
Chutado no chão
Um fato significativo é que
consta que o grupo teria o apoio
de Vladislav Surkov, vice-diretor
da administração presidencial de
Vladimir Putin e homem freqüentemente visto como detentor
de enorme poder nos bastidores
da política russa.
Um evento que revoltou os organizadores do novo grupo foi
que o primeiro congresso do Nashi em Moscou, realizado no mês
passado em meio a rígido sigilo,
foi infiltrado pelo líder da ala jovem do partido liberal Yabloko,
Ilya Yashin.
Yashin, que é estudante, afirma
que foi expulso à força do congresso, teve seu rosto esfregado na
neve e foi repetidas vezes chutado,
enquanto estava deitado no chão.
Ele contou ao "Independent" que
planeja processar seus agressores
e disse que o incidente mostra que
o Kremlin vai começar a lançar
mão da violência física contra
seus adversários, na tentativa de
intimidá-los.
Os organizadores do Nashi descreveram as alegações de Yashin
como "engraçadas". Disseram
que ele tentou entrar no congresso depois de já ter sido expulso e
que foi apenas então que a tensão
explodiu. Vasily Yakemenko, um
dos principais ideólogos do grupo, afirmou ao "Independent":
"Precisamos tentar compreender
os métodos usados pelas pessoas
que se descrevem como "democratas'".
Um grupo de jovens apoiado
pelo Kremlin e que tem mais de
100 mil integrantes já existe e é encabeçado por Yakemenko. Ele
próprio já trabalhou na administração do Kremlin. Mas esse grupo, chamado Caminhando Juntos, teve sua imagem maculada
por uma campanha para "purificar a literatura russa", eliminando
livros vistos como "nocivos".
Também surgiram relatos de que
estudantes teriam sido coagidos a
ingressar nele por meio de sanções de suas universidades.
Esse grupo foi caricaturado recentemente pela criação, em São
Petersburgo, de uma agremiação
de jovens oposicionistas chamada
Caminhando sem Putin. Este se
uniu à ala liberal do Yabloko, e
consta que certas figuras do
Kremlin acreditam que a organização unificada estaria procurando seguir o modelo do grupo jovem sérvio Otpor e de sua versão
ucraniana, o Pora.
Ambos exerceram papéis fundamentais na transferência de poder em seus respectivos países.
Indagado sobre o Nashi, Yakemenko se mostrou relutante em
falar. Além de dizer que o objetivo
da organização é "modernizar o
país", tarefa que ele qualificou como "gigantesca", Yakemenko
afirmou que ainda é um pouco cedo para falar sobre sua existência
definitiva.
No entanto ele admitiu que sua
formação está sendo "discutida
ativamente". Na realidade, é segredo aberto o fato de que já foram promovidas reuniões, já foram produzidos folhetos -além
de outros materiais promocionais- e que o recrutamento de
participantes já começou.
Críticas
O nome da organização vem
sendo ridicularizado por seus adversários, que apontam a semelhança fonética entre "nashismo"
e "fascismo".
O jovem opositor Yashin disse
que a aparência do grupo é sinistra. "Não excluo a possibilidade
de choques (entre grupos jovens
rivais) no futuro. Estamos prevendo tempos de tumulto. O
principal objetivo dos nashistas é
nos assustar. Eles vão formar verdadeiras brigadas de choque (...)
que terão por objetivo garantir
que as pessoas tenham medo de
sair às ruas sob as bandeiras da
oposição", disse.
Yashin afirma que, tendo isso
em vista, a nova organização já recrutou skinheads. Ele também
disse que seu financiamento viria
de "oligarcas que têm medo de
perder seus negócios".
Escrevendo no jornal russo
"Moscow Times", o conhecido
comentarista Masha Gessen concordou que o nome do grupo
(Um de Nós) é alarmante. "Uma
organização que abertamente divide seu país entre "nós" e "eles" é
desprezível", afirmou.
Tradução de Clara Allain
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