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TENSÃO RACIAL
Prefeito proíbe habitantes de ir às ruas entre 20h e 6h, após protestos violentos contra morte de jovem negro
Cincinnati impõe toque de recolher
DA REDAÇÃO
O prefeito de Cincinnati, Charles Luken, declarou ontem estado
de emergência e decretou toque
de recolher devido aos violentos
protestos que atingiram a cidade,
no Estado americano de Ohio,
desde a última segunda-feira.
A população negra, cerca de
43% dos 330 mil habitantes de
Cincinnati, se revoltou com a
morte de um adolescente negro
desarmado, baleado por um policial branco.
O prefeito proibiu as pessoas de
saírem de suas casas das 20h às
6h. Apenas os cidadãos que estiverem indo ou voltando do trabalho serão autorizados a circular
pelas ruas da cidade. O toque de
recolher vai durar por tempo "indeterminado", segundo as autoridades locais.
"Apesar da boa vontade de alguns cidadãos, a violência é incontrolável e crescente. Há tiroteios por toda parte", disse o prefeito. "Isso está ficando cada vez
mais perigoso."
O toque de recolher vai afetar os
tradicionais rituais da Semana
Santa, com a suspensão das vigílias de fiéis hoje e no Sábado de
Aleluia.
O prefeito sugeriu que as pessoas fiquem em casa e "rezem pela cidade" em vez de ir à igreja.
Os primeiros protestos aconteceram na segunda-feira, mas a
partir do dia seguinte foram se
tornando cada vez mais violentos.
Houve quebra-quebra, saques a
lojas, incêndios, espancamento de
brancos e tiros foram disparados
contra policiais.
Estopim
O tumulto começou com a morte de Timothy Thomas, 19, negro
procurado pela polícia acusado
de contravenção. O policial Steve
Roach, 26, perseguia o suspeito
em uma ruela escura e disparou
um tiro que o atingiu no peito.
Roach afirmou a investigadores
que atirou no adolescente porque
achou que ele sacaria uma arma
durante a perseguição.
O incidente foi filmado pela polícia, mas a fita não ajuda a esclarecer o que de fato aconteceu devido à distância com que a câmera
registrou as imagens.
Desde 1995, 15 suspeitos negros
foram mortos pela polícia de Cincinnati. No mesmo período, nenhum branco foi morto por policiais em serviço.
Não é a primeira vez que os Estados Unidos vivem uma revolta
ligada a tensões raciais entre policiais e cidadãos.
O caso mais célebre aconteceu
em Los Angeles, em 1992, quando
a comunidade negra provocou
um quebra-quebra que deixou 54
mortos e provocou prejuízos de
mais de US$ 1 bilhão.
Os protestos aconteceram após
a absolvição na Justiça de policiais
brancos responsáveis pelo espancamento do motorista negro
Rodney King, em 1991.
Vandalismo
Desde o início dos tumultos em
Cincinnati, 82 pessoas foram presas, sendo 22 menores de idade.
Na noite de quarta-feira, um policial foi baleado, mas acabou salvo pela fivela de seu cinto, que
aparou a bala.
Em outro incidente grave, uma
motorista branca foi retirada de
seu carro e espancada até ser salva
por vizinhos. Carros foram virados e incendiados e lojas tiveram
seus vidros quebrados.
De acordo com a polícia, os
principais alvos dos saqueadores
foram as lojas de material esportivo, destinado ao público jovem.
"Eu percebo que muitas pessoas
que estão participando desses
atos não têm nenhuma demanda
social ou política, apenas fazem
isso pelo prazer de destruir. Posso
ver que elas estão se divertindo e
não há nada de divertido nisso",
disse o prefeito Luken.
Durante o anúncio das medidas
de emergência, alguns cidadãos
protestaram contra o prefeito,
chamando-o de "mentiroso".
"Porque não falamos da brutalidade policial? Essa violência só vai
acabar se a polícia for para a cadeia ou para o inferno", gritou um
homem, não identificado.
"Essa é a falta de civilidade que
está corroendo nossa comunidade", respondeu o prefeito.
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