São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2001

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TENSÃO RACIAL
Prefeito proíbe habitantes de ir às ruas entre 20h e 6h, após protestos violentos contra morte de jovem negro

Cincinnati impõe toque de recolher

DA REDAÇÃO

O prefeito de Cincinnati, Charles Luken, declarou ontem estado de emergência e decretou toque de recolher devido aos violentos protestos que atingiram a cidade, no Estado americano de Ohio, desde a última segunda-feira.
A população negra, cerca de 43% dos 330 mil habitantes de Cincinnati, se revoltou com a morte de um adolescente negro desarmado, baleado por um policial branco.
O prefeito proibiu as pessoas de saírem de suas casas das 20h às 6h. Apenas os cidadãos que estiverem indo ou voltando do trabalho serão autorizados a circular pelas ruas da cidade. O toque de recolher vai durar por tempo "indeterminado", segundo as autoridades locais.
"Apesar da boa vontade de alguns cidadãos, a violência é incontrolável e crescente. Há tiroteios por toda parte", disse o prefeito. "Isso está ficando cada vez mais perigoso."
O toque de recolher vai afetar os tradicionais rituais da Semana Santa, com a suspensão das vigílias de fiéis hoje e no Sábado de Aleluia.
O prefeito sugeriu que as pessoas fiquem em casa e "rezem pela cidade" em vez de ir à igreja.
Os primeiros protestos aconteceram na segunda-feira, mas a partir do dia seguinte foram se tornando cada vez mais violentos. Houve quebra-quebra, saques a lojas, incêndios, espancamento de brancos e tiros foram disparados contra policiais.

Estopim
O tumulto começou com a morte de Timothy Thomas, 19, negro procurado pela polícia acusado de contravenção. O policial Steve Roach, 26, perseguia o suspeito em uma ruela escura e disparou um tiro que o atingiu no peito.
Roach afirmou a investigadores que atirou no adolescente porque achou que ele sacaria uma arma durante a perseguição.
O incidente foi filmado pela polícia, mas a fita não ajuda a esclarecer o que de fato aconteceu devido à distância com que a câmera registrou as imagens.
Desde 1995, 15 suspeitos negros foram mortos pela polícia de Cincinnati. No mesmo período, nenhum branco foi morto por policiais em serviço.
Não é a primeira vez que os Estados Unidos vivem uma revolta ligada a tensões raciais entre policiais e cidadãos.
O caso mais célebre aconteceu em Los Angeles, em 1992, quando a comunidade negra provocou um quebra-quebra que deixou 54 mortos e provocou prejuízos de mais de US$ 1 bilhão.
Os protestos aconteceram após a absolvição na Justiça de policiais brancos responsáveis pelo espancamento do motorista negro Rodney King, em 1991.

Vandalismo
Desde o início dos tumultos em Cincinnati, 82 pessoas foram presas, sendo 22 menores de idade.
Na noite de quarta-feira, um policial foi baleado, mas acabou salvo pela fivela de seu cinto, que aparou a bala.
Em outro incidente grave, uma motorista branca foi retirada de seu carro e espancada até ser salva por vizinhos. Carros foram virados e incendiados e lojas tiveram seus vidros quebrados.
De acordo com a polícia, os principais alvos dos saqueadores foram as lojas de material esportivo, destinado ao público jovem.
"Eu percebo que muitas pessoas que estão participando desses atos não têm nenhuma demanda social ou política, apenas fazem isso pelo prazer de destruir. Posso ver que elas estão se divertindo e não há nada de divertido nisso", disse o prefeito Luken.
Durante o anúncio das medidas de emergência, alguns cidadãos protestaram contra o prefeito, chamando-o de "mentiroso".
"Porque não falamos da brutalidade policial? Essa violência só vai acabar se a polícia for para a cadeia ou para o inferno", gritou um homem, não identificado.
"Essa é a falta de civilidade que está corroendo nossa comunidade", respondeu o prefeito.


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