São Paulo, sábado, 13 de abril de 2002

Próximo Texto | Índice

Novo presidente dissolve Poderes

France Presse
O líder empresarial Pedro Carmona faz juramento como presidente da Venezuela, depois de golpe



Militares empossam o líder empresarial Pedro Carmona no lugar de Hugo Chávez, derrubado na madrugada de ontem



Carmona dissolve o Congresso, destitui toda a Suprema Corte e promete convocar eleições presidenciais e legislativas em breve


MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Após destituírem o presidente Hugo Chávez na madrugada de ontem, os militares venezuelanos empossaram como presidente interino do país o líder empresarial Pedro Carmona. Ele dissolveu o Congresso, destituiu todos os membros da Suprema Corte e prometeu convocar eleições presidenciais em um ano e legislativas até dezembro. Por decreto, ganhou poderes para dissolver os Poderes em todos os níveis -nacional, estadual e municipal.
Segundo um porta-voz de Carmona, o novo Congresso poderá reformar a Constituição, aprovada por Assembléia Constituinte dominada por chavistas, em 1999.
Os militares que deram o golpe, apoiados por amplos setores da sociedade civil, afirmaram que Chávez, 47, detido em quartel de Caracas, teria renunciado. Mas seus partidários e parentes contestaram a versão de renúncia.
O procurador-geral da República, Isaías Rodriguez, disse, antes de ser destituído, que Chávez ainda seria o presidente porque o Congresso precisaria aceitar sua renúncia. A filha de Chávez disse que ele não renunciou.
Carmona, 60, presidente da principal associação empresarial venezuelana, a Fedecámaras, prometeu respeitar as liberdades civis: "Todos sentirão que existe liberdade, pluralismo e respeito ao Estado de Direito".
O governo provisório anulou as demissões na estatal petrolífera PDVSA e um polêmico pacote de leis aprovado em dezembro -dois dos principais elementos das greves e dos protestos recentes contra Chávez.
Segundo relatos de oficiais, Chávez foi forçado a renunciar pelo alto comando militar após repressão a megaprotesto contra seu governo em Caracas, anteontem, terminar com a morte de ao menos 15 pessoas. Segundo os oficiais, Chávez teria ordenado milícias e a Guarda Nacional a atirar contra os manifestantes do alto de prédios. Os militares disseram que Chávez, que não apareceu em público ontem, será processado pelas mortes dos manifestantes.
Os militares afirmaram que as Forças Armadas não poderiam apoiar um governo que manda atirar em civis e que rejeitaram pedido do presidente para exilar-se em Cuba. Alegando temores de que pudesse haver uma reação armada ao golpe por parte de milícias chavistas, os militares lançaram uma grande caçada a ex-colaboradores de Chávez e membros de seu gabinete. Seu ministro do Interior, Ramon Rodriguez Chacin, foi preso.
Monsenhor Baltazar Porras, presidente da Conferência dos Bispos Católicos Romanos, disse que Chávez lhe telefonou à meia-noite de anteontem para pedir que ele lhe desse garantia de vida durante o levante militar.
Porras disse que Chávez estava preocupado porque os soldados "poderiam maltratá-lo ou coisa pior, como um banho de sangue".
A maioria dos países condenou a quebra da legalidade e pediu o retorno da democracia. Somente Cuba manifestou apoio a Chávez.
Líder de frustrado golpe militar em 1992, o coronel Chávez foi eleito presidente em 1998 numa campanha populista prometendo combater a pobreza, a corrupção e a criminalidade. Sua popularidade, que chegou a 80%, despencou com o fracasso de suas políticas, chegando a menos de 30%. Seu mandato iria até 2007.
Chávez hostilizou importantes setores da sociedade civil, como os empresários, a mídia, a Igreja Católica e os sindicatos, e vinha enfrentando crescente descontentamento militar.


Com agências internacionais



Próximo Texto: Golpe na Venezuela: Governo busca simpatizantes de Chávez
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.