São Paulo, sábado, 13 de abril de 2002

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Novo presidente é líder do empresariado

DA FRANCE PRESSE, EM CARACAS

O economista Pedro Carmona, 60, líder da ofensiva oposicionista que, desde dezembro passado, vinha solapando o governo de Hugo Chávez, emergiu ontem como o presidente do governo de transição da Venezuela.
Pedro Carmona Estanga, diretor da Fedecámaras, entidade que representa o empresariado venezuelano, tem uma longa trajetória no setor petroquímico e identifica-se com a velha política tradicional, tendo militado no partido democrata-cristão Copei.
Em sua carreira, destacam-se os cargos de direção que já ocupou nas empresas Aditivos Orinoco, Venoco, Química Venoco e Promotora Venoco, todas elas do setor petroquímico. No setor público, Carmona foi presidente do Conselho Consultivo Empresarial Andino (2000-2001) e membro do Conselho de Direção do Instituto de Estudos Superiores de Administração de Empresas (Iesa), uma das mais respeitadas entidades entre as autoridades econômicas neoliberais locais.
Além disso, Carmona já ocupou cargos de direção na Comissão do Acordo de Cartagena, na Corporação Andina de Fomento (CAF), no Instituto de Comércio Exterior, no Sistema Econômico Latino-Americano (Sela) e na Associação Latino-Americana de Livre Comércio (Alalc). Ele também exerceu cargos no Ministério das Relações Exteriores e foi delegado negociador em foros internacionais do comércio exterior.
Nascido em Barquisimeto, centro-oeste da Venezuela, em 6 de junho de 1941, Carmona tornou-se conhecido, em novembro de 2001, ao contestar um pacote de 49 leis promulgadas por decreto no limite da vigência dos poderes especiais outorgados ao então presidente, Hugo Chávez, pela Assembléia Nacional, de maioria governista. As leis mais polêmicas do pacote eram as relativas à terra, à pesca e aos derivados do petróleo. Foram muito mal recebidas pelo empresariado, que as considerou estatizantes.
Carmona enfrentou o presidente, convocando uma greve nacional de 12 horas para 10 de dezembro. A greve contou com o respaldo do social-democrata Carlos Ortega, presidente da maior central sindical do país, a Confederação de Trabalhadores da Venezuela (CVT). O êxito dessa paralisação reativou a oposição política venezuelana e propiciou uma escalada de ações que radicalizou a situação no país, acentuando o abismo entre os detratores e os partidários de Chávez.
Com um discurso sereno, Carmona exortou o presidente a trocar seu discurso agressivo e ameaçador por um tom mais aberto ao diálogo. O dirigente empresarial denunciou a "ausência de consulta e de respeito pelos princípios da participação cidadã previsto pela Constituição e pelas leis", diante dos chamados de Chávez a seus seguidores, em dezembro, para que respondessem à greve convocada com uma "contrapasseata". Descreveu seus detratores como "esquálidos" e "oligarcas".
Desde então, as aparições públicas de Carmona nos meios de comunicação foram se multiplicando, quase sempre tecendo críticas a Chávez, e sua imagem se transformou em ponto de referência de uma oposição que, nos três anos e dois meses do governo de Chávez, tropeçou diversas vezes em suas tentativas de unir-se.
Piloto amador, casado há mais de 25 anos e pai de um filho, Carmona voltou a opor-se a Chávez, em 4 de abril último, ao manifestar seu apoio aos gerentes da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA), que, na semana passada, iniciaram uma greve em repúdio à designação de sua nova junta diretora pelo presidente.
No último final da semana, a CTV anunciou uma nova greve geral de 24 horas para terça-feira passada, e ele não hesitou em prometer o apoio do empresariado à paralisação. A greve se prolongou por 48 horas e, na noite de quarta-feira, foi declarada "por tempo indeterminado", aumentando a pressão sobre Chávez.
Anteontem, Carmona e Ortega intensificaram a pressão sobre o presidente, exigindo sua renúncia e liderando uma marcha de dezenas de milhares de opositores pelo centro de Caracas, até o Palácio de Miraflores, a residência presidencial.
O dramático impasse chegou a seu clímax sangrento quando foram registrados enfrentamentos entre opositores e partidários de Chávez, enquanto supostos partidários do presidente disparavam contra a multidão, deixando pelo menos 15 mortos e 95 feridos.
Os acontecimentos provocaram uma sucessão de pronunciamentos dos altos escalões militares, retirando seu apoio a Chávez e obrigando-o a renunciar.
Na madrugada de ontem, depois de dramáticas negociações no Forte Tiuna -principal praça militar de Caracas, onde Chávez permanece detido-, Carmona emergiu como líder de um governo de transição, anunciando que "pelo consenso de forças da sociedade civil venezuelana e das forças armadas, me foi pedido que eu lidere o país".


Tradução de Clara Allain


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