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Novo presidente é líder do empresariado
DA FRANCE PRESSE, EM CARACAS
O economista Pedro Carmona,
60, líder da ofensiva oposicionista
que, desde dezembro passado, vinha solapando o governo de Hugo Chávez, emergiu ontem como
o presidente do governo de transição da Venezuela.
Pedro Carmona Estanga, diretor da Fedecámaras, entidade que
representa o empresariado venezuelano, tem uma longa trajetória
no setor petroquímico e identifica-se com a velha política tradicional, tendo militado no partido
democrata-cristão Copei.
Em sua carreira, destacam-se os
cargos de direção que já ocupou
nas empresas Aditivos Orinoco,
Venoco, Química Venoco e Promotora Venoco, todas elas do setor petroquímico. No setor público, Carmona foi presidente do
Conselho Consultivo Empresarial
Andino (2000-2001) e membro do
Conselho de Direção do Instituto
de Estudos Superiores de Administração de Empresas (Iesa),
uma das mais respeitadas entidades entre as autoridades econômicas neoliberais locais.
Além disso, Carmona já ocupou
cargos de direção na Comissão do
Acordo de Cartagena, na Corporação Andina de Fomento (CAF),
no Instituto de Comércio Exterior, no Sistema Econômico Latino-Americano (Sela) e na Associação Latino-Americana de Livre
Comércio (Alalc). Ele também
exerceu cargos no Ministério das
Relações Exteriores e foi delegado
negociador em foros internacionais do comércio exterior.
Nascido em Barquisimeto, centro-oeste da Venezuela, em 6 de
junho de 1941, Carmona tornou-se conhecido, em novembro de
2001, ao contestar um pacote de
49 leis promulgadas por decreto
no limite da vigência dos poderes
especiais outorgados ao então
presidente, Hugo Chávez, pela
Assembléia Nacional, de maioria
governista. As leis mais polêmicas
do pacote eram as relativas à terra, à pesca e aos derivados do petróleo. Foram muito mal recebidas pelo empresariado, que as
considerou estatizantes.
Carmona enfrentou o presidente, convocando uma greve nacional de 12 horas para 10 de dezembro. A greve contou com o respaldo do social-democrata Carlos
Ortega, presidente da maior central sindical do país, a Confederação de Trabalhadores da Venezuela (CVT). O êxito dessa paralisação reativou a oposição política
venezuelana e propiciou uma escalada de ações que radicalizou a
situação no país, acentuando o
abismo entre os detratores e os
partidários de Chávez.
Com um discurso sereno, Carmona exortou o presidente a trocar seu discurso agressivo e ameaçador por um tom mais aberto ao
diálogo. O dirigente empresarial
denunciou a "ausência de consulta e de respeito pelos princípios da
participação cidadã previsto pela
Constituição e pelas leis", diante
dos chamados de Chávez a seus
seguidores, em dezembro, para
que respondessem à greve convocada com uma "contrapasseata".
Descreveu seus detratores como
"esquálidos" e "oligarcas".
Desde então, as aparições públicas de Carmona nos meios de comunicação foram se multiplicando, quase sempre tecendo críticas
a Chávez, e sua imagem se transformou em ponto de referência de
uma oposição que, nos três anos e
dois meses do governo de Chávez,
tropeçou diversas vezes em suas
tentativas de unir-se.
Piloto amador, casado há mais
de 25 anos e pai de um filho, Carmona voltou a opor-se a Chávez,
em 4 de abril último, ao manifestar seu apoio aos gerentes da estatal Petróleos de Venezuela
(PDVSA), que, na semana passada, iniciaram uma greve em repúdio à designação de sua nova junta diretora pelo presidente.
No último final da semana, a
CTV anunciou uma nova greve
geral de 24 horas para terça-feira
passada, e ele não hesitou em prometer o apoio do empresariado à
paralisação. A greve se prolongou
por 48 horas e, na noite de quarta-feira, foi declarada "por tempo indeterminado", aumentando a
pressão sobre Chávez.
Anteontem, Carmona e Ortega
intensificaram a pressão sobre o
presidente, exigindo sua renúncia
e liderando uma marcha de dezenas de milhares de opositores pelo centro de Caracas, até o Palácio
de Miraflores, a residência presidencial.
O dramático impasse chegou a
seu clímax sangrento quando foram registrados enfrentamentos
entre opositores e partidários de
Chávez, enquanto supostos partidários do presidente disparavam
contra a multidão, deixando pelo
menos 15 mortos e 95 feridos.
Os acontecimentos provocaram
uma sucessão de pronunciamentos dos altos escalões militares, retirando seu apoio a Chávez e obrigando-o a renunciar.
Na madrugada de ontem, depois de dramáticas negociações
no Forte Tiuna -principal praça
militar de Caracas, onde Chávez
permanece detido-, Carmona
emergiu como líder de um governo de transição, anunciando que
"pelo consenso de forças da sociedade civil venezuelana e das forças armadas, me foi pedido que eu lidere o país".
Tradução de Clara Allain
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