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Pressão popular derruba 5 presidentes
RANDY NIEVES
DA FRANCE PRESSE
As profundas crises na Venezuela e na Argentina marcam um
novo ciclo de instabilidade política na América Latina, caracterizado pela eclosão da cidadania nas
ruas, após a derrocada dos partidos tradicionais e com os militares já não aspirando mais ao poder político.
Cinco presidentes latino-americanos, eleitos nas urnas, sucumbiram nos últimos três anos à ira da
cidadania, nascida de um profundo descontentamento político e
social.
O presidente venezuelano deposto Hugo Chávez, que assinou a
certidão de óbito dos desprestigiados partidos tradicionais da
Venezuela com grandes triunfos
eleitorais, caiu quando ainda faltavam quatro anos para cumprir
o seu mandato. O caudilho, de 47
anos, foi derrubado ante uma heterogênea aliança de empresários,
dirigentes sindicais tradicionais,
meios de comunicação, a igreja e
desafetos entre os militares.
Seu governo caiu após uma greve geral de três dias que culminou
anteontem com uma gigantesca
manifestação que entrou em choque com partidários do então presidente nos arredores do palácio,
deixando um saldo de ao menos
15 mortos.
No fim do ano passado, na Argentina, sucederam-se três presidentes (sem contar dois interinos) na Casa Rosada, a sede do
governo argentino, em meio aos
panelaços de uma classe média
desiludida com a corrupção e o
desgoverno dos partidos políticos, que deixaram o país em bancarrota.
Anteriormente, as disputas de
grupos no poder no Paraguai e no
Peru levaram os civis às ruas em
protesto. O resultado foi o término do governo de Raúl Cubas no
Paraguai, em 1999, e de Alberto
Fujiomori, no Peru, em 2000.
A crise dos partidos políticos
tradicionais peruanos havia permitido a permanência de Fujimori durante uma década no poder,
com três eleições consecutivas. O
Partido Colorado paraguaio, no
entanto, se debate ainda com uma
profunda crise após quase meio
século no poder.
Em janeiro de 2000, caiu o presidente equatoriano Jamil Mahuad,
devido a um levante de indígenas
e militares, que não teve raiz em
um golpe de Estado tradicional.
Uma década depois de o ditador
chileno Augusto Pinochet (1973-90) entregar o poder no Chile,
marcando o fim dos golpes militares que dominaram a política
latino-americana por décadas, a
endêmica instabilidade política
na região ressurgiu, mas desta vez
com um novo rumo.
Argentina
Violentos distúrbios levaram o
presidente argentino Fernando
de la Rúa a deixar o poder na metade de seu mandato, em 20 de dezembro do ano passado.
Após 43 meses de recessão e de
insuportável nível de desemprego, De la Rúa deu seu primeiro
passo em direção ao abismo em 3
de dezembro de 2001, quando
congelou os depósitos bancários
para frear a sangria de divisas. O
"corralito", como os argentinos
denominaram esse congelamento, desesperou a classe média.
Os argentinos se lançaram às
ruas para exigir seu dinheiro, mas
o governo, tentando evitar a quebra dos bancos, se manteve impassível.
Peru
Também a ira popular acabou
com o governo de Fujimori no Peru. Ele precisou fugir de seu país
para o Japão em meio ao caos social. Após conquistar seu terceiro
mandato em uma eleição classificada como fraudulenta pela oposição, que boicotou o segundo
turno, o ex-presidente peruano
afundou em setembro de 2000
com divulgação de fitas mostrando a corrupção no seu governo.
No Equador, a causa da queda
de Mahuad foram os levantes indígenas e de militares. O ex-presidente não deu atenção aos reclamos das comunidades indígenas.
Paraguai
No Paraguai, uma luta no Partido Colorado culminou no assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, atribuído a Cubas e a
seu padrinho político, o ex-general Lino Oviedo.
Três dias após o crime, em março de 1999, a classe média paraguaia foi para as ruas de Assunção
e sete pessoas morreram a tiros na
praça do Congresso, supostamente por disparos de franco-atiradores oviedistas.
Ante a pressão popular, Cubas
entregou o poder para o senador
Luís González Machi, e fugiu para
o Brasil. Oviedo, por sua vez, foi
para a Argentina.
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