São Paulo, sábado, 13 de abril de 2002

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Pressão popular derruba 5 presidentes

RANDY NIEVES
DA FRANCE PRESSE

As profundas crises na Venezuela e na Argentina marcam um novo ciclo de instabilidade política na América Latina, caracterizado pela eclosão da cidadania nas ruas, após a derrocada dos partidos tradicionais e com os militares já não aspirando mais ao poder político.
Cinco presidentes latino-americanos, eleitos nas urnas, sucumbiram nos últimos três anos à ira da cidadania, nascida de um profundo descontentamento político e social.
O presidente venezuelano deposto Hugo Chávez, que assinou a certidão de óbito dos desprestigiados partidos tradicionais da Venezuela com grandes triunfos eleitorais, caiu quando ainda faltavam quatro anos para cumprir o seu mandato. O caudilho, de 47 anos, foi derrubado ante uma heterogênea aliança de empresários, dirigentes sindicais tradicionais, meios de comunicação, a igreja e desafetos entre os militares.
Seu governo caiu após uma greve geral de três dias que culminou anteontem com uma gigantesca manifestação que entrou em choque com partidários do então presidente nos arredores do palácio, deixando um saldo de ao menos 15 mortos.
No fim do ano passado, na Argentina, sucederam-se três presidentes (sem contar dois interinos) na Casa Rosada, a sede do governo argentino, em meio aos panelaços de uma classe média desiludida com a corrupção e o desgoverno dos partidos políticos, que deixaram o país em bancarrota.
Anteriormente, as disputas de grupos no poder no Paraguai e no Peru levaram os civis às ruas em protesto. O resultado foi o término do governo de Raúl Cubas no Paraguai, em 1999, e de Alberto Fujiomori, no Peru, em 2000.
A crise dos partidos políticos tradicionais peruanos havia permitido a permanência de Fujimori durante uma década no poder, com três eleições consecutivas. O Partido Colorado paraguaio, no entanto, se debate ainda com uma profunda crise após quase meio século no poder.
Em janeiro de 2000, caiu o presidente equatoriano Jamil Mahuad, devido a um levante de indígenas e militares, que não teve raiz em um golpe de Estado tradicional.
Uma década depois de o ditador chileno Augusto Pinochet (1973-90) entregar o poder no Chile, marcando o fim dos golpes militares que dominaram a política latino-americana por décadas, a endêmica instabilidade política na região ressurgiu, mas desta vez com um novo rumo.

Argentina
Violentos distúrbios levaram o presidente argentino Fernando de la Rúa a deixar o poder na metade de seu mandato, em 20 de dezembro do ano passado.
Após 43 meses de recessão e de insuportável nível de desemprego, De la Rúa deu seu primeiro passo em direção ao abismo em 3 de dezembro de 2001, quando congelou os depósitos bancários para frear a sangria de divisas. O "corralito", como os argentinos denominaram esse congelamento, desesperou a classe média.
Os argentinos se lançaram às ruas para exigir seu dinheiro, mas o governo, tentando evitar a quebra dos bancos, se manteve impassível.

Peru
Também a ira popular acabou com o governo de Fujimori no Peru. Ele precisou fugir de seu país para o Japão em meio ao caos social. Após conquistar seu terceiro mandato em uma eleição classificada como fraudulenta pela oposição, que boicotou o segundo turno, o ex-presidente peruano afundou em setembro de 2000 com divulgação de fitas mostrando a corrupção no seu governo.
No Equador, a causa da queda de Mahuad foram os levantes indígenas e de militares. O ex-presidente não deu atenção aos reclamos das comunidades indígenas.

Paraguai
No Paraguai, uma luta no Partido Colorado culminou no assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, atribuído a Cubas e a seu padrinho político, o ex-general Lino Oviedo.
Três dias após o crime, em março de 1999, a classe média paraguaia foi para as ruas de Assunção e sete pessoas morreram a tiros na praça do Congresso, supostamente por disparos de franco-atiradores oviedistas.
Ante a pressão popular, Cubas entregou o poder para o senador Luís González Machi, e fugiu para o Brasil. Oviedo, por sua vez, foi para a Argentina.



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