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GOLPE NA VENEZUELA
Diretor da estatal petroleira, demitido por Chávez, insinua desrespeito a limite de produção de óleo; lei que afasta capital externo pode cair
Golpe deve reabrir mercado e afetar Opep
DA REDAÇÃO
DO "FINANCIAL TIMES"
O governo interino da Venezuela deve relaxar os limites de produção de petróleo definidos pela
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O país
também deve voltar a abrir seu setor de petróleo ao capital estrangeiro. O deposto presidente Hugo
Chávez havia limitado a participação do capital externo no petróleo e aumentado os impostos e
royalties que petroleiras estrangeiras deviam pagar ao governo.
Mas, como 80% das exportações venezuelanas dependem do
petróleo e uma recessão está à vista, o governo deve tomar cuidado
com medidas que possam reduzir
demais os preços do produto.
Ainda assim, o mercado já acredita que a queda de Hugo Chávez
deve baratear o barril de óleo. Ontem mesmo, o diretor de vendas
da estatal petroleira, a PDVSA,
Edgar Paredes, afirmava que a política da empresa não será orientada pelas cotas da Opep, mas pelas condições de mercado. Paredes e outros seis diretores da empresa haviam sido demitidos por
Chávez, o que provocou a greve
da PDVSA e ajudou a detonar as
manifestações que levaram ao
golpe da madrugada de ontem.
Roger Diwan, da Petroleum Finance Company, uma empresa de
Washington, disse que foi na Venezuela "a primeira vez em que
uma companhia petroleira nacional derrubou um governo".
"Não vamos falar de cotas. Vamos falar das possibilidades que a
Venezuela tem no negócio de petróleo. Se nós temos os recursos e
o mercado oferece condições, vamos tirar vantagem disso", disse
ontem Paredes.
Interesse estrangeiro
Uma lei aprovada em novembro irritou as empresas do setor
ao elevar a alíquota dos royalties
(devidos ao governo mesmo que
não haja lucros) de 16% para 30%
e ao restringir a participação estrangeira em empreendimentos
na área de derivados de petróleo
para 49%. O novo governo já revogou a lei, que será revista.
"A lei vai mudar", diz Diwan, da
Petroleum Finance. "Está fora de
dúvida. As coisas vão ficar muito
mais convenientes para o investidor em termos de royalties e impostos". O volume de novos investimentos estrangeiros caiu
quase a zero, exceto em alguns
projetos de petróleo pesado excluídos das restrições da Opep e
merecedores de tratamento tributário especial pelo governo.
Ainda na semana passada, o vice-ministro da Energia venezuelano estava em Londres para fazer
lobby com a Shell, que, com a MobilExxon e a Mitsubishi, estaria
interessada em prospectar petróleo na plataforma costeira venezuelana. A tarefa do funcionário
não foi facilitada pela decisão de
seu governo de elevar a participação estatal nesse tipo de projeto
de 33% para 60%.
Limites da Opep
Sob Chávez, a Venezuela assumiu a liderança diplomática na
Opep e passou a cumprir rigorosamente as cotas de produção definidas pela organização. Ali Rodriguez foi ministro do Petróleo
de Chávez antes de se tornar secretário-geral da Opep, em 2001.
Chávez inverteu a abertura do
setor petroleiro, que foi mantida
entre 1995 e 1998 sob o governo
do presidente Rafael Caldera. Ela
também foi acompanhada por
uma queda considerável no nível
de produção. No processo, a Venezuela, dona de um dos piores
históricos de cumprimento dos
acordos de cotas da Opep, passou
a ter o melhor desempenho.
A PDVSA foi uma das forças
propulsoras da política de abertura, mas se queixava de tributação
excessiva e de falta de injeções de
capital de seu controlador, o Estado, de 1998 para cá.
Mas o novo governo enfrenta
agudos problemas fiscais. Dada a
sua dependência do petróleo como fonte de receita fiscal, será cuidadoso quanto a qualquer impacto que mudanças políticas possam causar ao mercado petroleiro. Como resultado, talvez não
volte a demonstrar o desdém em
relação à Opep demonstrado antes do governo Chávez.
Mesmo assim, na sede da Opep
em Viena, havia certo nervosismo
quanto às implicações da mudança na liderança venezuelana para
o cartel. Ali Rodriguez cancelou
uma viagem à Espanha hoje para
esperar pelos novos desdobramentos em Caracas.
Tradução de Paulo Migliacci
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