São Paulo, sábado, 13 de abril de 2002

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ANÁLISE

Queda de Chávez revela os poderes da estatal petroleira

DO "FINANCIAL TIMES"

A Petróleos de Venezuela (PDVSA), estatal petroleira venezuelana, ajudou a derrubar Hugo Chavez, de modo que deixou claro que seu poder não deveria ter sido subestimado. No entanto, acreditar que a empresa poderia, com a mesma facilidade, derrubar o controle da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) sobre o volume de produção de óleo é provavelmente um exagero.
Claro, Chavez era um dos homens fortes da Opep. Quando ele assumiu a presidência, em 1998, o petróleo cru Brent estava cotado a US$ 10 o barril e o petróleo cru pesado que a Venezuela extrai tinham preço bem inferior a esse, a cotação principal do mercado de Londres. A derrocada dos preços se seguiu à batalha da Venezuela com a Arábia Saudita por uma maior participação no mercado de petróleo. Tal crise, enfim, contribuiu para a queda de 6,1% no PIB venezuelano, em 1999.
A economia venezuelana uma vez mais dirige-se para uma recessão. Mas, dessa vez, o petróleo está cotado em torno de US$ 25 o barril, em parte graças à influência da Venezuela sobre a Opep e países produtores de petróleo que não são parte da organização, como o México. Um colapso nos preços seria brutal para a economia, e qualquer governo não eleito que decidisse abandonar as cotas de produção estipuladas estaria cometendo um ato de loucura.

A estatal que manda no país
Outro fator que restringe as ações da PDVSA é o fato de que a empresa dispõe de um excedente de apenas 500 mil barris diários para bombear além de sua cota de 2,5 milhões de barris ao dia. Não é por nada que a empresa detestava Chavez: o ex-presidente a privou de fundos para investimento.
No entanto, os acontecimentos recentes provam que a PDVSA não pretende se comportar como cachorrinho obediente de ninguém. Há quem diga que a estatal trata a Venezuela como uma subsidiária. Chavez se deu mal ao rejeitar o anseio da empresa por independência operacional, como é o caso da estatal brasileira do petróleo. Como qualquer outra petroleira, a empresa quer produzir mais. Isso significa que é possível que exceda as cotas definidas pela Opep, mas provavelmente não o suficiente para causar um colapso nos preços do produto.
O que se pode afirmar com alguma segurança é que a incerteza eliminará parte do presente ágio nos preços do petróleo, uma alta que vinha sendo atribuída à coesão dos integrantes da Opep. Para os produtores, há o risco de que isso perturbe os fundos de hedge, que têm posições precárias no mercado futuro de petróleo.


Tradução de Paulo Migliacci


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