São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2004

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Sob pressão, Bush dá entrevista hoje

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Criticado em duas frentes -a da Guerra do Iraque e a dos esforços pré-11 de Setembro-, o presidente George W. Bush anunciou que realizará hoje à noite sua primeira coletiva de imprensa formal do ano para, segundo disse, discutir a atual situação no Iraque, onde os EUA enfrentam um levante de sunitas e xiitas.
Bush tem sido criticado por ter deixado a cena pública na semana passada, refugiando-se no seu rancho no Texas, justo quando os EUA sofriam os piores ataques no Iraque desde a tomada de Bagdá, há pouco mais de um ano.
A possibilidade de a atual administração levar adiante seu plano de transferência de soberania para os iraquianos no fim de junho tem sido questionada, embora Bush já tenha dito que não abre mão de realizá-la.
Esse tipo de coletiva formal só aconteceu duas vezes sob Bush -um mês após os ataques do 11 de Setembro e na véspera da invasão do Iraque, em 2003.
"Atravessamos um período crítico no Iraque e o presidente anseia por falar com o povo americano", disse um porta-voz.
Em outra frente, numa manobra para tentar diminuir o volume de críticas sobre a suposta falta de atenção da Casa Branca às ameaças terroristas antes do 11 de Setembro, Bush disse ontem que "talvez seja o momento" para reformar os serviços de inteligência.
A declaração reforça a tentativa feita pela assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, de atribuir a "falhas estruturais" de comunicação entre o FBI (polícia federal dos EUA) e a CIA (agência de inteligência) parte da responsabilidade pelos lapsos de segurança que permitiram os atentados.
Pressionado, o governo liberou no sábado um documento recebido pelo presidente em 6 de agosto de 2001 que alertava sobre atividades da Al Qaeda dentro dos EUA, mencionando a possibilidade de seqüestro de aviões e a "observação", feita pela organização terrorista, de prédios em Nova York.
Mas o documento também dizia que o FBI estava realizando 70 investigações sobre as ações da Al Qaeda no país. A administração Bush tenta agora empurrar para o órgão supostas falhas que possam ter permitido os ataques.
Em entrevista ao lado do presidente do Egito, Hosni Mubarak, que visita os EUA, Bush disse esperar recomendações da comissão independente sobre possíveis reformas. "Os depoimentos são positivos, particularmente quando tratam de pontos fracos do sistema [de inteligência]."
Os ex-diretores do FBI Louis Freeh e Thomas Pickard vão depor hoje na comissão parlamentar que investiga as medidas tomadas pelo governo antes do 11 de Setembro. Em artigo no "Wall Street Journal", ontem, Freeh reagiu à tentativa de atribuir falhas ao órgão, afirmando que o FBI "realizou seu trabalho de perseguir terroristas, sempre com o objetivo de impedir seus ataques". E disse: "A questão para a comissão é saber por que nossa liderança política declarou guerra à Al Qaeda só depois do 11 de Setembro".

Retirada israelense
Bush e Mubarak declararam considerar positiva a retirada de Israel da faixa de Gaza -anunciada pelo premiê israelense, Ariel Sharon-, mas afirmaram que a medida não substitui a aplicação do plano de paz que prevê a criação do Estado palestino em 2005. Bush se encontrará com Sharon amanhã para discutir a execução do plano.


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