São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2006

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"EIXO DO MAL"

País é condenado até pelos aliados China e Rússia, mas diz que meta é enriquecer urânio em escala industrial

Irã ignora críticas; Rice pede "medidas duras"

Irna/Reuters
O iraniano Ahmadinejad acena a simpatizantes ao deixar a cidade de Mahvelat em helicóptero


DA REDAÇÃO

O anúncio feito na terça-feira pelo Irã, de que pela primeira vez conseguira enriquecer urânio -processo destinado à produção de combustível nuclear-provocou condenação quase unânime da comunidade internacional, incluindo de China e Rússia, países que mantêm fortes laços com Teerã e geralmente são comedidos nas críticas.
Ontem a república islâmica manteve o tom de desafio, reafirmando que sua intenção é colocar em funcionamento milhares de centrífugas nos próximos anos para alcançar o enriquecimento de urânio em escala industrial.
As preocupações com o programa nuclear iraniano passaram a um novo estágio com o anúncio do Irã de que já começou a produzir combustível nuclear. Começando pelos EUA, maior defensor de sanções contra o país, e passando pelos principais países europeus, até China e Rússia, que até hoje barraram ações punitivas no Conselho de Segurança da ONU, todos condenaram o Irã.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, pediu "medidas fortes" do Conselho de Segurança. Perguntado se Rice estava defendendo a aplicação de sanções, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, limitou-se a dizer que os EUA estavam em consultas com os outros membros permanentes do Conselho -Reino Unido, França, China e Rússia.
Para o embaixador dos EUA na ONU, John Bolton, embora haja diferenças entre os membros permanentes do CS sobre como lidar com o problema, todos concordam que o regime islâmico não deveria ter a bomba. "O risco que o Irã oferece por dominar o ciclo nuclear", disse Bolton, "é o de que a decisão de acumular urânio enriquecido suficiente para construir uma bomba atômica fica inteiramente em suas mãos. Deixar a capacidade nuclear potencial nas mãos do principal patrocinador mundial de terror não é uma perspectiva feliz."

Divisões
As divisões, contudo, devem continuar tornando difícil a adoção de medidas mais duras contra o Irã. O embaixador da China na ONU, Wang Guangya, que ontem reuniu jornalistas para fazer uma dura condenação a um dos principais fornecedores de petróleo de Pequim, reiterou que ainda aposta no caminho diplomático. "Acredito que falar sobre sanções militares não será útil nas atuais circunstâncias", disse.
O governo russo aderiu às críticas, mas sugeriu que seria mais prudente aguardar o relatório do chefe da Agência Internacional de Energia Atômica AIEA), Mohamed el Baradei, que chegou ontem a Teerã para consultas.
O subchefe do programa nuclear iraniano, Muhammad Saeedi, relatou à AIEA que a meta é colocar em funcionamento 3.000 centrífugas até o fim deste ano, chegando no futuro a 54 000.
O presidente Mahmoud Ahmadinejad desprezou as críticas.
"Hoje nossos inimigos estão irritados porque não conseguiram bloquear o caminho de nossa nação rumo à tecnologia nuclear", disse o presidente.
O Conselho de Segurança da ONU marcou para a próxima terça-feira em Moscou uma reunião de seus cinco membros permanentes e a Alemanha para discutir os últimos desdobramentos relativos ao Irã. No dia 29 de março o Conselho deu prazo de 30 dias à república islâmica que suspendesse todas as atividades de enriquecimento de urânio.

Com agências internacionais

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