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Todos contra Berlusconi
LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A ROMA
A Itália vai às urnas hoje depois
de uma das campanhas mais polêmicas de sua história recente,
marcada pela inquietação internacional em torno da candidatura
do homem mais rico do país, aliado a partidos pós-fascistas e xenófobos, ao cargo de primeiro-ministro.
Com um leve favoritismo em
relação a seu principal adversário,
Francesco Rutelli (centro-esquerda), Silvio Berlusconi foi classificado por vários jornais importantes da Europa e dos EUA como
"inadequado" para o cargo e é
constantemente lembrado pelas
irregularidades em sua trajetória
empresarial e política.
A polêmica e a vaidade sempre
foram a marca de Berlusconi. Perseguem-no suspeitas de fraude,
lavagem de dinheiro, corrupção e
associação com a máfia.
O coro dos "anti-Berlusconi",
que já contava com prestigiosas
publicações como "The Economist", "The New York Times" e
"Le Monde", foi engrossado semana passada pelo escritor Umberto Eco, pelo Nobel de Literatura Dario Fo e pelo ator e cineasta
Roberto Benigni, que ironizou:
"Ele [Berlusconi" fala em trabalho, trabalho, trabalho. Mas ele é
amigo de ditadores. Que espécie
de trabalho ele propõe? Trabalho
forçado?".
Sanções
A União Européia também
acompanha com cautela a campanha italiana. Há no bloco quem
já defenda sanções à Itália, como
ocorreu em relação à Áustria, caso Berlusconi vença e leve ao poder a Aliança Nacional, partido
pós-fascista, e a Liga Norte, de caráter xenófobo.
O presidente da Comissão Européia, o ex-premiê italiano Romani Prodi, afirmou que uma
possível vitória de Berlusconi deixaria a Itália em situação "pouco
confortável".
Apesar de toda a campanha
contrária, Berlusconi dispõe do
apoio de cerca de 40% do eleitorado e tem chances reais de voltar
ao poder, onde esteve por sete
meses, em 1994.
Para especialistas e para os próprios integrantes da aliança governista, a explicação está no desgaste de cinco anos no poder e no
fracasso da esquerda em afinar
seu discurso e acabar com as dissenções internas.
Ataques
Anteontem à noite, Rutelli, em
sua última entrevista de campanha, classificou Berlusconi de "ditador" e "fascista". "A Europa está
assustada e tem motivos para estar. Berlusconi traz amigos perigosos para a unidade política e
econômica dos sócios europeus,
representa a "thatcherização" da
Itália, ou seja, o pior que pode
existir da direita britânica."
Para ele, a coligação de Berlusconi, a Casa das Liberdades, poderia levar a Itália a uma "guerra
civil".
Berlusconi também deu entrevista e, em duas horas, acusou a
"imprensa internacional" de trabalhar para os "comunistas" e
disse ser vítima de uma "campanha difamatória" liderada pela esquerda.
Berlusconi acusou seu adversário de sofrer de "regressão infantil" ao questionar com constância
sua possível vitória.
O candidato fechou seu programa reafirmando seu compromisso em mudar a estrutura administrativa da Itália. "Meu projeto é
tão grandioso que eu, com toda a
minha experiência, sinto-me pequeno para concretizá-lo. Imaginem para o meu adversário, que
nunca trabalhou de verdade."
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