São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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Produtos americanos já são comuns

MARC FRANK
DA REUTERS, EM HAVANA

O ex-presidente Jimmy Carter poderá se surpreender durante sua viagem a Cuba, iniciada ontem, ao perceber que a ilha está inundada de pessoas, dinheiro e produtos americanos, apesar dos 40 anos de embargo comercial imposto por Washington.
A presença americana explodiu nos anos 90 em um país onde, uma década antes, possuir dólar era crime -e cachorro-quente, chiclete e manteiga de amendoim, considerados emblemas ianques, não eram encontrados em nenhum lugar.
Não há um McDonald's no aeroporto José Martí, em Havana, onde Carter desembarcou, mas produtos americanos -com preços em dólar, não em peso- são abundantes. O ex-presidente vai perceber que cartões de crédito americanos são aceitos em qualquer lugar, incluindo o hotel Santa Isabel, onde ele está hospedado.
Carter também aprenderá com os empregados do hotel que ele certamente não é o primeiro cidadão dos EUA a colocar os pés em Cuba ou a se hospedar no Santa Isabel, embora a maioria dos americanos esteja proibida de visitar a ilha caribenha.
Segundo o ministro do Exterior cubano, Felipe Perez, cerca de 200 mil americanos provaram o fruto proibido no ano passado. Isso coloca os EUA no terceiro lugar, depois do Canadá e da Alemanha, no ranking de turistas estrangeiros que visitam o país.
Cambaleante pelo impacto econômico causado pelo colapso da União Soviética, seu maior aliado, Cuba começou na década de 90 a promover o turismo internacional, dando boas-vindas aos americanos e ao seu dinheiro.
O então presidente Bill Clinton facilitou as viagens de americanos de origem cubana e outros cidadãos dos EUA, apesar do embargo que proíbe americanos de gastarem dólares na ilha.
Clinton permitiu ainda que cubanos-americanos enviassem dinheiro a seus parentes. Essas transferências foram autorizadas também por Fidel Castro.
"Essas transferências familiares representam um incremento de US$ 800 milhões na entrada de moeda estrangeira", disse Phil Peters, observador de Cuba do Instituto Lexington, de Washington.
Estima-se que, no ano passado, 150 mil visitantes dos EUA tenham obtido licença do Tesouro americano, que regulamenta o embargo, para ir à Cuba. Cerca de 120 mil deles eram cubanos-americanos que foram visitar seus parentes. Outros 50 mil americanos presumivelmente foram à ilha sem permissão do governo.
Segundo a "Economic Eye on Cuba", publicação semanal do Conselho Econômico e Comercial EUA-Cuba, de Nova York, Carter pode até montar um portfólio de ações relacionadas à Cuba.
"O Tesouro autorizou que pessoas jurídicas e físicas invistam em empresas estrangeiras que mantêm uma fatia minoritária de negócios em Cuba", explica John Kavulich, presidente do conselho.
Mais de 10% da Nestlé está nas mãos de americanos. A empresa opera uma joint venture de água mineral em Cuba, que detém mais de 90% do mercado local. Carter e sua delegação deverão consumir muito dessa água para combater o calor tropical cubano durante sua estadia.



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