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ENTREVISTA
Kocharian, que esteve no Brasil na semana passada, acha que maior presença dos EUA pode violar equilíbrio regional
Presidente armênio teme novas divisões no Cáucaso
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
É preciso cautela em relação à
presença militar dos EUA no Cáucaso devido à Rússia e ao Irã, que
também têm seus interesses na
região, porque "qualquer violação essencial do equilíbrio poderia ser perigosa". A afirmação é do
presidente da Armênia, Robert
Kocharian, 47. Ele esteve no Brasil
entre os dias 6 e 8 de maio e acertou a abertura da embaixada da
Armênia no país, onde há cerca
de 40 mil armênios e descendentes. Leia a seguir trechos da entrevista que Kocharian concedeu à
Folha, em São Paulo.
Folha - Como o sr. vê a chamada
guerra antiterrorismo e qual o papel da Armênia nesse combate?
Robert Kocharian - Imediatamente após os eventos de 11 de setembro, a Armênia anunciou que
integraria a coalização antiterrorismo. Uma das medidas que tomamos foi liberar nosso espaço
aéreo. Poderíamos ser úteis de
outras formas. Nós nos dispusemos a fazer parte de qualquer iniciativa contra o terrorismo. O que
houve no Afeganistão não seria
possível sem a participação americana, e essa ação era necessária.
Folha - Cresceu a cooperação militar entre a Armênia e os EUA?
Kocharian - Temos uma cooperação ativa com os EUA em quase
todos os campos, mas havia restrições na esfera militar com a Armênia e com o Azerbaijão por
causa do conflito em Nagorno-Karabakh [território disputado".
Após o 11 de setembro, essa restrição foi suspensa, e atualmente
nós estamos discutindo as diretrizes de uma cooperação militar.
Folha - O que o sr. acha da maior
influência dos EUA na região?
Kocharian - Em relação à presença dos EUA no Cáucaso precisamos ter mais cautela por causa da
Rússia e do Irã. Esses dois países
também têm seus interesses na
região, onde há um equilíbrio estabelecido. Qualquer violação essencial desse equilíbrio poderia
ser perigosa. Precisamos levar isso em conta. A Armênia não tem
nenhum problema com os EUA.
E estamos abertos a um desenvolvimento ainda maior. Quando falo sobre o equilíbrio, ressalto que
nosso objetivo é evitar divisões na
região. Estaríamos no centro.
Folha - Alguns países, como a
França e a Itália, classificaram a
morte de armênios a partir de 1915
de "genocídio". A Turquia, herdeira do Império Otomano, nega. Como a Armênia lida com a questão?
Kocharian - A lista de países que
reconheceram o genocídio é
grande. Se estudarmos a história
da Turquia, vamos compreender
que ela reconheceu o genocídio.
Membros do governo foram julgados por causa daquilo. Os turcos tentam apresentar os eventos
sob uma outra luz, mas nós vamos insistir no assunto. Os turcos
não dizem que isso não aconteceu, mas que havia uma guerra e
que as coisas ocorreram durante a
guerra. Eles tentam evitar o termo
genocídio.
Folha - Eles dizem que o número
de vítimas foi bem menor que o 1,5
milhão defendido pela Armênia.
Kocharian - Mesmo que fossem
500 mil ou 700 mil pessoas, isso e
a deportação de 1 milhão ou 2 milhões não formam um genocídio?
Folha - O sr. e o presidente FHC
conversaram sobre isso?
Kocharian - Não nos concentramos nisso. Discutimos formas de
cooperação bilateral. Mas o presidente está familiarizado com o assunto, e há deputados brasileiros
trabalhando com a questão.
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