São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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ENTREVISTA

Kocharian, que esteve no Brasil na semana passada, acha que maior presença dos EUA pode violar equilíbrio regional

Presidente armênio teme novas divisões no Cáucaso

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

É preciso cautela em relação à presença militar dos EUA no Cáucaso devido à Rússia e ao Irã, que também têm seus interesses na região, porque "qualquer violação essencial do equilíbrio poderia ser perigosa". A afirmação é do presidente da Armênia, Robert Kocharian, 47. Ele esteve no Brasil entre os dias 6 e 8 de maio e acertou a abertura da embaixada da Armênia no país, onde há cerca de 40 mil armênios e descendentes. Leia a seguir trechos da entrevista que Kocharian concedeu à Folha, em São Paulo.

Folha - Como o sr. vê a chamada guerra antiterrorismo e qual o papel da Armênia nesse combate?
Robert Kocharian -
Imediatamente após os eventos de 11 de setembro, a Armênia anunciou que integraria a coalização antiterrorismo. Uma das medidas que tomamos foi liberar nosso espaço aéreo. Poderíamos ser úteis de outras formas. Nós nos dispusemos a fazer parte de qualquer iniciativa contra o terrorismo. O que houve no Afeganistão não seria possível sem a participação americana, e essa ação era necessária.

Folha - Cresceu a cooperação militar entre a Armênia e os EUA?
Kocharian -
Temos uma cooperação ativa com os EUA em quase todos os campos, mas havia restrições na esfera militar com a Armênia e com o Azerbaijão por causa do conflito em Nagorno-Karabakh [território disputado". Após o 11 de setembro, essa restrição foi suspensa, e atualmente nós estamos discutindo as diretrizes de uma cooperação militar.

Folha - O que o sr. acha da maior influência dos EUA na região?
Kocharian -
Em relação à presença dos EUA no Cáucaso precisamos ter mais cautela por causa da Rússia e do Irã. Esses dois países também têm seus interesses na região, onde há um equilíbrio estabelecido. Qualquer violação essencial desse equilíbrio poderia ser perigosa. Precisamos levar isso em conta. A Armênia não tem nenhum problema com os EUA. E estamos abertos a um desenvolvimento ainda maior. Quando falo sobre o equilíbrio, ressalto que nosso objetivo é evitar divisões na região. Estaríamos no centro.

Folha - Alguns países, como a França e a Itália, classificaram a morte de armênios a partir de 1915 de "genocídio". A Turquia, herdeira do Império Otomano, nega. Como a Armênia lida com a questão?
Kocharian -
A lista de países que reconheceram o genocídio é grande. Se estudarmos a história da Turquia, vamos compreender que ela reconheceu o genocídio. Membros do governo foram julgados por causa daquilo. Os turcos tentam apresentar os eventos sob uma outra luz, mas nós vamos insistir no assunto. Os turcos não dizem que isso não aconteceu, mas que havia uma guerra e que as coisas ocorreram durante a guerra. Eles tentam evitar o termo genocídio.

Folha - Eles dizem que o número de vítimas foi bem menor que o 1,5 milhão defendido pela Armênia.
Kocharian -
Mesmo que fossem 500 mil ou 700 mil pessoas, isso e a deportação de 1 milhão ou 2 milhões não formam um genocídio?

Folha - O sr. e o presidente FHC conversaram sobre isso?
Kocharian -
Não nos concentramos nisso. Discutimos formas de cooperação bilateral. Mas o presidente está familiarizado com o assunto, e há deputados brasileiros trabalhando com a questão.



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