São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Comitê Central do Likud ignora apelo do premiê contra a resolução, que limita o seu poder de negociação

Partido de Sharon rejeita Estado palestino

DA REDAÇÃO

O Likud, partido de direita do premiê israelense, Ariel Sharon, aprovou resolução ontem em Tel Aviv que rejeita a criação de um Estado palestino.
A medida é uma derrota para o premiê, que recentemente defendeu a criação de um Estado palestino no longo prazo, e uma vitória de seu principal rival dentro do Likud, o ex-premiê Binyamin "Bibi" Netanyahu.
A resolução deve pressionar ainda mais Sharon a endurecer a posição israelense numa eventual retomada das negociações de paz, já que, para manter-se na liderança do partido nas eleições do ano que vem, terá de respeitar a votação de ontem do Comitê Central.
Netanyahu, que defendeu ontem a expulsão do líder palestino Iasser Arafat dos territórios palestinos e rejeitou qualquer tipo de Estado palestino, é seu principal rival pela liderança.
Sharon se opôs veementemente à resolução, argumentando que ela aumentaria a pressão internacional sobre Israel e ataria suas mãos nas negociações com os árabes. Segundo ele, a medida era "perigosa para o Estado de Israel e complicará nossos esforços diplomáticos". Embora o partido não tenha poder para remover Sharon do cargo, analistas foram unânimes ao dizer que a resolução o enfraqueceu.
Poucos delegados votaram contra a resolução em Tel Aviv, que dizia: "Nenhum Estado palestino será criado a oeste do rio Jordão", um referência à área que inclui Israel, Cisjordânia e faixa de Gaza.
O Likud, que lidera um governo de "união nacional" junto com o Partido Trabalhista (centro-esquerda) e partidos de extrema direita, sempre se opôs a um Estado palestino, mas Sharon disse recentemente que, sob condições bastante restritas -recusadas pelos palestinos-, ele estaria disposto a reconhecer tal Estado, chegando a chamar a sua criação de "inevitável".
No encontro de ontem em Tel Aviv, ele estava bem mais cauteloso. "Não estamos falando no momento de um Estado palestino. Isso não está incluído na agenda do dia", disse ele.
Ao invés da resolução que foi aprovada, Sharon havia proposto que fosse votada uma moção de apoio a seu governo e seus esforços por paz e segurança. A proposta foi rejeitada por 59 a 41. A resolução contra o Estado palestino teve aprovação quase unânime dos delegados, que votaram erguendo os braços.
Sharon disse que acataria a decisão do partido, mas acrescentou: "Seguirei liderando o Estado de Israel e seu povo de acordo com as mesmas idéias que sempre me guiaram -a segurança do Estado e de seus cidadãos e o nosso desejo de uma paz verdadeira".
Sharon ontem voltou a exigir o fim da violência palestina para haver progresso verdadeiro nas negociações de paz. E voltou a descartar o diálogo com Arafat, a quem acusa de apoiar e estimular o terrorismo palestino. "Não pode haver paz com terror ou com um homem do terror", disse o premiê israelense, referindo-se a Arafat.

Reação palestina
Saeb Erekat, principal negociador palestino, disse que a resolução do Likud ameaça qualquer chance de acordo entre Israel e os palestinos. "O objetivo final [de Israel]" agora está claro", disse ele à TV CNN. "A guerra atual não é contra o terrorismo, mas pela continuação do domínio israelense sobre 3,3 milhões de palestinos. Isso é bastante perigoso, e eu espero que sirva para abrir os olhos do mundo para que vejam com quem estamos lidando", afirmou.
"Quantos palestinos acordarão amanhã e pensarão que não têm nada a perder? Espero que sirva para abrir os olhos do presidente [dos EUA, George W.] Bush", disse o palestino.

Netanyahu
O ex-premiê Netanyahu, bastante aplaudido no tenso encontro em Tel Aviv, recusou qualquer forma de Estado palestino. "Está claro agora que nós não podemos alcançar nenhum tipo de solução com os palestinos", disse ele.
"Um Estado [palestino]" com todos os direitos de um Estado, isso não pode ocorrer, não com Arafat nem qualquer outra liderança, hoje ou no futuro", afirmou o ex-primeiro-ministro.
Pesquisas de opinião mostram que a maioria dos israelenses aceita a criação de um Estado palestino após negociações de paz e com garantias de segurança.


Com agências internacionais



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