São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2005

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País leva a sério projeto nuclear, afirma analista

ARNAUD LEPARMENTIER
DO "LE MONDE"

O Irã não blefa quando diz que retomará o enriquecimento de urânio. O mundo deve preparar-se com seriedade para reagir a um possível teste nuclear norte-coreano. As afirmações são da diretora de assuntos estratégicos do Comissariado de Energia Atômica da França, Thérèse Delpech.

 

Pergunta - Os iranianos ameaçam retomar o ciclo de enriquecimento de urânio. Muita gente avalia que eles não o farão antes das eleições presidenciais marcadas para 17 de junho. É blefe?
Thérèse Delpech -
Em minha opinião, não. A repetição da ameaça quase todos os dias indica que a intenção dos líderes do país é séria.
A questão difícil é avaliar as razões para uma decisão como essa antes da eleição presidencial de junho, já que o presidente Ali Akhbar Hachemi Rafsanjani acaba de anunciar sua candidatura a um segundo mandato, e um dos elementos de sua campanha seria uma tentativa de reaproximação com os EUA.

Pergunta - Que interesse teriam os iranianos em seguir esse tipo de estratégia?
Delpech -
Um possível objetivo seria o de causar uma crise imediata para permitir negociações melhores após o pleito. Mas continua possível que o Irã deseje utilizar o prazo das negociações para realizar atividades clandestinas a fim de assegurar que não lhe falte material físsil para a produção de armas.

Pergunta - A sra. acredita que um teste nuclear seja iminente na Coréia do Norte?
Delpech -
Precisamos preparar com seriedade a reação a um eventual teste, que causaria abalos profundos na região e não poderia ser realizado sem apoio ao menos tácito da China. Pequim não parece fazer muito, no momento, para impedir os preparativos norte-coreanos para o grande dia.

Pergunta - Irã e Coréia do Norte fazem um jogo comum?
Delpech -
Há uma conexão conhecida entre os dois países na área dos mísseis balísticos: o Shehab 3 iraniano e o No-Dong norte-coreano apresentam muitas semelhanças, e a colaboração entre os dois países nesse domínio parece ter sido feita.
Certos observadores japoneses acreditam que especialistas iranianos fizeram várias visitas à Coréia do Norte para experiências comuns no ramo nuclear.
É, portanto, normal encarar as duas chantagens nucleares atuais em termos das conexões mútuas entre elas.

Pergunta - A que extremos os americanos poderiam chegar caso Irã e Coréia confirmem avaliações dos neoconservadores mais pessimistas?
Delpech -
Antes que falássemos em bombardeios, haveria inúmeras outras possibilidades de ação no Conselho de Segurança. Mesmo a estratégia de segurança adotada pela União Européia em 2003 aceita a idéia de recorrer à força, em última instância. O Irã e a Coréia do Norte, portanto, têm escolhas a fazer e seria prudente que refletissem antes de agir.


Tradução de Paulo Migliacci

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