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Coréia do Norte confunde agências dos EUA
DAVID SANGER
DO "NEW YORK TIMES"
As agências de inteligência norte-americanas têm dificuldade
em chegar a um consenso sobre o
que está acontecendo na Coréia
do Norte, uma região que é um
buraco negro para a comunidade
de informações. Isso vem sendo
especialmente verdade nos últimos 30 dias, enquanto as autoridades examinam imagens de satélite que levam a crer que alguma
coisa suspeita esteja acontecendo
na costa nordeste do país.
Para alguns, incluindo vários
especialistas na Coréia do Norte
que já trabalharam para diferentes governos americanos, a atividade é o sinal mais recente de que
a Coréia do Norte pode estar preparando seu primeiro teste de
uma arma nuclear.
Mas uma ambigüidade vem
permeando as declarações de várias autoridades de inteligência
nos últimos dias sobre o assunto.
Na semana passada, três fontes
em partes diferentes do governo
americano disseram que já viram
ou foram informados sobre evidências de coisas parecidas com
tribunas de honra erguidas a uma
distância do local do suposto teste
nuclear, suscitando a desconfiança de que estejam sendo feitos
preparativos para a presença de
platéia. Eles reconheceram que,
mesmo que essas tribunas existam, elas podem estar ali para outra finalidade.
Mas uma agência disse que desconhecia qualquer evidência da
existência de tal estrutura. Nesta
semana, representantes de inteligência do Departamento de Estado deram a mesma posição.
As pessoas envolvidas na tentativa de interpretar a inteligência
vinda da Coréia do Norte são assombradas por um longo histórico de erros, em que as capacidades do país foram tanto subestimadas quanto superestimadas.
"Existe uma razão pela qual eu
chamo a Coréia do Norte de o
mais longo fracasso de inteligência na história da espionagem
americana", disse Donald Gregg,
chefe da estação da CIA em Seul
durante a Guerra Fria e que retornou ao país como embaixador
americano. "E posso dizê-lo com
orgulho porque eu mesmo fiz
parte desse fracasso."
Não é de hoje que a administração Bush está dividida quanto à
maneira de lidar com a Coréia do
Norte -se seria o caso de pressionar o país até ele desabar, ou de
negociar com ele, na esperança de
que abra mão de suas armas.
Com relação ao que está acontecendo no país, o problema consiste em comparar as imagens obtidas pelos satélites com estimativas do que a Coréia do Norte quer
que os EUA acreditem.
Caminhões vêm entrando e
saindo do local há meses, e ultimamente alguns analistas técnicos disseram acreditar que os veículos estejam trazendo material
para preencher um buraco, o que
às vezes constitui sinal de que um
local de testes subterrâneos está
sendo fechado. Outros vêm relatando evidências semelhantes.
Mas a Casa Branca também avisou sobre um possível teste em
outubro passado, graças a atividades semelhantes, e se preocupou
com a questão (apesar de nada ter
sido dito em público sobre o assunto) durante uma onda de atividade em janeiro. Parte do problema, para os especialistas, é que,
como a Coréia do Norte nunca
conduziu um teste, ninguém sabe
se seus preparativos se parecem
com o que era visto na antiga
URSS e na China, ambas as quais
ajudaram o programa norte-coreano no passado. "É possível que
não fiquemos sabendo até o momento em que o artefato for disparado", reconheceu um representante americano alguns dias
atrás. Outro opinou que, embora
a atividade seja preocupante, ela
pode ser apenas "parte do vaivém
ao qual vimos assistindo há algum tempo já".
Existe, é claro, a possibilidade
para alguns, de que a Coréia do
Norte esteja procurando propositalmente criar uma impressão falsa.
O problema se torna ainda mais
difícil porque os EUA praticamente não têm espiões e porque
existem poucos telefones na Coréia do Norte para grampear.
Tradução de Clara Allain
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