São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coréia do Norte confunde agências dos EUA

DAVID SANGER
DO "NEW YORK TIMES"

As agências de inteligência norte-americanas têm dificuldade em chegar a um consenso sobre o que está acontecendo na Coréia do Norte, uma região que é um buraco negro para a comunidade de informações. Isso vem sendo especialmente verdade nos últimos 30 dias, enquanto as autoridades examinam imagens de satélite que levam a crer que alguma coisa suspeita esteja acontecendo na costa nordeste do país.
Para alguns, incluindo vários especialistas na Coréia do Norte que já trabalharam para diferentes governos americanos, a atividade é o sinal mais recente de que a Coréia do Norte pode estar preparando seu primeiro teste de uma arma nuclear.
Mas uma ambigüidade vem permeando as declarações de várias autoridades de inteligência nos últimos dias sobre o assunto.
Na semana passada, três fontes em partes diferentes do governo americano disseram que já viram ou foram informados sobre evidências de coisas parecidas com tribunas de honra erguidas a uma distância do local do suposto teste nuclear, suscitando a desconfiança de que estejam sendo feitos preparativos para a presença de platéia. Eles reconheceram que, mesmo que essas tribunas existam, elas podem estar ali para outra finalidade.
Mas uma agência disse que desconhecia qualquer evidência da existência de tal estrutura. Nesta semana, representantes de inteligência do Departamento de Estado deram a mesma posição.
As pessoas envolvidas na tentativa de interpretar a inteligência vinda da Coréia do Norte são assombradas por um longo histórico de erros, em que as capacidades do país foram tanto subestimadas quanto superestimadas.
"Existe uma razão pela qual eu chamo a Coréia do Norte de o mais longo fracasso de inteligência na história da espionagem americana", disse Donald Gregg, chefe da estação da CIA em Seul durante a Guerra Fria e que retornou ao país como embaixador americano. "E posso dizê-lo com orgulho porque eu mesmo fiz parte desse fracasso."
Não é de hoje que a administração Bush está dividida quanto à maneira de lidar com a Coréia do Norte -se seria o caso de pressionar o país até ele desabar, ou de negociar com ele, na esperança de que abra mão de suas armas.
Com relação ao que está acontecendo no país, o problema consiste em comparar as imagens obtidas pelos satélites com estimativas do que a Coréia do Norte quer que os EUA acreditem.
Caminhões vêm entrando e saindo do local há meses, e ultimamente alguns analistas técnicos disseram acreditar que os veículos estejam trazendo material para preencher um buraco, o que às vezes constitui sinal de que um local de testes subterrâneos está sendo fechado. Outros vêm relatando evidências semelhantes.
Mas a Casa Branca também avisou sobre um possível teste em outubro passado, graças a atividades semelhantes, e se preocupou com a questão (apesar de nada ter sido dito em público sobre o assunto) durante uma onda de atividade em janeiro. Parte do problema, para os especialistas, é que, como a Coréia do Norte nunca conduziu um teste, ninguém sabe se seus preparativos se parecem com o que era visto na antiga URSS e na China, ambas as quais ajudaram o programa norte-coreano no passado. "É possível que não fiquemos sabendo até o momento em que o artefato for disparado", reconheceu um representante americano alguns dias atrás. Outro opinou que, embora a atividade seja preocupante, ela pode ser apenas "parte do vaivém ao qual vimos assistindo há algum tempo já".
Existe, é claro, a possibilidade para alguns, de que a Coréia do Norte esteja procurando propositalmente criar uma impressão falsa.
O problema se torna ainda mais difícil porque os EUA praticamente não têm espiões e porque existem poucos telefones na Coréia do Norte para grampear.


Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: País leva a sério projeto nuclear, afirma analista
Próximo Texto: País anuncia novo passo para produzir bomba
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.