São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2005

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DIPLOMACIA

Senadores aceitam enviar ao plenário a nomeação do contestado "falcão" John Bolton, mas não a endossam

Comissão não apóia indicado de Bush à ONU

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

John Bolton, o polêmico indicado do presidente George W. Bush para representar os EUA na ONU, sofreu ontem um duro revés. A Comissão de Relações Internacionais do Senado, que estudou a nomeação por várias semanas, entrevistou 29 autoridades e examinou milhares de documentos, decidiu lavar as mãos -por 10 votos a 8, enviou o nome de Bolton ao plenário da Casa sem endossá-lo.
Bolton, cuja indicação encontrou resistência mesmo entre republicanos, tem um histórico de confrontos com subordinados e de desprezo pela própria ONU. Em 1994, disse que não faria "a menor diferença se o prédio da ONU perdesse dez andares".
As chances de que seja aprovado no plenário são boas, uma vez que os republicanos têm maioria de 55 a 45.
O indicado de Bush precisa de apenas 50 votos, porque, se houver empate, o voto de minerva cabe ao vice-presidente, Dick Cheney, que acumula a função de presidente do Senado. Cheney é padrinho da escolha de Bolton e um dos maiores "falcões" do governo americano.
O principal entrave para a aprovação de Bolton no comitê foi um senador republicano, George Voinovich. Ele pretendia votar contra a aprovação, o que empataria o placar em 9 a 9. Dissuadido, aceitou aprovar o encaminhamento do processo, mas disse que, no plenário, vetará Bolton.
Voinovich disse que Bolton é "o protótipo daquilo que alguém no corpo diplomático não deveria ser" e que, por seu comportamento, ele teria sido demitido se trabalhasse numa empresa privada.
Para o republicano, o comportamento do indicado "não deve ser endossado como a face dos EUA perante a comunidade internacional na ONU". "Os EUA podem fazer melhor", afirmou.
A Casa Branca, que em nenhum momento recuou da indicação, disse acreditar que agora Bolton venha a ser aprovado. "Há muitas pessoas que concordam com o presidente que John Bolton é a pessoa certa, na hora certa, para esse importante posto", disse o porta-voz Scott McClellan.

Cuba
O principal foco de resistência ao nome de Bolton surgiu de relatos de que ele pediu a demissão de funcionários de setores da inteligência americana que não concordaram com suas visões sobre um suposto programa de armas químicas de Cuba.
O caso foi o mesmo que levou Bolton, há cerca de três anos, a entrar em choque com o diplomata brasileiro José Maurício Bustani, que acabou destituído da direção-geral da Opaq (organização para o fim das armas químicas) por pressão dos EUA.
Bolton, então subsecretário de Estado dos EUA para questões de desarmamento, pediu a cabeça de Bustani. "Então apareceu esse John Bolton, que é um antimultilateralista, um anti-ONU, um prepotente, querendo mandar em tudo", disse Bustani em 2002 sobre o choque que custou seu cargo na entidade.
"Para você ter uma idéia, é aquele sujeito que defendeu publicamente que a ONU poderia perder dez andares que não faria a menor falta. É daqueles que não acreditam em nada e em nenhuma organização internacional em que os EUA não tenham 100% de controle", afirmou então o brasileiro.
Procurado pela Folha no mês passado, o diplomata, hoje na embaixada em Londres, não quis comentar a indicação.


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