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DIPLOMACIA
Senadores aceitam enviar ao plenário a nomeação do contestado "falcão" John Bolton, mas não a endossam
Comissão não apóia indicado de Bush à ONU
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
John Bolton, o polêmico indicado do presidente George W. Bush
para representar os EUA na ONU,
sofreu ontem um duro revés. A
Comissão de Relações Internacionais do Senado, que estudou a nomeação por várias semanas, entrevistou 29 autoridades e examinou milhares de documentos, decidiu lavar as mãos -por 10 votos
a 8, enviou o nome de Bolton ao
plenário da Casa sem endossá-lo.
Bolton, cuja indicação encontrou resistência mesmo entre republicanos, tem um histórico de
confrontos com subordinados e
de desprezo pela própria ONU.
Em 1994, disse que não faria "a
menor diferença se o prédio da
ONU perdesse dez andares".
As chances de que seja aprovado no plenário são boas, uma vez
que os republicanos têm maioria
de 55 a 45.
O indicado de Bush precisa de
apenas 50 votos, porque, se houver empate, o voto de minerva cabe ao vice-presidente, Dick Cheney, que acumula a função de presidente do Senado. Cheney é padrinho da escolha de Bolton e um
dos maiores "falcões" do governo
americano.
O principal entrave para a aprovação de Bolton no comitê foi um
senador republicano, George Voinovich. Ele pretendia votar contra
a aprovação, o que empataria o
placar em 9 a 9. Dissuadido, aceitou aprovar o encaminhamento
do processo, mas disse que, no
plenário, vetará Bolton.
Voinovich disse que Bolton é "o
protótipo daquilo que alguém no
corpo diplomático não deveria
ser" e que, por seu comportamento, ele teria sido demitido se trabalhasse numa empresa privada.
Para o republicano, o comportamento do indicado "não deve
ser endossado como a face dos
EUA perante a comunidade internacional na ONU". "Os EUA podem fazer melhor", afirmou.
A Casa Branca, que em nenhum
momento recuou da indicação,
disse acreditar que agora Bolton
venha a ser aprovado. "Há muitas
pessoas que concordam com o
presidente que John Bolton é a
pessoa certa, na hora certa, para
esse importante posto", disse o
porta-voz Scott McClellan.
Cuba
O principal foco de resistência
ao nome de Bolton surgiu de relatos de que ele pediu a demissão de
funcionários de setores da inteligência americana que não concordaram com suas visões sobre
um suposto programa de armas
químicas de Cuba.
O caso foi o mesmo que levou
Bolton, há cerca de três anos, a entrar em choque com o diplomata
brasileiro José Maurício Bustani,
que acabou destituído da direção-geral da Opaq (organização para
o fim das armas químicas) por
pressão dos EUA.
Bolton, então subsecretário de
Estado dos EUA para questões de
desarmamento, pediu a cabeça de
Bustani. "Então apareceu esse
John Bolton, que é um antimultilateralista, um anti-ONU, um prepotente, querendo mandar em tudo", disse Bustani em 2002 sobre
o choque que custou seu cargo na
entidade.
"Para você ter uma idéia, é
aquele sujeito que defendeu publicamente que a ONU poderia
perder dez andares que não faria a
menor falta. É daqueles que não
acreditam em nada e em nenhuma organização internacional em
que os EUA não tenham 100% de
controle", afirmou então o brasileiro.
Procurado pela Folha no mês
passado, o diplomata, hoje na embaixada em Londres, não quis comentar a indicação.
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