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EUROPA
Tribunal considera injusto julgamento que condenou o líder rebelde curdo Ocalan
Corte Européia constrange Turquia
GARETH JONES
DA REUTERS, EM ANCARA
A Corte Européia de Direitos
Humanos declarou ontem injusto
o julgamento do líder rebelde curdo Abdullah Ocalan, realizado em
1999, porque ele não teve direito à
defesa e o tribunal não era imparcial. Com isso, está pressionando
a Turquia a ignorar a ira nacionalista e ordenar um novo julgamento de Ocalan, para não prejudicar sua ambição de ingressar na
União Européia (UE).
Ancara acenou com a possibilidade de Ocalan ter novo julgamento, mas também se apressou
a garantir aos turcos que o criticam, tachando-o de terrorista determinado a desmembrar seu
país, que ele não sairá livre.
"Quer esse processo seja ou não
reaberto, a questão da culpa de
Ocalan está fora de dúvida para a
consciência nacional", disse o
premiê turco, Tayyip Erdogan.
O veredicto gerou o receio de
que as tensões políticas voltem a
se acirrar na Turquia, num momento delicado em que o país
tenta satisfazer aos critérios da UE
no quesito dos direitos humanos.
Ocalan foi condenado à prisão
perpétua por traição e cumpre
sua pena numa prisão numa ilha
perto de Istambul, onde é o único
detento. Ele evoca emoções fortes
entre os turcos, que o culpam pela
morte de 30 mil pessoas nos anos
80 e 90. Foi sentenciado à morte
em 1999, mas, em 2002, a pena foi
revogada, dentro do quadro das
reformas inspiradas pela UE.
As poderosas Forças Armadas
turcas, que viram aumentar os
choques com seguidores de Ocalan, condenaram o veredicto, dizendo que foi uma decisão política. Elas ecoam um sentimento nacionalista amplamente difundido
na Turquia, segundo o qual a Europa está propositalmente criando problemas para o país.
Quando foi difundida a notícia
do veredicto, a TV divulgou imagens de 1999 mostrando Ocalan
no avião em que foi levado à Turquia depois de ter sido capturado
no Quênia por uma unidade especial turca. Foi uma cena que, na
época, gerou euforia na Turquia.
Esperando evitar uma reação
nacionalista, o ministro da Justiça, Cemil Cicek, declarou: "Precisamos ter o máximo possível de
sangue frio. Isso não é o fim do
mundo. Nosso povo não deve se
preocupar".
O veredicto da corte européia
ainda terá que ser aprovado pelo
Conselho da Europa, o principal
organismo de vigilância dos direitos humanos do continente.
Tradução de Clara Allain
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