São Paulo, quarta, 13 de maio de 1998

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TIGRE EM CRISE
Vítimas teriam sido baleadas pela polícia, que reprimiu ato estudantil contra o governo, em Jacarta
Confronto deixa 4 mortos na Indonésia

das agências internacionais

Ao menos quatro estudantes foram mortos e 20 ficaram feridos ontem, em Jacarta (capital da Indonésia), em confrontos com a polícia ocorridos em meio a protestos contra o governo.
Os choques começaram quando os estudantes da Universidade Trisakti tentaram sair do campus para chegar ao Parlamento.
A violência se agravou no momento em que polícia investiu contra os manifestantes para, segundo testemunhas, evitar o espancamento de um suposto espião que teria sido identificado.
Um protesto com 5.000 pessoas havia sido realizado horas antes na universidade, e grande parte do grupo já havia se dispersado.
Um analista militar disse à agência de notícias "Reuters" que, em meio a golpes de cassetete e explosões de bombas de gás lacrimogêneo, podiam ser ouvidas detonações de munição real, a provável causa da morte dos estudantes.
Após os choques, dezenas de pessoas se reuniram às portas do necrotério do hospital Sumber Waras, para onde foram levados os manifestantes baleados.
Um diplomata que não quis ser identificado afirmou que o número de mortos pode chegar a cinco.
A Anistia Internacional, grupo de defesa dos direitos humanos, criticou o governo pelas mortes. O regime de Suharto tem sido acusado de sequestrar líderes estudantis para torturá-los.
As mortes de ontem são as primeiras de estudantes na onda de protestos que atinge o país. Na semana passada, ao menos dez pessoas morreram na cidade de Medan, onde manifestações degeneraram em ataques e saques contra estabelecimentos comerciais.
Ontem, protestos contra o regime de Suharto aconteceram também fora da capital indonésia.
Na Universidade de Bandung, 120 km a leste de Jacarta, a polícia deu tiros de advertência para conter os cerca de mil manifestantes. Os enfrentamentos deixaram cerca de dez feridos. Em Kupang, 1.875 km a leste da capital, dois estudantes ficaram feridos depois que a polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo contra 300 deles.
Os universitários da Indonésia, o quarto país mais populoso do mundo (200 milhões de habitantes), realizam há três meses manifestações em que pedem a renúncia do presidente Suharto e a realização de reformas econômicas.
O país, afetado pela crise asiática, enfrenta desemprego e inflação crescentes, o que alimenta a insatisfação generalizada contra Suharto, no poder há 32 anos.
O presidente, que participa de cúpula de líderes de países emergentes no Egito, já disse que reformas políticas terão de esperar o fim de seu novo mandato, previsto para durar até o ano 2003.



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