São Paulo, sexta, 13 de junho de 1997.



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MÚSICA
'A Pedra do Filósofo' e 'O Daroês Benemérito' eram atribuídas a outros compositores
Historiador credita óperas a Mozart

de Washington

Duas óperas quase desconhecidas e compostas em 1790, último ano da vida de Wolfgang Amadeus Mozart, foram em grande parte criadas por ele, segundo David Buch, historiador da música da Universidade de Northern Iowa, meio-oeste dos EUA.
O resultado de sua pesquisa, endossada por um dos maiores especialistas em Mozart do mundo, o musicólogo Neal Zaslaw, da Universidade de Cornell, vai ser publicado na próxima edição do respeitado Cambridge Opera Journal.
Sua pesquisa revela que Mozart trabalhava em projetos coletivos com outros músicos de seu tempo. Embora outras obras menores inéditas de Mozart tenham sido descobertas no passado, todas tinham sido compostas quando ele era criança ou adolescente. A descoberta de Buch está sendo considerada a mais importante referente ao autor e pode fazer com que vários pesquisadores se ponham em campo atrás de novos achados.
Buch estava preparando um livro a respeito do sobrenatural como tema de óperas do século 18, quando se defrontou, na biblioteca da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, com as partituras originais de "A Pedra do Filósofo" e "O Daroês Benemérito" (daroês é a designação de um tipo de religioso muçulmano), ambas produzidas para o Teatro da Ópera de Viena em 1790, a pedido do seu diretor, Emanuel Schikaneder, que também havia comissionado a Mozart "A Flauta Mágica".
Segundo Buch, a composição de "O Daroês Benemérito" era atribuída a Schikaneder e a de "A Pedra do Filósofo" a um grupo de compositores. Mas ele afirma ter evidência suficiente para provar que ambas foram compostas quase inteiramente só por Mozart.
As partituras que Buch examinou não estavam disponíveis para a pesquisa nem no século 19 nem até pouco tempo atrás, quando a Rússia, que as havia colocado em Leningrado após as terem tomado da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, as restituiu a Hamburgo.
Vários especialistas em Mozart acham possível que a análise detalhada de milhares de originais de óperas na Alemanha e na Áustria venha a revelar outros trabalhos compostos por Mozart nunca antes atribuídos a ele. Ao que parece, a produção coletiva de óperas era mais comum no século 18 do que se pensava até há pouco tempo.
Buch diz que sua descoberta vai permitir uma interpretação nova de "A Flauta Mágica". Muitos dos rituais esotéricos da ópera costumavam ser considerados como alusões à maçonaria. Segundo Buch, podem ser elementos ligados à tradição dos contos-de-fada.
(CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA)




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