São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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Zona rural é tolerante com venda de mulheres

DE PEQUIM

O rapto e a venda de mulheres não nasceu com o desequilíbrio sexual na população chinesa, mas o crescente número de homens solitários dificulta o trabalho de combate a esses crimes.
Os habitantes da zona rural, onde vivem 60% dos chineses, têm uma atitude tolerante em relação à compra de mulheres, muitas vezes o único caminho para camponeses pobres se casarem.
O temor do governo e de organismos de defesa dos direitos da mulher e da criança é que a situação piore ainda mais em razão do predomínio de homens na população do país.
Estatísticas oficiais indicam que a polícia chinesa libertou 42,2 mil mulheres e crianças que haviam sido traficadas entre 2001 e 2003.
O fenômeno da venda de mulheres e crianças na China ultrapassa fronteiras, atingindo países vizinhos. Na semana passada, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) lançou uma campanha na fronteira entre a China e o Vietnã de combate à venda de vietnamitas para os chineses.
A campanha contará com o depoimento de Hoang Hong Tham, vendida a um chinês pela melhor amiga de sua mãe em 1999, quando tinha 18 anos. Hoang ficou quatro meses na China e só voltou ao Vietnã depois que seu pai pagou o equivalente a US$ 255 ao homem que a havia comprado.
O Unicef já tem campanha semelhante na fronteira entre a China e a Tailândia e, desde o fim dos anos 90, trabalha no combate ao tráfico de mulheres e crianças dentro da China.

Apoio psicológico
O principal instrumento de atuação da entidade é a educação das potenciais vítimas sobre seus direitos e as maneiras de se defender em situações de risco.
Outra frente é o apoio psicológico às vítimas resgatadas, que muitas vezes voltam para a casa com filhos e enfrentam o preconceito da família e de vizinhos.
Uma das maiores dificuldades no combate a esse tipo de crime na China é a cumplicidade dos moradores de pequenas comunidades rurais com os homens que compram mulheres para se casar. Em alguns casos, a própria polícia local é negligente na investigação de tráfico de mulheres.
Na Província de Sichuan, no oeste chinês, o ex-segurança privado Zhu Wenguang decidiu abrir o "Centro de Resgate Zorro", para atuar em casos de tráfico de mulheres.
Inaugurado em abril, o estabelecimento acabou sendo fechado por não ter obtido autorização de funcionamento das autoridades locais.
Mas, antes de fechar seu escritório, "Zorro" disse ao jornal "Beijing Today" que já havia atuado na libertação de quase cem mulheres.
Seu envolvimento com esse tipo de investigação começou em 1990, quando sua cunhada e a filha de uma de suas sobrinhas foram raptadas e vendidas para camponeses na Província de Anhui, no leste do país. (CT)


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