São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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ARTIGO

EUA redescobrem tolerância

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois da síndrome do Vietnã a síndrome do Iraque? Há previsões, inclusive em Washington, de que o descarrilamento iraquiano fará da capital americana centro de um superpoder convertido à humildade, mais disposto a conversar, a buscar soluções diplomáticas, como no caso do Irã, pelo menos por enquanto. Nada de pretensões a donos do mundo que levaram ao Vietnã e ao Iraque.
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, reafirmou-o em recado ao próprio vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, falcão de ponta, depois que o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica falou de "malucos que andam querendo bombardear o Irã". Na América Latina, a referência maior dessa mudança seria a política em relação a Cuba. Washington já estaria aceitando, segundo o "Miami Herald", uma reforma do regime cubano em vez do chamado "regime change". Talvez um acordo de transição entre tecnocratas militares e uma nova geração à frente do PC.
No auge da guerra de palavras entre o governo Bush e Hugo Chávez, da Venezuela, foi lançada em Washington a "estratégia da inoculação" -a idéia era "vacinar" o continente contra o vírus do chavismo. Os EUA entrariam em campo com a tarefa de construir uma frente anti-Chávez, o que acabou não acontecendo. A maioria dos países latino-americanos ficou em silêncio. Rice voltou a tratar do assunto Chávez na assembléia da OEA, em termos bem mais modestos. Além de um bate-boca com o delegado venezuelano, vexame nunca experimentado antes por um enviado de Washington, Rice limitou-se a pedir que o secretário-geral da OEA fosse à Venezuela.
Miguel Insulza investigaria o caso da TV tomada por Chávez. O pedido de Rice nem sequer foi posto em votação. O próprio Insulza, chileno, foi eleito secretário-geral da OEA contra a vontade do governo Bush. Já um sintoma de perda de peso.
Um ex-embaixador americano de origem hispânica, Manuel Rocha, citado pelo "Miami Herald", diz que o Iraque leva a política dos EUA para um centro "tolerante", com abrangência que alcança a América Latina.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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