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São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

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SOCIEDADE

Gênero musical semiclandestino com histórias de traficantes, guerrilheiros e paramilitares vem ganhando público no país

Colombianos "cantam" tráfico e guerrilha

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

"Sou chamado o rei das drogas / os que estão começando admiram meu patrão." Com versos como esses, com histórias sobre traficantes, guerrilheiros e paramilitares, grupos musicais colombianos vêm ganhando cada vez mais público para um estilo semiclandestino, batizado de "narcocorridos" ou "corridos prohibidos".
Multidões de até 25 mil pessoas se aglomeram em apresentações de grupos cujas músicas não tocam nas rádios e não aparecem na TV. Seis volumes de compilações de "narcocorridos" já venderam, ao todo, mais de 600 mil cópias, e um sétimo CD já está em fase de produção. Um DVD sobre o estilo foi lançado no mês passado.
"Este é um movimento que cresce cada vez mais", afirma o produtor Alirio Castillo, ex-executivo de gravadoras multinacionais que no final dos anos 1990 resolveu lançar, por um selo próprio, grupos como Uriel Henao y Los Tigres del Sur, os intérpretes de "narcocorridos" mais populares hoje na Colômbia.
O gênero, na realidade, nasceu no México, ainda no início do século passado, quando músicos da fronteira com os EUA começaram a cantar histórias sobre gângsteres e tequileiros, os traficantes que abasteciam o mercado americano de álcool, então ilegal.
Com o tempo, e a legalização do consumo de álcool nos EUA, as letras passaram a retratar a nova realidade local, do tráfico de drogas. Os "corridos" mexicanos são particularmente populares nos Estados mexicanos de fronteira e entre a comunidade mexicana dos EUA. O principal grupo mexicano de "narcocorridos", Los Tigres del Norte (homenageado pelo colombiano Uriel Henao), formado nos anos 1960, já vendeu mais de 32 milhões de cópias de seus 55 discos e recebeu o Grammy de música regional mexicana em 2000.
A migração do gênero para a Colômbia começou entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990, época do auge dos grandes cartéis da droga no país andino.
"Os grandes narcotraficantes dos anos 1980, como Gonzalo Rodríguez Gacha [membro do cartel de Medellín conhecido como "o Mexicano'], eram grandes fãs dos "corridos" mexicanos e pagavam aos grupos para compor músicas sobre eles", conta Castillo.
Dali à produção própria foi um passo. "Mesmo com referências à Colômbia, músicas com histórias como a morte de Pablo Escobar vinham do México, então, a partir de 1997, os grupos locais começaram a escrever suas próprias histórias", diz Castillo. Hoje há cerca de 18 grupos colombianos com "narcocorridos" gravados e outras centenas fazendo apresentações concorridas, principalmente nas áreas de conflito.
Os "narcocorridos" não têm nenhuma restrição legal na Colômbia, diferentemente do que ocorre no México, onde vários Estados proibiram sua difusão. Mas há uma espécie de autocensura por parte dos meios de comunicação, intensificada nos últimos tempos com a política de pulso firme do presidente Álvaro Uribe contra os grupos armados ilegais.
"O governo pede para os meios não veicularem esse tipo de música, e eles acatam o pedido, com medo de represálias", diz Alberto Chacón, executivo da gravadora Fonocaribe, responsável pelos "narcocorridos" na Colômbia.
Com a dificuldade de acesso aos meios de comunicação, a gravadora lançou uma campanha bem-humorada para os discos, que dizia: "Compre-o, porque no rádio você não vai escutar". Parece ter funcionado, pelas centenas de milhares de discos vendidos.




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