São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Premiê reúne-se com Peres e busca apoio para seu plano de saída unilateral de Gaza após perder maioria parlamentar

Sharon convida trabalhistas para coalizão

DA REDAÇÃO

O premiê israelense, Ariel Sharon, ganhou o apoio do veterano líder trabalhista Shimon Peres ontem para tentar criar um governo de união nacional capaz de levar adiante o plano de retirada israelense da faixa de Gaza.
Num alerta aos rebeldes dentro de seu próprio partido, o Likud, Sharon ameaçou convocar eleições antecipadas se eles não endossarem seus esforços para ampliar a base de apoio do governo e garantir a retirada unilateral.
Enfraquecido pela saída de antigos aliados de extrema direita, furiosos com o plano de retirada, Sharon convidou Peres e seu Partido Trabalhista, de centro-esquerda, a estudar a possibilidade de formar uma coalizão que possa implementar a retirada dos colonos judeus do território ocupado. "Vamos entrar em negociações", disse Peres a parlamentares trabalhistas. "Precisamos sair de Gaza e desmontar os assentamentos."
Sharon e Peres, amigos há décadas, apesar de sua rivalidade política, se reuniram no café da manhã para discutir a formação da coalizão. Peres disse que a continuidade das negociações dependerá de ele conquistar hoje a aceitação de seu partido.
A iniciativa anunciada por Sharon de "desengajamento" unilateral do conflito com os palestinos prevê o abandono dos 21 assentamentos judaicos existentes em Gaza e de quatro dos 120 que existem na Cisjordânia até o final do próximo ano. Os dois territórios foram capturados na guerra árabe-isralenese de 1967. O gabinete israelense aprovou o projeto de retirada depois de Sharon ter exonerado dois ministros de extrema direita, mas a atitude custou ao premiê a maioria no Parlamento da qual vai precisar, no próximo ano, se quiser implementar as fases do plano apoiado por EUA, União Européia e ONU.
Os palestinos vêem a saída de forma positiva, mas querem que seja coordenada com eles.
Num sinal de quão vulnerável Sharon se tornou, a oposição empatou com sua coalizão governista numa moção de desconfiança sobre a política econômica do governo, votada ontem. Ele tem apenas 59 das 120 cadeiras do Knesset e só permanece no poder graças ao apoio de setores trabalhistas favoráveis à saída de Gaza.
Sharon disse a membros do Likud que desconfiam da aliança com os trabalhistas que, sem apoio suficiente da coalizão atual, terá que conquistar o Partido Trabalhista. "Se vocês não quiserem nem uma coisa nem a outra, teremos que partir para eleições."
Como preço pelo apoio, Peres, Prêmio Nobel de 80 anos de idade, exigiu uma retirada mais rápida e também conversações com os palestinos, que temem ganhar Gaza às custas de um domínio israelense maior sobre a Cisjordânia. De acordo com fontes, outro obstáculo é que Peres gostaria de voltar a chefiar a Chancelaria, mas a exoneração do chanceler atual, Silvan Shalom, poderia fortalecer a oposição a Sharon, 76, no Likud.
A possibilidade de o Partido Trabalhista entrar para o governo já provoca reações de repúdio entre likudistas, muitos contrários à entrega de qualquer território e que vêem o plano de Sharon como "uma recompensa ao terror palestino".
Pesquisas apontam que a maioria dos israelenses é a favor da retirada de Gaza, onde 7.500 colonos judeus vivem em encraves fortemente vigiados entre 1,3 milhão de palestinos.
O Partido Trabalhista e o Likud formaram um pacto frágil durante o primeiro mandado de Sharon, entre 2001 e 2003, mas se distanciaram por causa do financiamento dos assentamentos.


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