São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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Corpos em mesquita podem ser de crianças, diz Paquistão

Cadáveres encontrados em templo alvo de ação do Exército estão carbonizados

Após derrota de rebeldes amotinados em mesquita, o ditador Musharraf promete erradicar o extremismo; escolas islâmicas protestam

Mian Khursheed/Reuters
Destroços da madrassa para mulheres no complexo da Mesquita Vermelha; ação durou 35 horas

DA REDAÇÃO

O Exército do Paquistão informou ontem que 19 dos 75 corpos encontrados no complexo da Mesquita Vermelha, na capital Islamabad, estão tão carbonizados que é impossível discernir seu sexo e idade.
Os mortos -que o governo dizem ser ao todo 108, entre amotinados, militares e vítimas de fogo cruzado- são resultado de um cerco de oito dias encerrado anteontem, após um confronto direto de 35 horas entre o Exército paquistanês e militantes de um grupo islâmico radical que se rebelou contra o governo do ditador Pervez Musharraf. Os radicais, liderados por Abdul Rashid Ghazi -morto na ação- advogavam a instalação de um regime religioso mais rígido no país.
Desde janeiro, comandos formados pelos clérigos da mesquita atacavam livrarias com publicações ocidentais e seqüestravam mulheres que diziam ser prostitutas.
Apenas ontem o Exército permitiu a jornalistas o acesso às ruínas do complexo, que abrigava também uma madrassa -escola islâmica- para mulheres. Por isso permanece a dúvida sobre quantas pessoas morreram efetivamente na ação. Para Qazi Hussain Ahmed, líder do maior partido islâmico do Paquistão, o Jamaat al Islami, morreram nos conflitos de 400 a mil pessoas.
O governo do Paquistão, por sua vez, insiste em que não está escondendo o número de mortos -assim como insistia em que, entre eles, não havia mulheres nem crianças. Autoridades dizem ainda que cerca de 1.300 pessoas fugiram do complexo da Mesquita Vermelha.

Palavras
Após o fim das batalhas, e com as madrassas de Islamabad de portas fechadas ontem, deu-se uma guerra de palavras.
Enquanto o ditador Musharraf ia à TV afirmar que seu governo está determinado a erradicar o extremismo e o terrorismo do país, o irmão de Abdul Rashid Ghazi, Maulana Abdul Aziz, disse esperar uma "revolução islâmica" no Paquistão.
Musharraf justificou a ação militar contra a mesquita. "Infelizmente nos levantamos contra o nosso povo (...) eles se desviaram do caminho correto", disse, segundo a BBC.
De acordo com o jornal americano "Herald Tribune" haveria uma outra justificativa para o ataque: entre supostas prostitutas seqüestradas por seguidores de Ghazi estariam cidadãs chinesas, e Pequim, importante aliada do Paquistão, pressionou Musharraf a agir.
Já Maulana Abdul Aziz, que tentou escapar da mesquita durante o cerco e foi preso, afirmou no funeral de seu irmão que "há muitos Ghazis vivos para se tornarem mártires".
A dúvida entre os paquistaneses é se o episódio na mesquita é apenas o primeiro numa ofensiva de Musharraf contra outras madrassas, por um lado, e se, por outro, ele servirá de exemplo para incitar outras sublevações de extremistas.
Devido ao pouco investimento do governo em educação, as madrassas, que chegam a cerca de 100 mil no país e provêm educação gratuita, tornaram-se uma alternativa para quem não pode pagar por educação particular para seus filhos. No entanto, segundo o International Crisis Group, são poucas aquelas que encorajam abertamente a militância.
Na melhor das hipóteses, a tragédia da Mesquita Vermelha poderá impulsionar Musharraf a integrar as madrassas ao sistema formal de educação, expelindo o conteúdo extremista de seus currículos. No entanto há quem diga que a presença do extremismo latente é um dos pilares da manutenção do regime de exceção no país, o qual é chefiado por Musharraf.


Com agências internacionais e o "Financial Times"


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