São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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Petróleo chega a impasse pelas divergências entre etnias

DA REDAÇÃO

Nas 25 páginas do relatório que o presidente George W. Bush apresentou ontem sobre o cumprimento ou não de 18 metas pelo governo iraquiano, o petróleo ocupa só 19 linhas. Mas é o grande ponto de discórdia e a chave, ainda não utilizada, para que o país financie sua esperada reconstrução.
A lentidão na elaboração da Lei de Gestão da Renda, que engloba os hidrocarbonetos, foi colocada pelo presidente americano entre as oito metas insatisfatoriamente alcançadas.
O projeto inicial da lei, redigido durante um ano com a ajuda e pressão da embaixada americana, foi aprovado em fevereiro pelo governo e já foi enviado ao Parlamento. Mas os interesses divergentes entre curdos, sunitas e xiitas levam à conclusão de que o texto não tem como ser aprovado.
Por ele, as 18 Províncias iraquianas teriam autonomia para negociar acordos com empresas estrangeiras para a prospecção e a exportação, desde que esses entendimentos passem pela chancela de um Conselho Nacional do Petróleo.

Curdos e os estrangeiros
A idéia agrada apenas a minoria curda, com reservas inexploradas ao norte e que precisam de tecnologia e investimentos de fora. Mesmo assim, o ministro curdo de Recursos Naturais, Ashti Hawrami, disse que seus deputados não votariam o texto -com o qual ele concordava no final de junho-, em razão de uma emenda de última hora que reduz os poderes de sua região. A emenda em questão diz que os contratos de exploração serão de competência do governo central.
Os sunitas querem que todo o mecanismo seja centralizado em Bagdá. As regiões em que são majoritários têm pouco petróleo. Seria uma forma de não se marginalizarem economicamente. A centralização prevaleceu a partir de 1972, data da nacionalização das jazidas.
Por sua vez, os xiitas, majoritários ao sul e detentores de imensas reservas, não querem delegar poderes às Províncias porque, como são demograficamente majoritários, eles dificilmente perderiam o controle do governo central. Sairiam ganhando com a concentração das decisões no Ministério do Petróleo, em Bagdá.

Alianças e complicações
Mas os três consensos étnicos divergentes apresentam ainda diversidades internas. Entre os xiitas, o grupo do clérigo Moqtada al Sadr diz que jamais permitiria companhias de países invasores.
A bancada de Sadr se auto-excluiu do Parlamento. Mas promete voltar ao plenário apenas para derrotar a lei. Está paradoxalmente aliado à ala de sunitas também auto-excluída, mas que voltaria ao Parlamento para derrotar o projeto e derrubar por moção de desconfiança o xiita moderado Maliki.
Não há por enquanto empresa estrangeira com contrato de risco em jazidas iraquianas. O país, que produzia 2,5 milhões de barris por dia antes da invasão de 2003, produziu um pouco menos de 2 milhões no mês passado, exportando dois terços dessa quantia.
Entre os 12 países da Opep, cartel dos produtores, a produção iraquiana ocupa a sexta colocação, apesar de o Iraque possuir as terceiras maiores reservas dentro do cartel.


Com agências internacionais


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