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Honduras põe fim a toque de recolher
Medida, anunciada duas semanas após golpe, é sinal que protestos pela volta do presidente deposto estão arrefecendo
Sindicalista aliado de Manuel Zelaya anuncia, porém, a intenção de intensificar pressão sobre golpistas, com greve geral e bloqueios
Edgard Ganildo/Reuters
![](../images/e1307200901.jpg) |
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Soldados hondurenhos montam guarda em frente a muro do palácio presidencial, em Tegucigalpa, com pichação contra o presidente interino Roberto Micheletti
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)
Pela primeira vez desde a deposição do presidente Manuel
Zelaya, há duas semanas, o governo interino hondurenho
suspendeu ontem o toque de
recolher e a restrição de algumas garantias constitucionais.
Na maior parte do tempo, a
proibição de circular funcionou
das 22h às 5h, levando o comércio a fechar as portas mais cedo.
Nesse intervalo, ficaram suspensos alguns direitos individuais, como o de reunião e de
manifestação. Há oito dias,
quando a tentativa de Zelaya de
retornar ao país de avião provocou confrontos e a morte de
dois manifestantes, a restrição
foi antecipada para as 19h.
O presidente interino Roberto Micheletti disse que o toque
de recolher era necessário para
evitar confrontos no país e reduzir a criminalidade. Já Zelaya acusou seu ex-aliado de usar
a medida para perseguir internamente seus seguidores com
repressão policial.
O fim da restrição coincide
com o esvaziamento das manifestações pró-Zelaya. Ontem,
uma semana depois da marcha
de milhares de pessoas até o aeroporto, houve só uma concentração que não chegou a lotar
uma pequena praça no centro
de Tegucigalpa.
Apesar da pouca mobilização, as lideranças pró-Zelaya
prometem aumentar a pressão
no país nos próximos dias.
"Vamos tornar a coisa mais
pesada. A orientação é para fechar todas as entradas do país,
incluindo estradas, portos e aeroportos, e convocar uma greve
geral para quinta e sexta-feira",
disse à Folha o sindicalista
Milton Bardales, que, na semana passada, acompanhou Zelaya à Costa Rica durante a fracassada primeira rodada de negociações entre representantes
de governo interino e o presidente deposto.
A tática de greve geral e de
bloqueio de estradas já foi tentada nas últimas semanas, com
poucos resultados. Apenas a federação dos sindicatos de professores, à qual Bardales está
vinculado, conseguiu uma ampla paralisação, levando ao fechamento temporário da maioria das escolas.
A marchas diárias favoráveis
e contrárias a Zelaya não impediram que o comércio abrisse
as portas durante a maior parte
das últimas duas semanas. A
distribuição de alimentos,
combustíveis e outros produtos de primeira necessidade até
agora não foi afetada pela crise.
Já no campo diplomático, o
presidente da Costa Rica, Óscar Arias, que intermedeia as
negociações, disse ontem que
uma nova rodada de negociações pode ser realizada dentro
de uma semana. Em entrevista
à agência Reuters, o presidente
interino Micheletti disse que
"não tem nenhum problema"
com uma anistia a Zelaya, acusado de 18 crimes vinculados à
sua tentativa de promover uma
Assembleia Constituinte, mas
reiterou que não aceita a volta
do presidente deposto ao poder
"de nenhuma maneira".
Uma pesquisa do instituto
Gallup publicada na quinta
mostra que 46% dos hondurenhos são contra a deposição de
Zelaya, enquanto 41% são favoráveis ao golpe. Os outros 13%
não responderam.
O levantamento foi realizado
entre os dias 30 de junho (dois
dias após o golpe) e 4 de julho,
com uma margem de erro de
dois pontos percentuais.
De acordo com a pesquisa,
no entanto, 56% se disseram
contrários a uma reforma
constitucional que permitisse a
reeleição presidencial, embora
Zelaya nunca tenha dito que
incluiria essa mudança numa
eventual Constituinte.
Zelaya foi deposto em 28 de
junho, dia em que pretendia
realizar uma votação para angariar apoio à convocação de
uma Constituinte. A insistência na consulta, declarada ilegal
pela Justiça e pelo Congresso,
foi a principal justificativa para
derrubá-lo da Presidência.
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