São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 2009

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Honduras põe fim a toque de recolher

Medida, anunciada duas semanas após golpe, é sinal que protestos pela volta do presidente deposto estão arrefecendo

Sindicalista aliado de Manuel Zelaya anuncia, porém, a intenção de intensificar pressão sobre golpistas, com greve geral e bloqueios

Edgard Ganildo/Reuters
Soldados hondurenhos montam guarda em frente a muro do palácio presidencial, em Tegucigalpa, com pichação contra o presidente interino Roberto Micheletti

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)

Pela primeira vez desde a deposição do presidente Manuel Zelaya, há duas semanas, o governo interino hondurenho suspendeu ontem o toque de recolher e a restrição de algumas garantias constitucionais.
Na maior parte do tempo, a proibição de circular funcionou das 22h às 5h, levando o comércio a fechar as portas mais cedo. Nesse intervalo, ficaram suspensos alguns direitos individuais, como o de reunião e de manifestação. Há oito dias, quando a tentativa de Zelaya de retornar ao país de avião provocou confrontos e a morte de dois manifestantes, a restrição foi antecipada para as 19h.
O presidente interino Roberto Micheletti disse que o toque de recolher era necessário para evitar confrontos no país e reduzir a criminalidade. Já Zelaya acusou seu ex-aliado de usar a medida para perseguir internamente seus seguidores com repressão policial.
O fim da restrição coincide com o esvaziamento das manifestações pró-Zelaya. Ontem, uma semana depois da marcha de milhares de pessoas até o aeroporto, houve só uma concentração que não chegou a lotar uma pequena praça no centro de Tegucigalpa.
Apesar da pouca mobilização, as lideranças pró-Zelaya prometem aumentar a pressão no país nos próximos dias.
"Vamos tornar a coisa mais pesada. A orientação é para fechar todas as entradas do país, incluindo estradas, portos e aeroportos, e convocar uma greve geral para quinta e sexta-feira", disse à Folha o sindicalista Milton Bardales, que, na semana passada, acompanhou Zelaya à Costa Rica durante a fracassada primeira rodada de negociações entre representantes de governo interino e o presidente deposto.
A tática de greve geral e de bloqueio de estradas já foi tentada nas últimas semanas, com poucos resultados. Apenas a federação dos sindicatos de professores, à qual Bardales está vinculado, conseguiu uma ampla paralisação, levando ao fechamento temporário da maioria das escolas.
A marchas diárias favoráveis e contrárias a Zelaya não impediram que o comércio abrisse as portas durante a maior parte das últimas duas semanas. A distribuição de alimentos, combustíveis e outros produtos de primeira necessidade até agora não foi afetada pela crise.
Já no campo diplomático, o presidente da Costa Rica, Óscar Arias, que intermedeia as negociações, disse ontem que uma nova rodada de negociações pode ser realizada dentro de uma semana. Em entrevista à agência Reuters, o presidente interino Micheletti disse que "não tem nenhum problema" com uma anistia a Zelaya, acusado de 18 crimes vinculados à sua tentativa de promover uma Assembleia Constituinte, mas reiterou que não aceita a volta do presidente deposto ao poder "de nenhuma maneira".
Uma pesquisa do instituto Gallup publicada na quinta mostra que 46% dos hondurenhos são contra a deposição de Zelaya, enquanto 41% são favoráveis ao golpe. Os outros 13% não responderam.
O levantamento foi realizado entre os dias 30 de junho (dois dias após o golpe) e 4 de julho, com uma margem de erro de dois pontos percentuais.
De acordo com a pesquisa, no entanto, 56% se disseram contrários a uma reforma constitucional que permitisse a reeleição presidencial, embora Zelaya nunca tenha dito que incluiria essa mudança numa eventual Constituinte.
Zelaya foi deposto em 28 de junho, dia em que pretendia realizar uma votação para angariar apoio à convocação de uma Constituinte. A insistência na consulta, declarada ilegal pela Justiça e pelo Congresso, foi a principal justificativa para derrubá-lo da Presidência.


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