São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2011

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Berlusconi apela por calma, mas mercado ignora e segue tenso

Premiê fala em sacrifício, mas custo de títulos italianos bate novo recorde

Medo de investidores é que, após Portugal, Grécia e Irlanda, crise atinja Itália, 3ë maior PIB da zona do euro

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, pediu ontem "união nacional" e "sacrifícios" para reduzir a dívida do país, no dia em que o custo de financiamento da Itália bateu recorde, indicando um aumento na desconfiança do mercado.
"Estamos na linha de frente de uma batalha econômica", disse Berlusconi, descrevendo a crise econômica que ameaça o futuro da zona do euro. "Precisamos eliminar dúvidas sobre a credibilidade de nosso Orçamento."
Na Europa, há indícios de contágio da crise que derrubou a Grécia em vários países -Bélgica, Espanha e até França tiveram alta no retorno de seus títulos, que corresponde a quanto esses governos precisam pagar de juros para tomar dinheiro emprestado.
O retorno dos títulos italianos bateu o recorde de 6,09%, maior índice desde setembro de 2008, pico da crise financeira, antes de fechar um pouco mais baixo.
O economista Nouriel Roubini, famoso por "prever" a crise imobiliária de 2008, alertou que Grécia, Irlanda e Portugal precisaram de pacotes de resgate do FMI quando as taxas de retorno de seus títulos chegaram a 7%. A Irlanda teve ontem seus títulos rebaixados pela agência de classificação Moody's à categoria "junk" (lixo), arriscada para investimento. A agência havia rebaixado Portugal na semana passada.
Os títulos italianos e a Bolsa do país tiveram leve recuperação ao longo do dia, porque o governo da Itália conseguiu vender de forma bem-sucedida (embora a taxas altas) € 6,75 bilhões em títulos.
Segundo informações do mercado, a China teria sido a maior compradora. Os chineses já haviam surgido como "salvadores da lavoura" na venda de títulos de Portugal. O Legislativo italiano aprovou ontem uma medida que vai acelerar a tramitação de um plano de austeridade, que prevê corte de € 40 bilhões.
A Itália tem um endividamento correspondente a 120% de seu PIB, perdendo só da Grécia, e baixo crescimento, de 1,3% em 2010. O medo é que depois de Grécia, Portugal e Irlanda, a Itália possa ser a próxima peça de dominó a cair na crise da dívida europeia. A quebra da Itália seria catastrófica. O país tem o terceiro maior mercado de títulos de dívida do mundo, atrás de EUA e Japão. Trata-se de uma economia muito mais relevante para a UE do que Portugal e Grécia.
Autoridades europeias devem fazer uma reunião sexta-feira para acelerar suas discussões sobre as maneiras de resolver a crise na Grécia. As negociações apontam para necessidade de reduzir o tamanho da dívida grega. Ou seja, não vai adiantar alongar vencimentos dos títulos: os credores vão ter que arcar com algum calote.


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