São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2011

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'EUA já sofrem impacto de crise europeia'

Mohamed El-Erian, da Pimco, mostra preocupação com exposição de fundos americanos a bancos do continente

Presidente da empresa, que administra fundos, afirma, no entanto, que a situação da Itália não é ruim como a da Grécia

DE SÃO PAULO

A crise da dívida europeia é uma séria ameaça à economia americana, porque os fundos de investimentos dos Estados Unidos têm grande exposição a ações de bancos europeus. Esse é o alerta de Mohamed El-Erian, presidente da Pimco, uma das maiores administradoras de recursos do mundo.
O mercado de fundos de curto prazo dos EUA, com mais de US$ 3 trilhões em recursos, aplica significativamente em ações dos bancos europeus, que estão recheados de títulos da dívida de países como Grécia, Portugal e Irlanda, no olho do furacão. "Em suas declarações mais recentes, Ben Bernanke, presidente do Fed [Banco Central americano], indicou que está monitorando isso com muito cuidado, e ele tem motivos para isso", disse El-Erian.
(PATRÍCIA CAMPOS MELLO)

 


Folha - Se não houver avanços nas negociações do teto do endividamento público, há riscos de a turbulência europeia contaminar os EUA?
Mohamed El-Erian -
Os EUA já estão sendo impactados de três maneiras. As primeiras duas são administráveis -a terceira é a mais preocupante e exige muita atenção.
Em primeiro lugar, uma crise na Europa significa menor crescimento econômico no mundo em geral. Em segundo lugar, representa mais riscos para as instituições financeiras. Esses dois fatores vão desacelerar o crescimento nos EUA, a criação de empregos e agravar os desafios do endividamento do país.
O terceiro fator é uma grande ameaça. Há dúvidas legítimas sobre o grau de exposição dos fundos de investimentos americanos a bancos europeus. Em suas declarações mais recentes, o presidente do Federal Reserve [BC dos EUA], Ben Bernanke, indicou que está monitorando isso com muito cuidado, e ele tem motivos para isso.

A Itália está entrando em uma crise semelhante à grega?

A Itália não é a Grécia. A Itália tem um alto endividamento, mas os vencimentos das dívidas são muito mais administráveis, e a base de credores é menos volátil, porque são domésticos. Além disso, há menos "fadiga de ajuste econômico" entre a população.

Um ministro italiano chegou a dizer que, se a Itália quebrar, o euro quebra.
As turbulências no mercado da Itália são muito preocupantes. A Itália é bem maior do que a Grécia e tem um papel bem mais importante dentro da zona do euro. As autoridades italianas precisam agir rápido para lidar com as turbulências. E precisamos de uma abordagem mais coerente das autoridades europeias, porque a incapacidade de elas chegarem a iniciativas consistentes está prejudicando a credibilidade do governo europeu. Temos hoje um minicolapso na Grécia, um movimento de debandada de vários investimentos.

Existe um risco de contágio na União Europeia?
Se a turbulência na Itália continuar, significativo.

Como a crise europeia e o impasse da dívida dos EUA afetam o Brasil no curto prazo?
Como outros países, o Brasil precisa apertar o cinto, porque vai navegar uma economia global muito mais volátil. Mas o Brasil está em boa posição para apertar suas políticas (monetária e fiscal). As reservas internacionais são fartas.


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