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COLÔMBIA
Medida visa financiar aumento do efetivo nas Forças Armadas; para Farc, "é jogar mais combustível no conflito"
Uribe decreta exceção e cria taxa de guerra
DA REDAÇÃO
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, declarou ontem estado de comoção interna por 90 dias, medida de exceção que lhe
permite governar por decreto, e
criou uma taxa sobre propriedades para financiar um aumento
no efetivo das Forças Armadas.
A medida foi anunciada menos
de uma semana depois de um ataque das Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia),
principal guerrilha do país, ter
matado 21 pessoas e ferido mais
de 60 em Bogotá, na quarta-feira,
a poucas quadras do Congresso,
onde Uribe tomava posse.
O estado de comoção prevê ainda a possibilidade de medidas de
restrição de liberdades de movimento, mas o governo diz que
não pretende torná-las efetivas.
O direitista Uribe assumiu a
Presidência na semana passada
com 77% de aprovação popular,
depois de ter vencido a eleição já
no primeiro turno, em maio, com
a promessa de pulso firme contra
os grupos armados ilegais.
O estado de exceção foi criticado pelas Farc em comunicado divulgado ontem numa página do
grupo na internet. "É jogar mais
combustível no conflito político,
social e armado que sofre o povo
colombiano", diz o texto. "Está se
configurando a todo vapor um
Estado fascista que garanta à oligarquia continuar governando
sem os incômodos do movimento popular em suas mais variadas
expressões."
A medida recebeu o respaldo da
principal entidade empresarial do
país, a Andi (Associação Nacional
de Industriais). "É um esforço que
vai doer, mas o setor privado vai
fazê-lo a fim de que a Colômbia
recupere seus níveis de segurança", disse o presidente da Andi,
Luis Carlos Villegas.
"Regime de terror"
O decreto da exceção foi lido na
madrugada de ontem pelo ministro do Interior, Fernando Londoño, após reunião de gabinete que
durou todo o domingo. "A nação
está sujeita a um regime de terror
no qual a autoridade democrática
está afundando", diz o texto.
Segundo o ministro, o estado de
comoção interna é também uma
resposta à ofensiva terrorista das
Farc desde fevereiro, quando foi
rompido o processo de paz com o
grupo, iniciado em 1998.
No fim de junho, a guerrilha deu
um ultimato a todos os prefeitos e
governadores do país para que renunciassem aos seus cargos, sob a
ameaça de se tornarem alvos do
grupo. Mais de 150 dos 1.097 prefeitos já renunciaram.
O estado de exceção é válido por
90 dias, com a possibilidade de ser
prorrogado por mais 90 dias com
a autorização do Congresso.
Com os poderes conferidos pela
medida, o governo pretende arrecadar US$ 780 milhões cobrando
uma nova taxa de 1,2% sobre propriedades de mais de US$ 60 mil
de empresas e pessoas físicas.
O dinheiro deve ser usado para
criar duas novas brigadas de elite
para o Exército, com 3.000 soldados, contratar mais 10 mil policiais e financiar uma rede de 100
mil informantes civis para as forças de segurança. Também devem ser contratados mais promotores, juízes e funcionários de direitos humanos.
A organização internacional
Repórteres Sem Fronteiras expressou preocupação sobre as
consequências do estado de exceção. Em carta enviada a Uribe, o
presidente da entidade, Robert
Ménard, disse que, "em nenhum
caso, uma medida de restrição deve ser aplicada aos profissionais
de imprensa".
Segundo o ministro do Interior,
o governo não usará os poderes
especiais para restringir os direitos civis. A lei permitiria a limitação do direito de ir e vir, buscas
em propriedades privadas sem
mandado judicial e prisão de suspeitos por decreto.
O estado de comoção interna,
previsto pela Constituição de
1991, substituiu o estado de sítio,
após um período de três décadas
nas quais a exceção vigorou cerca
de 75% do tempo. A mudança
restringiu a decretação de exceção. A Colômbia enfrenta uma
guerra civil há quatro décadas, e
somente nos últimos dez anos
mais de 40 mil pessoas morreram
em consequência do conflito.
Com agências internacionais
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