São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Secretário da Defesa estuda uso em todo o planeta de forças especiais com "permissão para matar" terroristas

EUA planejam ações militares clandestinas

THOM SHANKER
JAMES RISEN

DO "THE NEW YORK TIMES"

O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, está estudando maneiras de expandir a participação das forças especiais militares americanas numa campanha global contra o terrorismo. Entre as possibilidades, está a de mandá-las para várias partes do mundo em ações clandestinas, à revelia até mesmo dos países envolvidos.
Essas operações clandestinas seriam justificadas, argumentaram as autoridades do Pentágono (comando militar americano, subordinado a Rumsfeld), pela necessidade de travar "uma nova guerra, que não conhece fronteiras". O principal objetivo, ao menos por enquanto, seria capturar ou matar os líderes da Al Qaeda, disseram fontes do Pentágono.
Outras autoridades americanas, porém, temem que esse tipo de proposta leve os militares a se envolver em operações secretas que tradicionalmente são conduzidas pela CIA (agência de inteligência) sob um rígido controle legal -as missões são definidas por diretrizes secretas apresentadas ao Congresso pelo presidente.
Discute-se também o quanto essas operações especiais entrariam em conflito com as ordens presidenciais proibindo assassinatos.
Nos governos passados, houve um claro esforço de distinguir entre as atividades de combate e operações especiais e as missões levadas a cabo pela CIA. A linha que as separa vem gradualmente ficando menos claras, enquanto a campanha antiterrorista começa a exigir maior cooperação entre os serviços de inteligência e as autoridades militares.
Rumsfeld disse, inclusive, que pode ser necessário que essas diretrizes secretas presidenciais autorizem o emprego de "força letal" nas missões, para que as operações especiais possam capturar ou matar membros da Al Qaeda no país em que estejam. "Estamos em guerra com a Al Qaeda, se encontrarmos um combatentes inimigo, temos de poder usar forças militares em ações contra eles", disse um militar.
Não há planos formais escritos por Rumsfeld, pois as discussões estão ainda numa fase inicial, mas ele deve apresentar logo um quadro de propostas ao presidente George W. Bush. O secretário da Defesa está frustrado com o insucesso em destruir a Al Qaeda.
Uma diretiva secreta enviada recentemente pelo Pentágono ao Comando de Operações Especiais afirmou que mais dinheiro, equipamentos e pessoal seriam considerados, caso o presidente e o secretário da Defesa o liberasse para atacar os terroristas em lugares além do Afeganistão.
Autoridades de fora do Pentágono afirmam que Rumsfeld está tentando aumentar os limites das operações especiais, ocupando áreas até de contra-inteligência política e operações clandestinas normalmente cobertas pela CIA.
Donald Rumsfeld estaria também insatisfeito com o fato de a CIA ter criado laços com os chefes de clã do Afeganistão havia mais de dois anos antes de 11 de setembro, mas essas ligações muitas vezes acabaram interferindo de modo negativo nas tentativas que os militares fizeram de se aproximar dos afegãos.
Soldados americanos têm historicamente sido emprestados para missões dirigidas pela CIA. No Afeganistão, um membro de alta hierarquia no Departamento da Defesa disse que a idéia era a de formalizar uma "relação mais próxima", com as forças especiais participando de modo mais ativo nas operações de inteligência e nas operações de "ação direta" -ou seja, que usem força letal.

Unidades especiais
Bush, como Bill Clinton, antes dele, já autorizou diretrizes de uso da força letal contra Osama bin Laden e membros da Al Qaeda.
Uma das missões pouco convencionais dos militares americanos -em especial os Boinas Verdes, que ficaram famosos por terem sido retratados no cinema- tem sido a de treinar Exércitos estrangeiros ou guerrilheiros para combater terroristas.
Outros dois grupos altamente secretos estão sendo designados para o combate ao terrorismo: a unidade especial conhecida como Força Delta e o grupo naval conhecido como Seal Equipe Seis.
Essas duas unidades desempenharam um importante papel na ofensiva que resultou na derrubada do regime do Taleban. Elas agora poderiam se voltar para as ações secretas. "Elas [as forças especiais] perderam seu foco por causa de suas limitações", disse um oficial americano.


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