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"Triângulo xiita" é o
novo desafio dos EUA
KHALED YACOUB OWEIS
DA REUTERS, EM BAGDÁ
Os comerciantes xiitas das cercanias da mesquita Kazimain em
Bagdá são historicamente contra
as atitudes do líder xiita Moqtada
al Sadr e de seu pai. Porém, mesmo assim, condenaram a ofensiva
americana contra o clérigo e os
seus seguidores em Najaf.
Enquanto as forças americanas
bombardeavam Najaf e cercavam
a mesquita de Ali, mais iraquianos expressavam preocupação
sobre o que eles chamam de força
bruta para esmagar o levante liderado por Al Sadr. Eles disseram
que essas táticas não servirão no longo
prazo para estabilizar o Iraque pós-Saddam Hussein.
"Se os EUA
matarem Moqtada, será uma
tragédia para o
Iraque e para o
xiismo como
um todo. Particularmente,
não gosto de
alguns de seus
criminosos seguidores, mas
o banho de
sangue deve
parar", disse
Mohammad
Aziz, que importa tecidos
da Ásia.
"Os americanos não entendem que os iraquianos que
estão massacrando são nossos parentes. Eles
devem usar os cérebros. Al Sadr,
por sua vez, precisa entender que
nem Saddam conseguiu enfrentá-los [os EUA]", acrescentou.
Sem movimento
O mercado ao redor da mesquita Kazimain, normalmente um
dos mais movimentados do Iraque, estava quase vazio por causa
do medo do levante. Muitas lojas
foram fechadas e havia poucos
clientes. Com o seu domo dourado, a mesquita, local do mausoléu
de dois importantes imãs xiitas,
não foi aberta ao público.
Fotografias de Al Sadr e de seus
falecidos pai e tio estão penduradas em todos os locais. Os dois
mortos se tornaram figuras proeminentes na história xiita por
suas posturas desafiadoras.
Saddam executou o tio de Al
Sadr Mohammad Baqer, um dos
mais expressivos pensadores xiitas, em 1980. Ele era conhecido
como o "leão branco" por ter se
recusado a reverenciar Saddam
para salvar a própria vida. Mohammad Sadeq, pai de Al Sadr,
foi morto em 1999. Ele desafiou
Saddam e a autoridade religiosa
do aiatolá Ali al Sistani, uma liderança xiita que não apóia o envolvimento dos clérigos com a política -alguns de seus seguidores
manifestaram apoio a Al Sadr,
que prometeu não se render.
"Os americanos não nos derrotarão matando Moqtada. Nós demos a eles até janeiro para realizar
eleições e depois devem sair. O
problema de Moqtada é que ele
não é tão paciente quanto
Sistani", disse
o joalheiro Faleh Kawthar.
Na rua, centenas de estudantes do seminário de Al
Sadr marchavam, carregando fotografias
de Al Sadr e
perguntando
sobre notícias
de seu líder.
"Nós triunfaremos mesmo se
sofrermos uma
derrota militar
em Najaf. Está
claro que o governo instalado pelos EUA
de Iyad Allawi
[premiê] efetivamente já
ruiu", disse o
religioso islâmico Hazem al
Araji.
Do outro lado do rio Tigre, na
mesquita do imã Abu Hanifah, no
distrito de Adhamiya, os muçulmanos manifestaram apoio a Al
Sadr, dizendo que ele é um nacionalista cuja campanha contra a
ocupação tem encontrado simpatizantes tanto entre os xiitas quanto entre os sunitas -os dois principais ramos do islamismo. Hoje
o Iraque é majoritariamente xiita.
Porém a minoria sunita governou
o país desde a sua fundação, nos
anos 20.
Nova frente
"Moqtada acabou com o mito
americano de que a resistência está confinada ao que eles chamam
de triângulo sunita", disse o imã
Moyad al Adhami. "Os americanos também estão tendo de lidar
com o "triângulo xiita" em Amara,
Nassiriah, Basra e em outras partes. Essa resistência não acabará",
acrescentou.
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