São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

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Corrida agora é por atualização tecnológica

DA SUCURSAL DO RIO

O relatório de 2009 do Sipri (Instituto de Estudos da Paz de Estocolmo), divulgado em junho, apontou aumento de 50% nos gastos militares da América do Sul entre 1999 e 2008, quase o dobro do crescimento nos dez anos anteriores.
O Sipri verificou aumento geral dos gastos, em parte devido ao crescimento econômico do período. Mas, assim como o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres), evitou falar em "corrida armamentista" tradicional, quando um passo do inimigo provoca reação idêntica do outro lado.
Essa decisão não minimiza os riscos do armamentismo, mas traduz o fato de os gastos terem características diferentes em cada país.
A Colômbia, por exemplo, tem as maiores Forças Armadas (400 mil homens) e o segundo maior orçamento militar (o primeiro é o do Brasil). Mas, voltada para o conflito interno de mais de meio século, Bogotá compra pouco equipamento sofisticado.
A debilidade para guerras convencionais é antiga na Colômbia, relata o historiador Saul Rodríguez-Hernández, mas hoje também significa uma acomodação à aliança com os Estados Unidos.
"A ameaça [para os vizinhos] não vem das armas que a Colômbia compra diretamente, mas sim da relação que tem com os EUA."
Apesar do Plano Colômbia, o Exército ainda não tem pleno controle das fronteiras do país. Dependeria, contra a narcoguerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), da colaboração de Venezuela e Equador, o que é motivo das constantes fricções e trocas de acusações entre os vizinhos andinos.
Chávez iniciou uma febre de compras de caças, tanques e metralhadoras em 2006, depois de quase 15 anos em que a Venezuela se armou muito pouco. Os EUA "praticamente o jogaram nos braços da Rússia", diz o analista chileno Raúl Söhr, a respeito do veto a vendas de aviões brasileiros e espanhóis equipados com componentes americanos.
Há temor das aquisições chavistas, principalmente na Colômbia, mas os analistas dizem que elas não impediriam uma eventual ação americana, como o venezuelano diz temer, e que foram dinheiro mal gasto. "Por várias razões, incluindo tensões internas e dificuldade de adequação da tecnologia, a curva de desgaste desse potencial bélico é muito alta", diz o consultor Salvador Raza.
O Chile foi o país sul-americano que teve, nos últimos anos, os gastos militares mais constantes, graças à alta do cobre -por lei, os militares ficam com 10% das vendas do metal, destinados à compra de armas. A despesa pode cair em 2010 com a revogação da Lei do Cobre, segundo projeto em tramitação no Congresso.
No período de abundância, os militares chilenos foram os primeiros na região a ter submarinos Scorpène (como os que o Brasil comprou da França) e caças F-16 americanos.
Esse movimento deu origem na região a um tipo específico de corrida armamentista, em que o novo patamar tecnológico vira referência para os vizinhos. É o que deve acontecer agora, por exemplo, com a compra pelo Brasil de aviões ainda mais modernos. (CA)


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