São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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ANTRAZ EM NOVA YORK

Traços da bactéria são detectados em uma funcionária da TV NBC e ampliam o pânico na cidade

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O antraz chegou ao coração de Nova York ontem. A emissora de TV NBC anunciou que traços da bactéria foram detectados sob a pele de uma funcionária do programa "Nightly News". A sede da empresa fica no Rockefeller Plaza, em Manhattan, um dos pontos turísticos da cidade.
A contaminação subcutânea é mais rara do que a pela respiração e menos letal. Segundo o FBI (polícia federal), a bactéria pode ter vindo no envelope de uma carta de conteúdo ameaçador endereçada ao âncora Tom Brokaw, recebida em 25 de setembro e que continha um pó branco.
No mesmo dia, a direção do jornal "The New York Times" anunciou que recebeu um envelope considerado suspeito, também com pó no interior. A destinatária era a repórter Judith Miller, e o andar em que fica a redação chegou a ser esvaziado.
De acordo com o diretor do FBI em Nova York, Barry Mawn, ambas as cartas vieram da cidade de São Petersburgo, na Flórida, e foram postadas depois dos ataques de 11 de setembro. Foram escritas à mão, com uma letra parecida.
Nos últimos dias, três pessoas foram contaminadas com a bactéria na Flórida, todas funcionárias da American Media, de publicações sensacionalistas. Duas estão internadas e uma morreu.
Além disso, um funcionário americano disse crer que a Al Qaeda, a rede terrorista de Osama bin Laden, apontada como responsável pelos atentados, tem capacidade de produzir antraz.
Mas tanto o chefe da polícia federal em Nova York quanto o ministro da Justiça norte-americano negaram a princípio ligação dos dois casos de ontem com os ataques de 11 de setembro e mesmo com os casos da Flórida. "A princípio, serão investigações criminais separadas", disse Mawn.
A notícia de que a bactéria tinha chegado a Nova York derrubou as Bolsas em Wall Street e contribuiu para aumentar o clima de pânico. Nos primeiros minutos após o fato ter vazado para a imprensa, a TV exibiu declarações tranquilizadoras de autoridades, do presidente George W. Bush ao prefeito Rudolph Giuliani.
"Isso causa preocupação, mas estamos agindo rapidamente", disse Bush. "A nação ainda está em perigo, mas o governo está fazendo o que pode para proteger a população." Já o vice-presidente Dick Cheney foi mais incisivo: "Acho que a posição mais responsável é proceder como se [os casos de antraz e os atentados do dia 11" pudessem ter ligação".
Até agora, todas as empresas afetadas são de mídia. Oficialmente, o governo nega que o ocorrido seja um ataque orquestrado. "Ainda não temos qualquer conclusão", disse o ministro John Ashcroft.
Segundo a Folha apurou junto a oficiais da polícia de Nova York, no entanto, o FBI trabalha tanto com a hipótese de os casos da Flórida e de Nova York serem do mesmo autor quanto de o alvo ser mesmo a mídia do país.
Por conta disso, todas as emissoras de TV aberta do país interromperam o recebimento e a entrega de sua correspondência ontem. Tiveram a mesma atitude as redações da agência de notícias "Associated Press" e do tablóide nova-iorquino "Daily News".
A Folha teve acesso à orientação interna distribuída ontem aos funcionários da CNN, em que a empresa anunciava que o recebimento de toda a correspondência externa está interrompido até segunda ordem. "A partir de agora, todos os envelopes que chegarem aos prédios da CNN em Nova York, Washington, Atlanta, Hong Kong e Londres serão submetidos a raio-x", dizia o texto.
A Folha falou com um funcionário do programa "Today", que trabalha no mesmo andar da funcionária contaminada da NBC e pediu para não ter seu nome revelado. Segundo ele, todas as pessoas que tiveram contato com ela tiveram de responder a um questionário, recolher amostras da mucosa nasal e passar a tomar a partir de hoje antibiótico.
O Centro de Controle de Doenças de Nova York lacrou o terceiro andar da NBC e outros dois pisos do prédio. A contaminada, de 38 anos, assistente do âncora Tom Brokaw, está sendo tratada com antibióticos e passa bem.
No "New York Times", a diretora de relações públicas, Kathy Park, disse que "ninguém foi ferido ou está sob perigo imediato". Segundo ela, "o ar da redação foi testado para substâncias químicas e radiativas e o resultado da carta sai amanhã (hoje)". A repórter Judith Miller trabalha na cobertura da ação no Afeganistão.
No final da noite de ontem, o governador do Estado de Nevada disse que uma carta enviada a uma empresa na cidade de Reno estava sendo testada sob suspeita de conter antraz. A empresa é uma das afiliadas da gigante de informática Microsoft.
Na Flórida, rastros da bactéria foram encontrados em cinco lugares do prédio da American Media, em Boca Raton. Por isso, a polícia federal está testando os funcionários de três postos de correio que servem a região.



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