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ANTRAZ EM NOVA YORK
Traços da bactéria são detectados em uma funcionária da TV NBC e ampliam o pânico na cidade
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
O antraz chegou ao coração de
Nova York ontem. A emissora de
TV NBC anunciou que traços da
bactéria foram detectados sob a
pele de uma funcionária do programa "Nightly News". A sede da
empresa fica no Rockefeller Plaza,
em Manhattan, um dos pontos
turísticos da cidade.
A contaminação subcutânea é
mais rara do que a pela respiração
e menos letal. Segundo o FBI (polícia federal), a bactéria pode ter
vindo no envelope de uma carta
de conteúdo ameaçador endereçada ao âncora Tom Brokaw, recebida em 25 de setembro e que
continha um pó branco.
No mesmo dia, a direção do jornal "The New York Times" anunciou que recebeu um envelope
considerado suspeito, também
com pó no interior. A destinatária
era a repórter Judith Miller, e o
andar em que fica a redação chegou a ser esvaziado.
De acordo com o diretor do FBI
em Nova York, Barry Mawn, ambas as cartas vieram da cidade de
São Petersburgo, na Flórida, e foram postadas depois dos ataques
de 11 de setembro. Foram escritas
à mão, com uma letra parecida.
Nos últimos dias, três pessoas
foram contaminadas com a bactéria na Flórida, todas funcionárias da American Media, de publicações sensacionalistas. Duas estão internadas e uma morreu.
Além disso, um funcionário
americano disse crer que a Al
Qaeda, a rede terrorista de Osama
bin Laden, apontada como responsável pelos atentados, tem capacidade de produzir antraz.
Mas tanto o chefe da polícia federal em Nova York quanto o ministro da Justiça norte-americano
negaram a princípio ligação dos
dois casos de ontem com os ataques de 11 de setembro e mesmo
com os casos da Flórida. "A princípio, serão investigações criminais separadas", disse Mawn.
A notícia de que a bactéria tinha
chegado a Nova York derrubou as
Bolsas em Wall Street e contribuiu para aumentar o clima de
pânico. Nos primeiros minutos
após o fato ter vazado para a imprensa, a TV exibiu declarações
tranquilizadoras de autoridades,
do presidente George W. Bush ao
prefeito Rudolph Giuliani.
"Isso causa preocupação, mas
estamos agindo rapidamente",
disse Bush. "A nação ainda está
em perigo, mas o governo está fazendo o que pode para proteger a
população." Já o vice-presidente
Dick Cheney foi mais incisivo:
"Acho que a posição mais responsável é proceder como se [os casos
de antraz e os atentados do dia 11"
pudessem ter ligação".
Até agora, todas as empresas
afetadas são de mídia. Oficialmente, o governo nega que o
ocorrido seja um ataque orquestrado. "Ainda não temos qualquer conclusão", disse o ministro
John Ashcroft.
Segundo a Folha apurou junto a
oficiais da polícia de Nova York,
no entanto, o FBI trabalha tanto
com a hipótese de os casos da Flórida e de Nova York serem do
mesmo autor quanto de o alvo ser
mesmo a mídia do país.
Por conta disso, todas as emissoras de TV aberta do país interromperam o recebimento e a entrega de sua correspondência ontem. Tiveram a mesma atitude as
redações da agência de notícias
"Associated Press" e do tablóide
nova-iorquino "Daily News".
A Folha teve acesso à orientação
interna distribuída ontem aos
funcionários da CNN, em que a
empresa anunciava que o recebimento de toda a correspondência
externa está interrompido até segunda ordem. "A partir de agora,
todos os envelopes que chegarem
aos prédios da CNN em Nova
York, Washington, Atlanta, Hong
Kong e Londres serão submetidos
a raio-x", dizia o texto.
A Folha falou com um funcionário do programa "Today", que
trabalha no mesmo andar da funcionária contaminada da NBC e
pediu para não ter seu nome revelado. Segundo ele, todas as pessoas que tiveram contato com ela
tiveram de responder a um questionário, recolher amostras da
mucosa nasal e passar a tomar a
partir de hoje antibiótico.
O Centro de Controle de Doenças de Nova York lacrou o terceiro
andar da NBC e outros dois pisos
do prédio. A contaminada, de 38
anos, assistente do âncora Tom
Brokaw, está sendo tratada com
antibióticos e passa bem.
No "New York Times", a diretora de relações públicas, Kathy
Park, disse que "ninguém foi ferido ou está sob perigo imediato".
Segundo ela, "o ar da redação foi
testado para substâncias químicas e radiativas e o resultado da
carta sai amanhã (hoje)". A repórter Judith Miller trabalha na cobertura da ação no Afeganistão.
No final da noite de ontem, o
governador do Estado de Nevada
disse que uma carta enviada a
uma empresa na cidade de Reno
estava sendo testada sob suspeita
de conter antraz. A empresa é
uma das afiliadas da gigante de informática Microsoft.
Na Flórida, rastros da bactéria
foram encontrados em cinco lugares do prédio da American Media, em Boca Raton. Por isso, a
polícia federal está testando os
funcionários de três postos de
correio que servem a região.
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