São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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ALERTA

Empresas e repartições públicas aumentam cuidado com correspondência e segurança

Nova York vive novo dia de pânico

Reuters
Investigadores protegidos por roupas especiais se preparam para entrar no prédio do jornal "The New York Times", ontem


DE NOVA YORK

O "ponto zero" de Nova York mudou de lugar ontem. Dos escombros do World Trade Center para o número 30 do Rockefeller Plaza, na rua 49, no centro de Manhattan. É onde fica a sede da emissora NBC e para onde foi enviado um contingente de 50 policiais assim que o novo caso do antraz vazou para a imprensa.
Os homens fardados se misturavam às dezenas de carros de outras emissoras e curiosos que foram até lá ver de perto o que estava acontecendo. Numa TV ligada na CNN e assistida por uma pequena multidão, o prefeito Rudolph Giuliani pedia que a população não entrasse em pânico.
"Eu sei que as pessoas estão muito preocupadas, mas as investigações e os cuidados preventivos estão em boas mãos", dizia ele. Em vão. Mais uma vez, um mês e um dia depois do atentado, o clima da cidade ficou pesado.
"Este é o dia mais longo do ano para mim", disse à Folha Elisabeth Haymaker, 27, que trabalha na editora Simon & Schuster, cuja sede fica bem em frente à da NBC. Por medida de segurança, seu prédio também foi testado pelo Centro de Controle de Doenças. Nada foi encontrado.
"Estou contando os minutos. A cada um que passa, eu penso: "É mais um minuto em que não tem ninguém mais contaminado'", disse ela. A seu lado, a amiga Elisabeth Keenes, 23, publicitária, concordava. "Dá vontade de ir para casa, falar que estou doente e tirar o mês de folga. Só não faço isso para não assustar ainda mais meus colegas."
Perto da famosa pista de patinação do complexo de prédios art-decô imaginados pelo milionário norte-americano John D. Rockefeller e inaugurados em 1934, o advogado Paul Jones, 35, se informava do novo caso com os jornalistas presentes.
"É óbvio que os terroristas têm metas muito certeiras", disse ele. "Primeiro o World Trade Center, depois o Pentágono, agora a mídia. Seu eu fosse vocês, começava a ficar com mais medo."

"The New York Times"
Seis quarteirões ao sul da emissora, na rua 43, onde fica a sede do jornal "The New York Times", o clima não era melhor. "Já percebi que o alvo é Manhattan", disse o promotor Arnold Street, 45. "Assim, vim até aqui só pegar minhas coisas no escritório e pretendo trabalhar o resto do mês em casa, que fica no Queens."
Um dos seguranças da sede do jornal, que não quis dar seu nome, disse que as coisas estavam normais lá dentro. "Quem sempre pôde entrar continua podendo, e quem sempre foi barrado continua sendo", disse. "Não interrompemos a entrega de correspondência, só estamos sendo obviamente mais cuidadosos."
Todas as grandes empresas e as repartições públicas receberam ontem à tarde uma lista de cuidados a serem tomados distribuída pelo presidente dos correios dos EUA, John E. Potter. "Estamos pedindo que todos dobrem os cuidados, especialmente nossos empregados", disse.
Os carteiros americanos recebem, fazem a triagem e entregam 680 milhões de envelopes e pacotes por dia. Na lista, coisas como "verificar sempre o remetente".
A cidade assistiu também a uma corrida às farmácias, em busca do antibiótico Cipro, vendido com receita e usado no tratamento da doença. "Muita gente veio aqui atrás do remédio, o que é um erro", disse a farmacêutica Mary Webee, que tem um ponto na rua 45. "Este antibiótico é fortíssimo e acaba com a flora intestinal. Se a pessoa não estiver contaminada, faz mais mal do que bem."
De acordo com o secretário de Saúde norte-americano, Tommy Thompson, todos os serviços sanitários do país estão em "estado de alerta máximo" e não há razão para automedicação. "O público deve compreender que estamos atentos", disse.
A paranóia chegou até o mundo do entretenimento. A banda de metal Anthrax (Antraz, em inglês) brincou em seu site que mudaria o nome para A Basket Full of Puppets (Uma Cesta Cheia de Filhotes, em inglês). "Só o fato de a gente estar fazendo esse tipo de brincadeira já é um horror", dizia um texto na página oficial.
"Nos 20 anos em que fomos conhecidos como Anthrax, nunca pensei que chegaria o dia em que o nosso nome significaria o que realmente significa", disse Scott Ian, o vocalista da banda. "Quando aprendi sobre a bactéria nas minhas aulas de biologia do colegial, escolhi o nome porque achei que soava "metal"."
Continua: "Antes da tragédia de 11 de setembro, a única coisa assustadora sobre Anthrax eram os cortes de cabelo que a gente usava nos anos 80. Agora, nosso nome significa medo, paranóia e morte. Nós não queremos mudar o nome, não por sermos chatos, mas por acreditarmos que nada mais de ruim vai acontecer e isso não será necessário".
No P.S., o recado: "Se algum dos membros da banda for contaminado com o antraz, chamem a Alanis Morrisette. Isso sim seria irônico". (SÉRGIO DÁVILA)


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