São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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ARMA

Exército e terroristas japoneses se destacaram no uso de antraz, gás sarin e peste bubônica

Japão é exemplo na guerra biológica

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não vêm do Oriente Médio, mas sim do Japão, os melhores exemplos modernos do uso de armas biológicas e químicas, incluindo o uso de antraz, peste bubônica e gás sarin.
O gás sarin foi utilizado por integrantes da seita Aum Shinrikyo (Verdade Suprema), que fizeram um atentado no metrô de Tóquio em 1995, matando 12 pessoas e ferindo centenas.
Durante a Segunda Guerra Mundial os japoneses fizeram experimentos com seres humanos em instalações na Manchúria, região ao norte da China que estava ocupada pelo Japão.
Cerca de 3.000 prisioneiros de guerra -incluindo chineses, coreanos, mongóis, soviéticos, americanos, britânicos e australianos- viraram cobaia dos militares japoneses em locais como a notória Unidade 731. Pelo menos mil morreram em consequência de experimentos envolvendo agentes de guerra biológica como antraz, botulismo, brucelose, cólera e peste.
Um episódio pouco documentando foi o possível bombardeiro de uma cidade chinesa em 1940 com arroz contaminado e com pulgas transmissoras da peste bubônica. Pelo menos outras 11 cidades teriam sido atacadas com material contaminado.

Curdos
Vários países já usaram armas químicas em conflitos modernos, desde seu uso disseminado na Primeira Guerra Mundial. Mais recentemente foi o caso dos iraquianos contra suas populações curdas e contra os iranianos em guerra na década de 80.
Na Segunda Guerra nenhum dos lados usou armas químicas, pois isso traria retaliação imediata. Não era uma atitude "humanista", mas sim pragmática. Se houvesse o risco de arma química, os exércitos teriam de usar caras e desconfortáveis roupas especiais e máscaras, que prejudicariam a eficiência em combate.
Por isso mesmo casos envolvendo armas biológicas são ainda mais raros, pois há grande perigo de os agentes biológicos também afetarem as forças atacantes.
Seu uso como terrorismo é mais compreensível, pois o objetivo seria provocar pânico e mortes sem discriminação.
"Desde que a seita apocalíptica japonesa Aum Shinrikyo liberou o gás nervoso sarin no metrô de Tóquio, os incidentes terroristas e os alarmes falsos envolvendo agentes tóxicos ou infecciosos estão em ascensão", afirma o especialista Jonathan Tucker, do Instituto Monterey de Estudos Internacionais, da Califórnia.

"Efeito cópia"
O caso japonês provocou o chamado "efeito cópia", em que a divulgação pelos meios de comunicação tende a produzir imitadores, como se nota nos casos de adolescentes que levam armas ou mesmo matam em escolas.
"Antes do final dos anos 90, o FBI investigava tipicamente uma dúzia de casos por ano envolvendo a aquisição ou o uso dos materiais químicos, biológicos, radiológicos ou nucleares; entretanto o FBI abriu 74 dessas investigações em 1997 e 181 em 1998. Embora 80% desses incidentes tenha sido alarmes falsos, alguns foram ataques mal sucedidos", diz Tucker.
A manipulação de agentes de guerra química ou biológica exige muito cuidado, o que foi revelado por um acidente em 3 de abril de 1979 no Instituto de Microbiologia e Virologia em Sverdlovsk, então União Soviética.
Há estimativas de que tenham morrido 66 pessoas devido à inalação de esporos da bactéria causadora de antraz, além de um número ainda maior de pessoas infectadas com a bactéria.
Os soviéticos negaram que o acidente tivesse relação com um programa de armas biológicas. Só em 1992 o então presidente russo, Boris Ieltsin, admitiu que, de fato, o acidente envolveu um lançamento acidental de esporos de antraz no ar.



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