São Paulo, terça, 13 de outubro de 1998

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KREMLIN ENFRAQUECIDO
Pálido, presidente russo aborta visita ao Cazaquistão e volta a Moscou; desculpa oficial é bronquite
Doente, Boris Ieltsin interrompe viagem

PHIL REEVES
do "The Independent", no Cazaquistão

Os esforços de Boris Ieltsin para recuperar posição de liderança na Rússia terminaram em naufrágio na noite de ontem, quando ele interrompeu viagem ao exterior por problemas de saúde.
Com a cara abatida e fraco, o presidente teve de deixar o Cazaquistão e voltar a Moscou. Segundo assessores, ele está com bronquite. Mas há suspeitas de que seu estado de saúde seja mais grave.
A viagem era uma oportunidade para Ieltsin se apresentar como chefe de Estado, após dois meses desastrosos de crise na Rússia.
A doença de Ieltsin era evidente domingo à tarde, quando ele apareceu pálido, caminhando de forma desajeitada em um dos salões do palácio do presidente cazaque, Nursultan Nazarbayev.
O fracasso da viagem deu mais provas de que Ieltsin, que passa a maior parte do tempo numa casa de campo perto de Moscou, está com a confiabilidade abalada.
Ele quase caiu durante cerimônia no aeroporto de Tachkent (capital uzbeque). Seu novo porta-voz, Dmitri Iakuchkin, teve de trabalhar duro para minimizar os estragos da aparição do presidente. Disse que o líder estava resfriado e parecia desorientado em razão do vôo e do efeito de antibióticos.
Assessores tentaram ligar sua volta antecipada à crise na Iugoslávia, sob ameaça de ataque da Otan.
"Gripe" é o eufemismo utilizado na Rússia para ocultar os problemas de Ieltsin. Apenas nos últimos três anos, isso incluiu pelo menos dois ataques cardíacos (que o levaram a fazer cinco pontes de safena) e duas crises de pneumonia.
Qualquer que seja a verdade, a doença de Ieltsin vem em péssimo momento. Nas últimas semanas, ele desapareceu nas sombras, deixando as questões importantes para serem solucionadas pelo governo do premiê Primakov, formado há um mês apenas.
Mas o novo governo ainda tem de provar que tem idéias sobre como solucionar a crise econômica. O que menos interessava agora eram rumores de que o presidente estaria à beira da morte. Rumores que, hoje, são inevitáveis.


Tradução de Marcelo Starobinas



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