|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aviões-bomba são ataque à globalização
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Viajar de carro é mais perigoso
que de avião, mostram faz anos as
estatísticas -especialmente em
países como o Brasil, recordista
de acidentes automobilísticos.
Viajar de avião pequeno também é mais perigoso que viajar de
avião grande, dizem também essas estatísticas coletadas no século
20, aquele em que o homem começou a voar mais perigosamente -não só em balões de ar quente, mas também em aparelhos
mais pesados que o ar.
O problema básico é que um
acidente de carro ou de monomotor pode matar algumas poucas
pessoas. Já um Boeing ou um Airbus caindo matam centenas de
uma vez.
A chance de morrer em um fusca é maior do que num Jumbo,
mas o impacto psicossocial da
queda do Boeing 747 vai ser sempre maior.
E a utilização por terroristas do
avião como um "carro-bomba"
voador está piorando ainda mais
a já errônea percepção da humanidade sobre um dos mais seguros meios de viajar já inventados.
Nenhuma queda de avião matou
tanta gente como o afundamento
do transatlântico Titanic, em 1912,
com mais de 1.500 mortos.
Esse medo natural de voar -o
homem, afinal, é um animal terrestre- é explorado ainda mais
pelos terroristas.
Bombas em estações de trens,
ou descarrilando-os, também já
fizeram muitas vítimas. Mas o
trem anda na terra. O terrorismo
aéreo junta vários medos atávicos
de uma vez só.
O terrorismo, o medo do terror,
e o tradicional medo de andar de
avião estão fazendo as pessoas
viajarem menos. Atacar a aviação
é uma das duas melhores maneiras de atacar a "globalização" por
aqueles que são contra o maior intercâmbio entre seres humanos (a
outra maneira seria atacar a Internet).
Júlio Verne
Graças aos aviões comerciais é
fácil chegar em qualquer parte do
mundo em apenas um dia ou
pouco mais. Meses seriam necessários na era de Vasco da Gama; a
volta ao mundo deveria durar 80
dias no famoso romance de Júlio
Verne.
O contato mais rápido entre as
populações humanas (o verdadeiro e básico sentido da palavra
"globalização") graças aos meios
de transporte e de comunicação
cria atritos nas sociedades mais
tradicionais. Afegãos surfam a Internet atrás de pornografia na cidade fronteiriça de Peshawar, no
Paquistão. No seu país isso seria
causa para execução sumária.
Um avião comercial, para poder
integrar o planeta, precisa transportar toneladas de combustível.
Isso o transforma em um "kamikaze" em potencial, algo que foi
habilmente explorado em 11 de
setembro passado.
Os americanos, sua tecnologia e
seu poder de fogo venceram os
kamikazes em 1945, pois sabiam
de onde eles vinham. Hoje isso é
bem mais difícil. Boeings ou Airbuses kamikazes podem vir de
qualquer parte.
Texto Anterior: EUA reforçaram segurança após 11 de setembro Próximo Texto: Economia de guerra: Companhias aéreas sofrem novo golpe Índice
|