São Paulo, terça-feira, 13 de novembro de 2001

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Aviões-bomba são ataque à globalização

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Viajar de carro é mais perigoso que de avião, mostram faz anos as estatísticas -especialmente em países como o Brasil, recordista de acidentes automobilísticos.
Viajar de avião pequeno também é mais perigoso que viajar de avião grande, dizem também essas estatísticas coletadas no século 20, aquele em que o homem começou a voar mais perigosamente -não só em balões de ar quente, mas também em aparelhos mais pesados que o ar.
O problema básico é que um acidente de carro ou de monomotor pode matar algumas poucas pessoas. Já um Boeing ou um Airbus caindo matam centenas de uma vez.
A chance de morrer em um fusca é maior do que num Jumbo, mas o impacto psicossocial da queda do Boeing 747 vai ser sempre maior.
E a utilização por terroristas do avião como um "carro-bomba" voador está piorando ainda mais a já errônea percepção da humanidade sobre um dos mais seguros meios de viajar já inventados. Nenhuma queda de avião matou tanta gente como o afundamento do transatlântico Titanic, em 1912, com mais de 1.500 mortos.
Esse medo natural de voar -o homem, afinal, é um animal terrestre- é explorado ainda mais pelos terroristas.
Bombas em estações de trens, ou descarrilando-os, também já fizeram muitas vítimas. Mas o trem anda na terra. O terrorismo aéreo junta vários medos atávicos de uma vez só.
O terrorismo, o medo do terror, e o tradicional medo de andar de avião estão fazendo as pessoas viajarem menos. Atacar a aviação é uma das duas melhores maneiras de atacar a "globalização" por aqueles que são contra o maior intercâmbio entre seres humanos (a outra maneira seria atacar a Internet).

Júlio Verne
Graças aos aviões comerciais é fácil chegar em qualquer parte do mundo em apenas um dia ou pouco mais. Meses seriam necessários na era de Vasco da Gama; a volta ao mundo deveria durar 80 dias no famoso romance de Júlio Verne.
O contato mais rápido entre as populações humanas (o verdadeiro e básico sentido da palavra "globalização") graças aos meios de transporte e de comunicação cria atritos nas sociedades mais tradicionais. Afegãos surfam a Internet atrás de pornografia na cidade fronteiriça de Peshawar, no Paquistão. No seu país isso seria causa para execução sumária.
Um avião comercial, para poder integrar o planeta, precisa transportar toneladas de combustível. Isso o transforma em um "kamikaze" em potencial, algo que foi habilmente explorado em 11 de setembro passado.
Os americanos, sua tecnologia e seu poder de fogo venceram os kamikazes em 1945, pois sabiam de onde eles vinham. Hoje isso é bem mais difícil. Boeings ou Airbuses kamikazes podem vir de qualquer parte.


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