São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 2002

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CRISE

Aiatolá faz ameaças, mas manifestantes pró-reformas voltam às ruas pelo quarto dia para defender acadêmico condenado

Iranianos desafiam advertência e protestam

DO "THE NEW YORK TIMES"

Milhares de estudantes iranianos desafiaram advertências oficiais ontem e protestaram pelo quarto dia consecutivo contra a condenação à morte de um acadêmico reformista por apostasia.
Cerca de 5.000 pessoas se reuniram na Universidade de Teerã em apoio a Hashem Aghajari, sentenciado a morrer na forca após ter questionado o domínio clerical na república islâmica. "A execução de Aghajari é a execução da universidade!", gritavam os manifestantes. "Os prisioneiros políticos devem ser libertados!"
A onda de protestos parece estar crescendo. A cada dia, mais estudantes se reúnem na capital, e algumas manifestações já foram feitas nas cidades de Tabriz, Isfahan, Urumiyeh e Hamedan.
O líder supremo e comandante das Forças Armadas do Irã, aiatolá Ali Khamenei, fez uma advertência velada na segunda-feira de que poderia usar a força se o Parlamento, o governo do presidente reformista Mohammad Khatami e o Judiciário não conseguirem acertar as suas diferenças.
Usando um termo comumente utilizado para descrever as Guardas Revolucionárias e outras milícias linha-dura. Khamenei declarou: "No dia em que os três Poderes não forem capazes de acertar seus principais problemas, a liderança usará, se achar necessário, as forças populares para intervir".
"Espero que isso nunca aconteça", acrescentou Khamenei.
Os protestos de ontem foram semelhantes às marchas anteriores, nas quais os estudantes carregaram fotos de Aghajari e cantaram slogans pedindo a renúncia de Mahmoud Hashemi Shahroudi, chefe do Judiciário do país.
Num sinal de frustração com os frequentes obstáculos enfrentados na luta pela democratização e pelo enfraquecimento do poder dos religiosos conservadores, os estudantes também pediram a renúncia do presidente Khatami, líder do movimento reformista.
Aghajari foi condenado na semana passada por uma corte fechada da cidade de Hamedan, acusado de insultar o profeta Muhammad. O julgamento ocorreu após ele ter convocado o público a não seguir cegamente as determinações dos líderes religiosos.
As tensões políticas entre reformistas e conservadores cresceram nos últimos dias com a aprovação no Parlamento de duas leis. Elas limitam os poderes do Judiciário e do Conselho dos Guardiães - principais órgãos utilizados pelo clero para conter o ritmo das mudanças que ameaçam o seu domínio sobre assuntos de Estado.
As prisões de jornalistas e intelectuais seriam uma reação conservadora às manobras de parlamentares ligados a Khatami.


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