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PALESTINA ÓRFÃ
Desejo de palestinos é que o túmulo só abrigue corpo de Arafat até um Estado palestino ser criado; restos seriam então levados a Jerusalém
Tumba é feita para parecer transitória
DO ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH
Mais espartano, impossível. Se
a Autoridade Nacional Palestina
queria dar ao túmulo de Iasser
Arafat um caráter de efemeridade, transformá-lo no símbolo do
dia em que o solo de uma Jerusalém capital irá receber o corpo do
líder morto, conseguiu.
Em um tempo impressionante,
menos de 48 horas, a tumba simples foi construída. Levantaram-se paredes de cerca de um metro,
que foram encimadas por placas
de mármore cinzento. À volta, foi
criado um morro com terra remexida. No centro, um buraco retangular para a colocação do caixão.
Ontem não foi possível ver se o
caixão de Arafat, que foi levado
fechado, estava aberto para o contato com a terra na hora em que
desceu, conforme a tradição muçulmana. Isso porque flores, uma
bandeira palestina e um kaffieh
(pano quadriculado típico palestino, que Arafat costumava usar
enrolado na cabeça) o cobriam.
Conforme havia sido planejado,
os guarda-costas de Arafat e religiosos cobriram o caixão com terra trazida do solo próximo à mesquita da Al Aqsa, ponto sagrado
do islamismo em Jerusalém que
representa em praticamente todos os símbolos oficiais palestinos o desejo de ter a cidade como
capital de um futuro Estado. Israel, que anexou a parte oriental
da cidade em 1967, a considera
sua capital indivisível.
Os sacos de terra, jogados atrás
do local da tumba, viraram suvenires para alguns dos presentes.
"É sagrado, é nossa terra", disse
um deles, que não foi identificado
antes de ser levado pela turba.
Foi praticamente impossível subir na tumba até cerca de 16h,
quando o sol começou a baixar e a
multidão, a ir embora. Em volta
do espaço do caixão, sobre a terra,
os guarda-costas mais próximos
de Arafat e religiosos permaneceram orando até a noite.
Árvores
O local da tumba, virado para a
cidade muçulmana sagrada de
Meca, foi escolhido pela cúpula da
ANP na terça-feira. Fica no canto
do pátio principal da Muqata que
possui as únicas seis árvores do
complexo que sobreviveram ao
sítio israelense de 2001 e o posterior confinamento de Arafat.
As árvores, pinheiros típicos da
região e diferentes no aspecto das
araucárias ou dos seus similares
europeus (a tradicional "árvore
de Natal"), foram escaladas por
jovens com bandeiras palestinas.
De tempos em tempos, uma pinha caía na cabeça dos soldados
abaixo, gerando protestos e
ameaça de punição, mas nada semelhante ao risco que eles correram com a quantidade de tiros
dados para o alto.
(IGOR GIELOW)
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