São Paulo, sábado, 13 de novembro de 2004

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PALESTINA ÓRFÃ

Desejo de palestinos é que o túmulo só abrigue corpo de Arafat até um Estado palestino ser criado; restos seriam então levados a Jerusalém

Tumba é feita para parecer transitória

DO ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH

Mais espartano, impossível. Se a Autoridade Nacional Palestina queria dar ao túmulo de Iasser Arafat um caráter de efemeridade, transformá-lo no símbolo do dia em que o solo de uma Jerusalém capital irá receber o corpo do líder morto, conseguiu.
Em um tempo impressionante, menos de 48 horas, a tumba simples foi construída. Levantaram-se paredes de cerca de um metro, que foram encimadas por placas de mármore cinzento. À volta, foi criado um morro com terra remexida. No centro, um buraco retangular para a colocação do caixão.
Ontem não foi possível ver se o caixão de Arafat, que foi levado fechado, estava aberto para o contato com a terra na hora em que desceu, conforme a tradição muçulmana. Isso porque flores, uma bandeira palestina e um kaffieh (pano quadriculado típico palestino, que Arafat costumava usar enrolado na cabeça) o cobriam.
Conforme havia sido planejado, os guarda-costas de Arafat e religiosos cobriram o caixão com terra trazida do solo próximo à mesquita da Al Aqsa, ponto sagrado do islamismo em Jerusalém que representa em praticamente todos os símbolos oficiais palestinos o desejo de ter a cidade como capital de um futuro Estado. Israel, que anexou a parte oriental da cidade em 1967, a considera sua capital indivisível.
Os sacos de terra, jogados atrás do local da tumba, viraram suvenires para alguns dos presentes. "É sagrado, é nossa terra", disse um deles, que não foi identificado antes de ser levado pela turba.
Foi praticamente impossível subir na tumba até cerca de 16h, quando o sol começou a baixar e a multidão, a ir embora. Em volta do espaço do caixão, sobre a terra, os guarda-costas mais próximos de Arafat e religiosos permaneceram orando até a noite.

Árvores
O local da tumba, virado para a cidade muçulmana sagrada de Meca, foi escolhido pela cúpula da ANP na terça-feira. Fica no canto do pátio principal da Muqata que possui as únicas seis árvores do complexo que sobreviveram ao sítio israelense de 2001 e o posterior confinamento de Arafat.
As árvores, pinheiros típicos da região e diferentes no aspecto das araucárias ou dos seus similares europeus (a tradicional "árvore de Natal"), foram escaladas por jovens com bandeiras palestinas. De tempos em tempos, uma pinha caía na cabeça dos soldados abaixo, gerando protestos e ameaça de punição, mas nada semelhante ao risco que eles correram com a quantidade de tiros dados para o alto. (IGOR GIELOW)


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