São Paulo, sábado, 13 de novembro de 2004

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PALESTINA ÓRFÃ

Ditador sírio e representantes do Kuait e da Arábia Saudita assistem à cerimônia

Funeral no Cairo reúne até antigos desafetos

ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL AO CAIRO

Representantes de mais de 50 países se reuniram ontem no Cairo para se despedir de Iasser Arafat, em um funeral marcado pela sobriedade e pela total falta de participação popular -a cerimônia foi fechada ao público. Entre os participantes, estiveram presentes reis, presidentes e ministros, principalmente árabes.
Cercada por um fortíssimo esquema de segurança, a mesquita al-Galaa, localizada dentro de uma base aérea militar, próxima ao Aeroporto Internacional do Cairo, foi o palco do funeral. Para chegar lá era preciso passar por mais de dez barreiras militares.
Depois de breves orações feitas pelo clérigo Mohammed Sayed Tantawi, principal imã egípcio e responsável pela importante mesquita de al-Azhar, o caixão de Arafat foi envolvido em uma bandeira palestina.
Depois, deu-se um cortejo militar por mais de um quilômetro, puxado por Hosni Mubarak, presidente do Egito, Farouk Kaddoumi, recém-apontado líder do Fatah (grupo de Arafat), e Mahmoud Abbas, chefe do comitê executivo da OLP (Organização para Libertação da Palestina).
Uma carruagem com seis cavalos negros levou o caixão até o local onde este seria embarcado em um avião da Força Aérea. Antes disso, foi executado o hino palestino seguido pelo egípcio.
Suha, viúva de Arafat, e a filha do casal, Zahwa, 9, acompanharam emocionadas a cerimônia, que durou cerca de 30 minutos.
O funeral reuniu os principais líderes dos países árabes. Até a Arábia Saudita e o Kuait, que tiveram problemas com Arafat quando este apoiou o então ditador Saddam Hussein na invasão iraquiana do Kuait (1990), enviaram representantes. O ditador da Síria, Bahar al Assad, cujo pai, Hafez Assad (ditador sírio de 1971 a 2000, ano em que morreu), também tinha uma relação complicada com o líder palestino, foi outro que surpreendeu ao comparecer.
Além dos árabes, estiveram presentes representantes europeus, como os ministros das Relações Exteriores Jack Straw (Reino Unido), Michel Barnier (França) e Joschka Fischer (Alemanha).
O governo norte-americano, que considerava Arafat um obstáculo para a paz no Oriente Médio, enviou ao funeral o secretário-assistente de Estado, William Burns. "É um momento no qual os EUA tentarão fazer tudo para apoiar os palestinos conforme eles se organizem para as eleições", disse Burns à agência Reuters. Israel não foi representado na cerimônia.
Segundo Terje Roed-Larsen, enviado da ONU ao funeral, Arafat foi "líder revolucionário" e "promotor da paz". Mas Roed-Larsen também fez críticas: "Há dúvidas sobre seu desempenho como líder da Autoridade Nacional Palestina nos últimos anos".
As declarações resumem bem o caráter polêmico da atuação de Arafat para políticos e especialistas. Mas, entre os árabes, Arafat ainda conta com admiração.
"Hero", dizia, em um inglês quase ininteligível, o atendente de um bar, apontando para a tela da tevê que exibia imagens de Arafat.
Pouco depois, o herói era velado, mas muito longe da população que foi proibida de acompanhar a cerimônia. Um dos temores do governo era a possível ocorrência de protestos violentos.


Com agências internacionais


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