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PALESTINA ÓRFÃ
Ditador sírio e representantes do Kuait e da Arábia Saudita assistem à cerimônia
Funeral no Cairo reúne até antigos desafetos
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL AO CAIRO
Representantes de mais de 50
países se reuniram ontem no Cairo para se despedir de Iasser Arafat, em um funeral marcado pela
sobriedade e pela total falta de
participação popular -a cerimônia foi fechada ao público. Entre
os participantes, estiveram presentes reis, presidentes e ministros, principalmente árabes.
Cercada por um fortíssimo esquema de segurança, a mesquita
al-Galaa, localizada dentro de
uma base aérea militar, próxima
ao Aeroporto Internacional do
Cairo, foi o palco do funeral. Para
chegar lá era preciso passar por
mais de dez barreiras militares.
Depois de breves orações feitas
pelo clérigo Mohammed Sayed
Tantawi, principal imã egípcio e
responsável pela importante mesquita de al-Azhar, o caixão de
Arafat foi envolvido em uma bandeira palestina.
Depois, deu-se um cortejo militar por mais de um quilômetro,
puxado por Hosni Mubarak, presidente do Egito, Farouk Kaddoumi, recém-apontado líder do Fatah (grupo de Arafat), e Mahmoud Abbas, chefe do comitê
executivo da OLP (Organização
para Libertação da Palestina).
Uma carruagem com seis cavalos negros levou o caixão até o local onde este seria embarcado em
um avião da Força Aérea. Antes
disso, foi executado o hino palestino seguido pelo egípcio.
Suha, viúva de Arafat, e a filha
do casal, Zahwa, 9, acompanharam emocionadas a cerimônia,
que durou cerca de 30 minutos.
O funeral reuniu os principais
líderes dos países árabes. Até a
Arábia Saudita e o Kuait, que tiveram problemas com Arafat quando este apoiou o então ditador
Saddam Hussein na invasão iraquiana do Kuait (1990), enviaram
representantes. O ditador da Síria,
Bahar al Assad, cujo pai, Hafez
Assad (ditador sírio de 1971 a
2000, ano em que morreu), também tinha uma relação complicada com o líder palestino, foi outro
que surpreendeu ao comparecer.
Além dos árabes, estiveram presentes representantes europeus,
como os ministros das Relações
Exteriores Jack Straw (Reino Unido), Michel Barnier (França) e
Joschka Fischer (Alemanha).
O governo norte-americano,
que considerava Arafat um obstáculo para a paz no Oriente Médio,
enviou ao funeral o secretário-assistente de Estado, William
Burns. "É um momento no qual
os EUA tentarão fazer tudo para
apoiar os palestinos conforme
eles se organizem para as eleições", disse Burns à agência Reuters. Israel não foi representado
na cerimônia.
Segundo Terje Roed-Larsen,
enviado da ONU ao funeral, Arafat foi "líder revolucionário" e
"promotor da paz". Mas Roed-Larsen também fez críticas: "Há
dúvidas sobre seu desempenho
como líder da Autoridade Nacional Palestina nos últimos anos".
As declarações resumem bem o
caráter polêmico da atuação de
Arafat para políticos e especialistas. Mas, entre os árabes, Arafat
ainda conta com admiração.
"Hero", dizia, em um inglês
quase ininteligível, o atendente de
um bar, apontando para a tela da
tevê que exibia imagens de Arafat.
Pouco depois, o herói era velado, mas muito longe da população que foi proibida de acompanhar a cerimônia. Um dos temores do governo era a possível
ocorrência de protestos violentos.
Com agências internacionais
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