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PALESTINA ÓRFÃ
Palestinos aproveitam presença de interlocutores de alto escalão para lamentarem a interrupção das negociações com Israel
Funeral se transforma em ato político
DA ENVIADA ESPECIAL AO CAIRO
Os funerais de Iasser Arafat foram sobretudo um acontecimento político do qual os palestinos
procuraram muito discretamente
tirar proveito. Eram beneficiados
pelo luto e pelo histórico das frustrações do dirigente morto nas
imediações de Paris.
Discussões tanto entre líderes
de países muçulmanos quanto
destes com representantes de governos europeus, depois do velório no Cairo, revelavam preocupações e dúvidas sobre o futuro
da unidade entre palestinos e das
negociações de paz com Israel.
Os europeus não estavam pessimistas. O ministro francês das Relações Exteriores, Michel Barnier,
e o espanhol, Miguel Angel Morantinos, antigo representante da
União Européia no Oriente Médio, estavam entre os que acreditavam que a morte de Arafat poderia ter como efeito fazer renascer as negociações de paz entre
palestinos e israelenses.
O assunto era abordado de modo discreto. Seria indelicado qualificar Arafat de obstáculo. Mas
era praticamente consensual entre os europeus que a partir de
agora Israel teria mais dificuldades em rejeitar seus interlocutores
palestinos.
A Folha conseguiu presenciar
uma rápida conversa entre Farouk Kaddoumi, líder palestino
que, com a morte de Arafat, assumiu a chefia do movimento Fatah, e o ministro das relações exteriores da Ucrânia, Kostyantyn
Gryshchenko. Ambos dialogaram num dos salões do Hotel Sheraton, localizado próximo ao aeroporto do Cairo, e onde as delegações estrangeiras se reuniram
ou foram hospedadas.
Depois de ouvir condolências e
uma mensagem de apoio de
Gryshchenko, Kaddoumi, considerado um político de linha dura,
começou falando de Arafat, mas
acabou fazendo praticamente um
discurso contra Israel, pontuado
por críticas aos Estados Unidos.
"Foi uma grande perda para a
Palestina. Arafat foi nosso líder
por mais de 40 anos", disse Kaddoumi, que falava baixo e parecia
estar consternado.
Ele em seguida se referiu às tentativas fracassadas de negociações
com Israel. Afirmou que as lideranças palestinas aceitaram o plano de paz, chamado "road map"
(mapa da estrada) proposto em
2003 por países como Estados
Unidos e Reino Unido e pela
ONU. Em seguida, disse que Israel boicotou o plano, não cumprindo as regras de não-ataque.
"Israel vem usando artilharia
pesada para matar palestinos",
afirmou Kaddoumi. Ele disse
também que os líderes palestinos
"têm dúvidas se Israel quer um
cessar-fogo". Ele ressaltou ainda
que os recentes esforços do processo de paz começaram a andar
para trás depois de um encontro
entre o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, e o presidente
norte-americano, George W.
Bush, em abril passado. "Depois
disso, tudo ficou congelado", disse Kaddoumi.
Ele também criticou os Estados
Unidos, que não mais estariam
empenhados na questão palestina, em parte, porque elegeram o
Iraque como foco de ação. "Os
EUA já queriam invadir o Iraque.
Estavam determinados a isso",
disse ele a Gryshchenko.
Outros membros de governos
árabes também criticavam Israel
e os Estados Unidos, depois dos
funerais de Arafat.
O ministro da Educação Superior da Somália, Zakaria Abdi,
disse que era lamentável o fato de
o governo norte-americano não
ter enviado uma delegação de
maior prestígio protocolar.
(ÉRICA FRAGA)
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