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AMÉRICA LATINA
Para ex-diretor da petrolífera PDVSA, crise ameaça papel do país como provedor confiável de petróleo
"Venezuela está diante do colapso total"
J. J. AZNÁREZ
DO "EL PAÍS", EM CARACAS
O economista José Toro Hardy,
diretor-geral da gigante estatal
Petróleos de Venezuela S.A.
(PDVSA) durante os anos 90, afirma que, sendo real o perigo de
uma guerra com o Iraque, a instabilidade que marca a Venezuela
durante a Presidência de Hugo
Chávez e as políticas adotadas por
ele colocam em risco a situação
histórica da Venezuela de fornecedora segura de petróleo no caso
de falhas no fornecimento do golfo Pérsico.
"Os Estados Unidos e o mundo
ocidental devem estar convencidos disso", declarou em entrevista a "El País".
Toro Hardy, acadêmico do Instituto de Altos Estudos da Defesa
Nacional e autor do livro "Petróleo, Venezuela e Golfo Pérsico",
entre outros, garante que, devido
às características da PDVSA, com
um quadro de 40 mil empregados
e frotas próprias, o presidente não
poderá pôr fim à greve dos petroleiros que reivindicam sua saída
do poder. "Estamos diante da
possibilidade do colapso total",
ele adverte.
Pergunta - Por que a Venezuela,
sob a Presidência de Chávez, não é
uma fornecedora segura? O país
sempre cumpriu seus compromissos com os EUA e seus clientes internacionais.
José Toro Hardy - Mas, em razão
de seu governo, houve duas grandes greves no setor de petróleo
nos últimos sete ou oito meses. A
gestão de Chávez tem sido desastrosa, politizada.
Se houvesse sido levada adiante
a abertura petrolífera que propúnhamos a partir de 1991, com um
investimento de US$ 65 bilhões, a
Venezuela estaria produzindo,
hoje, 4 milhões de barris por dia.
Em vez disso, está produzindo
cerca de 2,8 milhões, porque o
presidente Chávez interrompeu
aquela abertura.
Pergunta - Quais podem ser as
consequências internacionais da
greve?
Toro Hardy - No passado foram
vistas crises muito agudas resultantes de situações que se produziam nos países islâmicos produtores de petróleo, especialmente
no golfo Pérsico. A cada vez que
isso acontecia, os mercados internacionais olhavam para a Venezuela, e a Venezuela aumentava
sua produção e ajudava a suprir
as carências energéticas de um
mundo que precisava de petróleo.
Pergunta - A Venezuela era um
país seguro.
Toro Hardy - É verdade. É a primeira vez que uma crise do petróleo tem origem na Venezuela. É a
maior crise petrolífera da história
da Venezuela, e muito provavelmente da história do hemisfério
Ocidental. Ela coincide com um
possível ataque dos EUA ao Iraque.
Ninguém sabe que efeitos o
eventual ataque pode exercer
dentro do mundo islâmico. Ele
pode se traduzir, é óbvio, na desestabilização do fornecimento
vindo do Golfo, como já aconteceu em várias ocasiões, e o mundo
ocidental precisa que a Venezuela
recupere sua posição de fornecedor petrolífero seguro e confiável.
Pergunta - Podemos imaginar
que os EUA não estejam vendo com
bons olhos uma greve do setor petrolífero, nas circunstâncias atuais.
Toro Hardy - Até poucos meses
atrás, muitas pessoas pensavam
que os EUA e outros países ocidentais não desejassem nenhuma
situação de conflito na Venezuela
devido à ameaça que ela poderia
representar a seu abastecimento
de petróleo. Hoje, porém, esses
países devem estar convencidos
de que a maior ameaça que existe
à posição da Venezuela como fornecedora segura e confiável é o
seu presidente.
Pergunta - De que maneira a
PDVSA pode contribuir para a derrocada da economia nacional?
Toro Hardy - Uma parte muito
grande do país está vinculada ao
petróleo. Na zona oriental, a produção caiu de cerca de 1,3 milhão
de barris por dia para 350 mil. Na
faixa ocidental, foi fechado o
complexo de refinarias de Paraguaná, o maior do mundo, que
processa mais de 900 mil barris de
petróleo por dia, e depois se determinou a interrupção de toda a
produção de petróleo e gás.
Pergunta - Quais são as consequências?
Toro Hardy - A suspensão da
produção petrolífera significa a
suspensão conjunta da produção
do gás derivado.
Quando se deixa de produzir
petróleo, as refinarias param de
funcionar, e a gasolina deixa de
ser fabricada. Quando se suspende a produção de gás, isso significa a suspensão de funcionamento
de todo o complexo petroquímico e siderúrgico e das empresas
básicas. Também é paralisada a
distribuição do óleo diesel -logo, dos transportes pesados. Os
efeitos são devastadores.
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