São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMÉRICA LATINA

Para ex-diretor da petrolífera PDVSA, crise ameaça papel do país como provedor confiável de petróleo

"Venezuela está diante do colapso total"

J. J. AZNÁREZ
DO "EL PAÍS", EM CARACAS

O economista José Toro Hardy, diretor-geral da gigante estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) durante os anos 90, afirma que, sendo real o perigo de uma guerra com o Iraque, a instabilidade que marca a Venezuela durante a Presidência de Hugo Chávez e as políticas adotadas por ele colocam em risco a situação histórica da Venezuela de fornecedora segura de petróleo no caso de falhas no fornecimento do golfo Pérsico.
"Os Estados Unidos e o mundo ocidental devem estar convencidos disso", declarou em entrevista a "El País".
Toro Hardy, acadêmico do Instituto de Altos Estudos da Defesa Nacional e autor do livro "Petróleo, Venezuela e Golfo Pérsico", entre outros, garante que, devido às características da PDVSA, com um quadro de 40 mil empregados e frotas próprias, o presidente não poderá pôr fim à greve dos petroleiros que reivindicam sua saída do poder. "Estamos diante da possibilidade do colapso total", ele adverte.

Pergunta - Por que a Venezuela, sob a Presidência de Chávez, não é uma fornecedora segura? O país sempre cumpriu seus compromissos com os EUA e seus clientes internacionais.
José Toro Hardy -
Mas, em razão de seu governo, houve duas grandes greves no setor de petróleo nos últimos sete ou oito meses. A gestão de Chávez tem sido desastrosa, politizada.
Se houvesse sido levada adiante a abertura petrolífera que propúnhamos a partir de 1991, com um investimento de US$ 65 bilhões, a Venezuela estaria produzindo, hoje, 4 milhões de barris por dia. Em vez disso, está produzindo cerca de 2,8 milhões, porque o presidente Chávez interrompeu aquela abertura.

Pergunta - Quais podem ser as consequências internacionais da greve?
Toro Hardy -
No passado foram vistas crises muito agudas resultantes de situações que se produziam nos países islâmicos produtores de petróleo, especialmente no golfo Pérsico. A cada vez que isso acontecia, os mercados internacionais olhavam para a Venezuela, e a Venezuela aumentava sua produção e ajudava a suprir as carências energéticas de um mundo que precisava de petróleo.

Pergunta - A Venezuela era um país seguro.
Toro Hardy -
É verdade. É a primeira vez que uma crise do petróleo tem origem na Venezuela. É a maior crise petrolífera da história da Venezuela, e muito provavelmente da história do hemisfério Ocidental. Ela coincide com um possível ataque dos EUA ao Iraque.
Ninguém sabe que efeitos o eventual ataque pode exercer dentro do mundo islâmico. Ele pode se traduzir, é óbvio, na desestabilização do fornecimento vindo do Golfo, como já aconteceu em várias ocasiões, e o mundo ocidental precisa que a Venezuela recupere sua posição de fornecedor petrolífero seguro e confiável.

Pergunta - Podemos imaginar que os EUA não estejam vendo com bons olhos uma greve do setor petrolífero, nas circunstâncias atuais.
Toro Hardy -
Até poucos meses atrás, muitas pessoas pensavam que os EUA e outros países ocidentais não desejassem nenhuma situação de conflito na Venezuela devido à ameaça que ela poderia representar a seu abastecimento de petróleo. Hoje, porém, esses países devem estar convencidos de que a maior ameaça que existe à posição da Venezuela como fornecedora segura e confiável é o seu presidente.

Pergunta - De que maneira a PDVSA pode contribuir para a derrocada da economia nacional?
Toro Hardy -
Uma parte muito grande do país está vinculada ao petróleo. Na zona oriental, a produção caiu de cerca de 1,3 milhão de barris por dia para 350 mil. Na faixa ocidental, foi fechado o complexo de refinarias de Paraguaná, o maior do mundo, que processa mais de 900 mil barris de petróleo por dia, e depois se determinou a interrupção de toda a produção de petróleo e gás.

Pergunta - Quais são as consequências?
Toro Hardy -
A suspensão da produção petrolífera significa a suspensão conjunta da produção do gás derivado.
Quando se deixa de produzir petróleo, as refinarias param de funcionar, e a gasolina deixa de ser fabricada. Quando se suspende a produção de gás, isso significa a suspensão de funcionamento de todo o complexo petroquímico e siderúrgico e das empresas básicas. Também é paralisada a distribuição do óleo diesel -logo, dos transportes pesados. Os efeitos são devastadores.


Texto Anterior: Ato em SP apóia Chávez e ataca "elite"
Próximo Texto: Iraque na mira: Powell defende democracia no Oriente Médio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.