São Paulo, segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Vazamentos mostram que os interesses superam princípios

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Os telegramas divulgados pelo site WikiLeaks confirmam que a prática da diplomacia dos EUA é muito mais realista que o discurso principista que o país prefere usar em fóruns internacionais.
Mostram que em várias ocasiões houve distância entre análises do Departamento do Estado e políticas adotadas sob a pressão do Congresso e de lobbies internos.
O pragmatismo é claro na relação com o governo brasileiro, encarado como mediador conveniente com os vizinhos sul-americanos apesar de suposto "antiamericanismo", e se estende à Colômbia, maior aliado na região.
Os telegramas revelaram, por exemplo, que em 2009 um conselheiro da embaixada em Bogotá se reuniu com emissário de Pablo Catatumbo, chefe do bloco ocidental das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) -formalmente designadas como "narcoterroristas".
O emissário, segundo o despacho, era também pragmático: disse que travar relação com a embaixada seria "útil no futuro", pois os EUA teriam "participação chave" em eventual processo de paz.
Em relação a Mianmar, as mensagens mostram colaboração constante com a China, apesar de os países adotarem posições distintas quando se trata de condenar publicamente a ditadura.
Os chineses, dizem os americanos, também mostram impaciência com a falta de concessões da junta militar de Mianmar, embora insistam em que as sanções ao país não fazem efeito.
A opinião não é desinteressada: a China investe no país e vê em seus portos uma via alternativa ao estreito de Málaca, entre Malásia e Cingapura, principal rota entre o Pacífico e o Índico.
Mas os diplomatas dos EUA concordaram. "Nossas sanções nos dão superioridade moral, mas são ineficazes porque não são amplas. Os principais clientes de Mianmar se recusam a participar."
No caso de Honduras, ficou clara a diferença entre a análise da embaixada, que disse não ter dúvidas de que ocorrera um golpe contra o presidente Manuel Zelaya, e a posição conciliatória adotada em relação aos golpistas, devido à ação de conservadores em Washington.
Em outros casos, o jogo da diplomacia dos EUA se mostrou mais pesado, longe da pregação de respeito ao Estado de Direito. Em 2007, houve pressão pesada para a Justiça alemã não emitir ordens de prisão contra agentes da CIA acusados do sequestro de Khaled al Masri, suspeito erroneamente de terrorismo.


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