São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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Americanos encontram resistências na ONU

JULIA PRESTON
DO "THE NEW YORK TIMES"

Ao mesmo tempo em que os EUA tentam apressar a discussão da questão do Iraque na ONU, outros membros do Conselho de Segurança (CS) querem mais tempo para debater a questão.
Interpretações divergentes do cronograma e dos procedimentos detalhados na resolução 1441 vinham fervilhando desde sua adoção unânime, em 8 de novembro, que levou ao início da nova rodada de inspeções de armas no Iraque. Agora essas divergências vieram à tona: os EUA deixaram claro que querem julgar os resultados das inspeções num prazo muito menor do que o pedido pelos outros membros do CS, composto por 15 países, cinco deles permanentes e com direito a veto -EUA, Reino Unido, China, Rússia e França.
A discussão gira em torno da importância de um relatório amplo que os chefes dos inspetores de armas, Hans Blix e Mohamed El Baradei, vão entregar ao CS em 27 de janeiro, conforme o previsto na resolução. Membros da administração Bush disseram que esse pode ser um momento definidor. Eles estão dizendo que é possível interpretar a resolução como exigindo que, até 27 de janeiro, o Iraque mostre que está cooperando plenamente com as inspeções.
Outros membros do CS prevêem um prazo consideravelmente maior. Diplomatas de França e Rússia afirmam que a resolução não contém nenhum prazo final para que Bagdá coopere.
Muitos membros querem dar mais tempo para a diplomacia no Iraque porque a opinião pública em seus países está ficando mais cética em relação à necessidade real de guerra. Os sinais onipresentes de preparativos militares acelerados dos EUA estão formando o contexto da discussão.
Vários diplomatas do CS queixaram-se de que a escolha do momento em que será tomada uma decisão tão cheia de consequências quanto a autorização da guerra não deve ser feita unicamente com base no perigo que o calor abrasador do verão iraquiano representa para as tropas americanas, fator que é importante nos cálculos do Pentágono.
Depois que Blix e El Baradei fizeram um relato ao CS, na quinta, sobre as primeiras seis semanas de trabalho dos inspetores de armas, autoridades americanas apontaram para as críticas formuladas pelos inspetores à declaração de armas do Iraque como provas de que Bagdá teria violado gravemente a resolução 1441. A resolução diz que qualquer omissão ou afirmação falsa na declaração de armas constituirá uma desobediência grave da resolução.
Mas o Reino Unido, o mais fiel aliado dos EUA, mudou surpreendentemente de posição, afirmando que, enquanto os inspetores estiverem no Iraque, há poucas chances de que Bagdá possa construir armas secretas.
O presidente francês, Jacques Chirac, um dos principais autores da resolução 1441, voltou a repetir seu refrão de que o CS só poderá autorizar a guerra "quando todas as outras opções tiverem sido esgotadas". Ele disse que a França vai resistir a qualquer tentativa dos EUA de liderar a guerra por conta própria. Pesquisa no diário francês "Le Figaro" mostrou que 77% dos entrevistados se opõem à possibilidade de guerra.
Já a Rússia disse que não prevê data para o fim das inspeções.
O problema principal para a administração Bush é que a maioria no CS ainda não está convencida de que Saddam esteja escondendo armas que representam ameaça iminente. Na semana passada os inspetores disseram não ter encontrado nada desse tipo, e os EUA não revelaram nenhuma evidência espetacular a eles.


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