São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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VENEZUELA

Opositores pedem aos EUA que excluam o país de eventual "grupo de países amigos"; Itamaraty diz que decisão cabe à OEA

Oposição quer Brasil fora de negociação

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Dois líderes da oposição ao presidente Hugo Chávez pediram ontem aos EUA para excluírem o Brasil de qualquer grupo de países organizado pelo governo americano para ajudar a romper o impasse político na Venezuela.
Os EUA disseram que ainda é cedo para definir os participantes desse grupo, numa indicação clara de que o Brasil não faz necessariamente parte da estratégia americana para solucionar a crise.
Em resposta, o Itamaraty informou que cabe ao secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos),César Gaviria, escolher os países que devem integrar o grupo de apoio e não a um dos lados das disputa pelo poder na Venezuela. Para o Itamaraty, as declarações dos opositores "é uma surpresa".
Estão em Washington Carlos Ortega, presidente da CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela), e o deputado Timoteo Zambrano, um dos líderes da Coordenação Democrática, união de grupos de oposição a Chávez.
Em entrevista à imprensa antes de um encontro com funcionários do Departamento de Estado, Zambrano e Ortega disseram que o Brasil e a Colômbia devem ser excluídos do grupo porque fazem fronteira com a Venezuela e, portanto, teriam "interesses geopolíticos que poderiam complicar as decisões que precisam ser feitas."
Indagado sobre o assunto, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, disse que os EUA "ainda não tentaram definir os países que fariam parte desse grupo de amigos da Venezuela em apoio a Gaviria".
A resposta vaga de Boucher indica que a relação entre os governos brasileiro e americano não anda tão próspera quanto sugerem alguns diplomatas de ambos os países.
Porém o porta-voz da Presidência do Brasil, André Singer, negou a existência de qualquer disputa entre o Brasil e os EUA.
A idéia da formação de um grupo de amigos da Venezuela foi inicialmente solicitada em dezembro passado por Chávez ao enviado do presidente Lula a Caracas, Marco Aurélio Garcia.
Na sexta-feira, os EUA se apropriaram da idéia ao decidirem intervir nas negociações para solucionar a crise política na Venezuela. Anunciaram, como se fosse dos EUA, a idéia de se formar um "grupo de amigos da Venezuela".

Volta ao trabalho
Líderes da oposição disseram ontem estar considerando pedir a médicos, professores e pequenos comerciantes que retornem ao trabalho. Eles dizem estar preocupados com as consequências para a população da greve geral iniciada no dia 2 de dezembro.
Dois líderes da Coordenação Democrática admitiram que a paralisação pode estar prejudicando os setores de saúde, educação e alimentação. Muitas escolas não reabriram na semana passada, como programado, enquanto funcionários de hospitais que apóiam a greve estão atendendo somente a emergências.
Segundo Enrique Naime, dirigente do grupo opositor, os líderes da paralisação, convocada para pressionar Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato, estão discutindo a possibilidade de pedir aos pequenos comerciantes que voltem a trabalhar, porque muitos deles não podem mais sustentar as perdas com a greve.
William Davila, outro líder da Coordenação Democrática, disse que a indústria alimentícia poderia voltar a funcionar.
Na semana passada, Chávez havia ameaçado tomar as fábricas de alimentos com militares para garantir o abastecimento.
Ao menos duas pessoas ficaram feridas ontem durante um confronto entre simpatizantes de Chávez e membros do partido opositor Copei (social-cristão), que comemorava seu 57º aniversário no centro de Caracas. .


Colaborou Sucursal Brasília e agências internacionais


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