São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

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REINO UNIDO

Médico cumpria prisão perpétua por ter matado 15 pacientes; investigação posterior concluiu que foram 215 vítimas

"Dr. Morte" britânico se suicida na prisão

Polícia de Manchester/Associated Press
O médico Harold Shipman


ROBERT BARR
DA ASSOCIATED PRESS, EM LONDRES

Um médico de família britânico que fora condenado pela morte de 15 pacientes e era suspeito de ter matado outros 200 ou mais foi encontrado morto ontem em sua cela na prisão de Wakefield, no norte da Inglaterra.
Harold Shipman, 57, trabalhava em Hyde, um subúrbio de Manchester, e fazia suas vítimas principalmente entre mulheres de meia-idade e idosas, matando-as com drogas injetáveis.
Shipman foi condenado em 2000 pelo assassinato de 15 pacientes idosos e sentenciado à prisão perpétua. Uma juíza que investigou o caso declarou, mais tarde, que Shipman tinha assassinado pelo menos 200 outras pessoas desde 1975.

Enforcado
O médico, que continuou a declarar-se inocente, foi encontrado enforcado com lençóis amarrados às grades da janela de sua cela.
O ombudsman das prisões e sentenças condicionais, Stephen Shaw, vai investigar a morte do médico. Shaw disse que é impossível impedir todos os suicídios de presos. "O que preciso investigar é se, no caso de Shipman, houve algum indício anterior, alguma falha em termos dos procedimentos corretos."
A filha de uma das vítimas de Shipman lamentou o fato de o médico nunca ter admitido seus crimes. "Não lamento sua morte, mas isso traz tudo à tona novamente e reaviva as memórias para todos nós", disse Kathleen Wood, cuja mãe, Elizabeth Baddeley, foi assassinada por Shipman em 1997, quando tinha 83 anos.
A juíza Janet Smith, que investigou as atividades de Shipman depois da prisão do médico, concluiu em 2002 que ele matou 215 de seus pacientes (171 mulheres e 44 homens).
A motivação de Shipman nunca foi conhecida. Com a exceção de um caso, não houve evidências de que ele tivesse matado por dinheiro, e, segundo a juíza, "não houve sugestão alguma de depravação sexual". Em pelo menos um dos casos, porém, a vítima colocou Shipman como beneficiário em seu testamento.
Apelidado por alguns tablóides de "Dr. Morte", Shipman só se tornou alvo de suspeitas em março de 1998, quando outro médico, ao qual pedira que assinasse com ele alguns certificados de cremação, expressou preocupação diante do número de mortos. A polícia concluiu que não havia evidências suficientes para acusar o médico.
A investigação foi reaberta alguns meses mais tarde, quando uma mulher descobriu que sua mãe, de 81 anos, tinha aparentemente modificado seu testamento antes de morrer, deixando tudo o que possuía para Shipman. O corpo da mãe foi exumado e a investigação levou ao julgamento e à condenação do médico.
Um júri considerou que Harold Shipman injetara heroína propositalmente em 15 idosas -muitas delas com boa saúde- durante exames médicos de rotina.
Um segundo inquérito aberto no ano passado pela juíza Smith concluiu que Shipman não estaria livre para assassinar suas últimas três vítimas se a investigação policial inicial tivesse sido corretamente conduzida.

Tradução de Clara Allain


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