São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA

Texto é baseado em depoimentos do ex-secretário do Tesouro Paul O'Neill

Sai livro polêmico sobre governo Bush

DA REDAÇÃO

O retrato que o ex-secretário do Tesouro dos EUA Paul O'Neill faz de George W. Bush exibe um presidente passivo e superficial cercado por ideólogos de direita e a quem falta rigor intelectual ou mesmo a curiosidade para analisar os efeitos de suas políticas.
O'Neill, que ocupou o posto de janeiro de 2001 até ser despedido, em dezembro de 2002, virou manchete no último fim de semana ao afirmar que Bush começou a preparar a invasão do Iraque logo após tomar posse.
Em recordações de disputas internas do gabinete e de seus encontros privados com Bush, conforme relatado ao jornalista Ron Suskind, O'Neill fornece uma visão interna de uma administração com uma rotina sigilosa e detalhes de um presidente com prioridades algumas vezes incomuns.
O livro "O Preço da Lealdade", do qual O'Neill foi a fonte principal, foi lançado ontem.

Sanduíche atrasado
O'Neill diz que o tom de sua relação com Bush foi estabelecido na primeira reunião de trabalho.
Em vez de uma discussão minuciosa, Bush estava mais interessado em saber por que os hambúrgueres que ele havia pedido estavam demorando. Ele interrompeu a conversa com O'Neill e chamou seu chefe-de-gabinete, Andrew Card.
"Você é o chefe dos funcionários. Você acha que consegue nos trazer alguns hambúrgueres?", relata O'Neill. "Card acenou com a cabeça. Ninguém riu. Ele apenas saiu correndo da sala."
No primeiro encontro e em muitos outros, Bush não fez perguntas. "Ele olhava para O'Neill sem mudar sua expressão, não deixando transparecer nenhuma reação -positiva ou negativa", escreveu Suskind.
O'Neill afirmou que, com Bush não desejando ou sendo incapaz de ler resumos, a política era decidida e controlada pelo vice-presidente Dick Cheney, apoiado pelos conselheiros políticos Karl Rove e Karen Hughes e pela assessora de segurança, Condoleezza Rice.
Aos olhos de O'Neill, "a falta de curiosidade ou de experiência pertinente" fazia com que Bush não se importasse com tradicionais posições do governo norte-americano, estando disposto a abandoná-las sem escrúpulos.
As reuniões de gabinete tinham um roteiro prévio, e o resultado já era definido antes. Numa ocasião, quando houve uma discussão sobre política tributária, Bush rapidamente ficou "confuso", segundo o relato de O'Neill.
"Se o presidente não se conectasse no primeiro ou no segundo minuto, era uma causa perdida," conclui impiedosamente.
O Departamento do Tesouro pediu anteontem uma investigação para saber se um documento secreto foi divulgado por O'Neill durante uma entrevista a uma rede de TV. Ontem, o ex-secretário negou a acusação.


Texto Anterior: Reino Unido: "Dr. Morte" britânico se suicida na prisão
Próximo Texto: Artigo: A horrível verdade sobre Bush
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.